A vida de Angélica daria um filme. Na infância, traumatizada por um assalto sofrido pela família, recusava-se a sair de casa. Para superar o problema, foi inscrita no concurso para escolher a criança mais bonita do Brasil, promovido pelo programa de Chacrinha. Voltou para casa com o título.

Entre a adolescência e a fase adulta, ela rodou o Brasil por longos 16 anos, fazendo sucesso com a canção Vou de táxi. A saúde pôs fim à carreira de Angélica como cantora. Teve crise do pânico. Aos 28 anos, estressada, desistiu da música por não conseguir mais encarar o palco.

“Parei justamente por estar num momento muito louco. Dos 12 aos 28, eu não tinha Natal, Páscoa, carnaval, família e fim de semana. Mas foi um período gostoso, gostava do contato com o público, de viajar e conhecer o Brasil. As viagens eram muito legais, diferentes das de hoje em dia. Viajávamos de ônibus, os voos eram diferentes, tudo era mais complicado”, conta. 

Filhos 

Angélica garante: apoiará os filhos Joaquim, de 14, Benício, de 12, e Eva, de 7, em tudo, “como meus pais fizeram”, se eles optarem pela carreira artística. “Claro, como uma pessoa que viveu isso, vou ter conselhos, além da visão para dizer a eles que é desgastante, tem cobrança... Eles terão um ensinamento bem privilegiado. Crio filho para ser feliz. É assim que vai ser, se Deus quiser.”

A loura, de 46 anos, já fez muita coisa. Estrelou filmes para a meninada, comandou atrações de auditório na TV. Seu programa mais recente, Estrelas, saiu do ar em 2018. No próximo sábado (10), Angélica estará de volta à telinha da Globo com Simples assim, trazendo questionamentos sobre fé, felicidade e superação, entre outros temas caros a estes tempos de pandemia e incertezas.

“Fundamental, a fé é muito maior do que a religião. Temos fé no outro, no trabalho, na família ou em uma ferramenta que você usa, como a meditação. A fé é um motorzinho para fazer acontecer”, diz ela. A superação sempre fez parte da vida de Angélica. “Era criança tímida depois de uma coisa trágica em minha família, o assalto. Não conseguia ver gente, não conseguia sair de casa. Aos 4 anos, superei isso no concurso do Chacrinha com 400 pessoas na minha frente”, recorda.

As primeiras ideias do novo projeto surgiram em 2015, quando a apresentadora, o marido, Luciano Huck, e os filhos saíram ilesos de um acidente aéreo, no Mato Grosso do Sul. O bimotor em que a família viajava foi obrigado a pousar no meio de um pasto.

Angélica passou a se questionar, sobretudo por ganhar a chance de viver novamente. “Tenho aprendido muito”, afirmou ela, durante a coletiva on-line de lançamento de Simples assim, na semana passada. Com primeira temporada confirmada até dezembro, o programa é dividido por temas e esquetes.

O forte da atração serão as histórias de pessoas anônimas. Um dos quadros é “Dilemas da vida real”. Antes que alguém aponte semelhanças com Casos de família (SBT/Alterosa), apresentado por Christina Rocha, Angélica, bem-humorada, garante que sua proposta é outra. “Ela não dá conselhos, ela ouve”, reforça Geninho Simonetti, diretor-geral de Simples assim.

Ao comentar os próprios dilemas, Angélica não pensa duas vezes para citar a volta às aulas. Ao responder à pesquisa da escola dos filhos, foi favorável ao retorno. No dia seguinte, ao acordar, mudou de opinião e mandou uma carta ao colégio.

“Minha filha está na fase de alfabetização, e estou fazendo essa alfabetização. Claro que isso não é bom, não sou professora nem pedagoga. Por outro lado, há uma pandemia por aí. São mais de 100 mil mortos”, comenta.

Esquetes vão contar com Paulo Gustavo e Ingrid Guimarães. O diretor Geninho Simonetti diz que elas darão “alívio cômico” ao programa.

Vida
 
Experiente em lidar com auditórios, a apresentadora diz que a dinâmica do Simples assim é diferente, ao abordar temas profundos sem impor opiniões ou conceitos. “Adoro conversar com as pessoas, saber dos sentimentos delas. É trocar e aprender. A vida está aí para isso”, acredita.

Não fosse a COVID-19, a estreia teria ocorrido no semestre passado. “Nos programas gravados antes da pandemia, tínhamos contato mais próximo com o público, havia mais gente no palco. Agora seguimos o protocolo de segurança: quadros de rua foram adaptados para dentro do estúdio. Está dando trabalho para os redatores fazer aquela adaptada”, revela.


SIMPLES ASSIM
Com Angélica. Estreia sábado (10), na Rede Globo, às 15h05