Aguinaldo Silva vive um momento de reencontros - escrever novelas, que é sua grande paixão; com o público; e com a Globo. Após um “divórcio” conturbado ocorrido em 2020, o autor e a emissora reataram o relacionamento e ele reestreia na casa oficialmente nesta segunda-feira (20/10) com “Três Graças”, nova novela das nove, que substitui o remake de “Vale Tudo” na grade da emissora.

Considerado um dos maiores novelistas do país e, atualmente, o único autor da “velha guarda” que está com um projeto inédito no ar, Aguinaldo é o criador de “Tieta” (1989), “Senhora do Destino” (2004) e “Império” (2014), folhetim com o qual ganhou o prêmio Emmy Internacional de melhor telenovela, além de co-autor da versão original de “Vale Tudo” (1988), todas exibidas pela Globo, numa parceria que durou mais de 40 anos. O rompimento, que veio após o fracasso e a onda de críticas a “O Sétimo Guardião” (2018/2019), chegou a ser classificado por ele como traumático. 

Aguinaldo, que disse que a sua demissão foi uma “questão mercadológica” - na época, a Globo começou a encerrar os contratos fixos de longo prazo com autores, diretores e atores -, sinalizou que qualquer mágoa ficou no passado. “A gente tem novelas que funcionaram maravilhosamente, e novelas que não funcionaram. Geralmente não funcionaram porque alguma coisa não deu certo e nós não percebemos a tempo. Mas para mim, o que vale não é a novela que passou, é a novela que vem. E a novela que vem é ‘Três Graças’”, afirmou.

A sinopse foi desenvolvida por Aguinaldo Silva quando já estava fora da Globo. Ele ofereceu a história para plataformas de streaming e também para a emissora da família Marinho, e novo acordo, agora por obra, foi assinado em 2024. A novela segue a história de três mulheres de uma mesma família, as três Graças, que engravidam na adolescência. Dira Paes interpreta Lígia das Graças, que teve a filha Gerluce aos 16 anos. Gerluce, vivida por Sophie Charlotte, também engravida quando jovem. A filha dela, Joélly, papel de Alana Cabral, passa pela mesma situação, e Gerluce decide romper o ciclo para garantir que a menina não abandone os sonhos para cuidar do bebê.

Os “três Silvas” de “Três Graças”
“Três Graças” é criada e escrita pelos “três Silvas” - Aguinaldo Silva, Virgílio Silva e Zé Dassilva. A direção artística é de Luiz Henrique Rios. O elenco também conta com nomes como Murilo Benício, Grazi Massafera, Romulo Estrela, Marcos Palmeira, Andréia Horta, Pedro Novaes, Miguel Falabella, Enrique Diaz, Juliano Cazarré, Belo, Xamã, Alanis Guillen, Mell Muzzillo, Samuel de Assis, Barbara Reis, Fernanda Vasconcellos, Carla Marins, Túlio Starling e Rejane Faria.

Segundo Aguinaldo, a inspiração para o enredo da história, que se passa em São Paulo, veio da vida real. “A gravidez na adolescência é uma situação comum nas grandes cidades, especialmente nas famílias mais carentes. Essas meninas engravidam muito cedo, geralmente os pais não assumem (a paternidade), e elas precisam amadurecer antes do tempo. Isso é uma história que tem um peso social grande”, explicou.

Com três protagonistas femininas no centro da narrativa, o autor disse que quis homenagear as mulheres comuns, muitas vezes invisíveis. “Eu quis homenagear essas mulheres anônimas com quem a gente cruza todos os dias, no metrô, no ônibus, nas ruas; que são importantes para a nossa vida, mas que a gente conhece tão pouco, e que são criaturas profundamente humanas, lutadoras, batalhadoras. Eu queria fazer um retrato dessas mulheres urbanas”, detalhou. 

Para Zé Dassilva, “Três Graças” reflete a vida de milhões de famílias chefiadas por mulheres no país. “São histórias de gente real, que enfrenta a luta diária para sobreviver e seguir em frente. A novela é uma forma de transformar essa realidade em ficção, sem perder a verdade”, analisou.

Já Virgílio Silva definiu o enredo como “um retrato da vida urbana, com suas durezas e afetos”. Ele destacou que o texto é direto e humano: “São pessoas que estão na batalha, cada uma com sua dor e com sua força. A gente quis mostrar essa luta sem romantizar, mas com emoção”.

Apesar da carga social do tema, Aguinaldo defende que “Três Graças” não é uma novela sombria. “As minhas personagens vivem em meio a carências, mas são pessoas felizes, para cima. Elas se recusam a renunciar ao direito à vida. É uma novela sobre gente que luta, mas que acredita que viver vale a pena”, destacou o novelista, que reforçou que o tom da trama é solar: “Não há lugar para tristeza. Há dificuldade, há preocupação, mas há alegria também. Essas mulheres representam o que há de mais forte e mais bonito na vida brasileira”.

Equilíbrio entre realidade e ficção
Aguinaldo fez questão de frisar que, embora parta de temas reais, a obra é uma história de ficção. “A novela não pode virar documentário, senão deixa de ser novela. Ela parte da realidade, mas precisa dos truques da arte para encantar o público. A pessoa tem que se divertir, se emocionar e pensar”, ressaltou. 

O diretor Luiz Henrique Rios reforça a ideia de equilíbrio entre crítica e entretenimento. “O Brasil é um país cheio de contrastes, e ‘Três Graças’ fala sobre isso com leveza. É uma novela sobre dilemas éticos, sobre quanto vale a vida e para quem ela vale, mas também é divertida e emocionante. O público vai rir, se envolver e se reconhecer nesses personagens”, garantiu.

Com 180 capítulos previstos, Aguinaldo Silva promete que “Três Graças” manterá o público atento do início ao fim. “A novela não dorme. Cada capítulo tem que ter um susto, algo que surpreenda. O espectador não pode dizer ‘hoje deu para o gasto’. A novela tem que pulsar todos os dias”, disse.

O novelista acrescentou que a relação com o público é essencial. “A novela é uma obra aberta. Se o público não gosta de algo, eu mudo. Já fiz isso muitas vezes. O telespectador é quem escreve a versão final da história”, observou ele. Luiz Henrique Rios completou: “Novela é entretenimento em larga escala. É a arte que conversa com milhões de pessoas ao mesmo tempo. A gente quer que o público chegue em casa, ligue a televisão e se emocione, se divirta, se reconheça”.