Dono de uma das vozes mais populares brasileiras, Nelson Gonçalves morreu em 1998

Há exatos 20 anos, o Brasil perdia uma das maiores vozes da música popular brasileira. Cantor e compositor, o gaúcho Antônio Gonçalves Sobral, conhecido como Nelson Gonçalves (1919-1998) morreu vítima de um infarto no miocárdio, no Rio de Janeiro, deixando marcadas gerações por causa de sua voz pungente impressa em tangos, boleros, valsas, choro e, especialmente, samba-canção, estilo romântico que o consagrou.

Até hoje, canções como “Naquela Mesa”, “Meu Vício É Você” e “A Volta do Boêmio” são relembradas na interpretação do Rei da Rádio. Dono de uma carreira de altos e baixos – o artista caiu no ostracismo na década de 60 por causa do uso compulsivo de cocaína, chegou a ser preso e foi acusado de relegar o cuidado dos filhos às três esposas que teve –, o Eterno Boêmio dedicou 50 anos de sua vida à música, gravou 869 canções e vendeu mais de 80 milhões de cópias de discos.

Nelson, inclusive, é considerado o “último grande cantor dos grandes cantores populares na Era da Rádio”, segundo avalia a professora de canto popular na Escola de Música da UFMG, Clara Sandroni. “Com o surgimento da Bossa Nova na década de 60, as vozes populares passam a ser diferentes e não seguem mais a tradição do volume alto e de muito vibrato. O romantismo também não é tão mais grandioso como foi durante a Era do Rádio”, afirma.

“O Nelson foi um cantor popularíssimo, é preciso prestar homenagens a ele até o fim da existência do mundo. Ele deixou um legado para o canto popular que é muito valoroso”, opina Clara.

Relações. Com Orlando Silva (1915-1978) e Francisco Alves (1898- 1952), Nelson Gonçalves formou a tríade de ouro da voz masculina na rádio. Ao contrário do que se pode pensar, entretanto, o Metralha não foi um grande compositor: seu maior parceiro na música foi Adelino Moreira (1918-2002), responsável por assinar músicas que consagraram Nelson, como “A Volta do Boêmio” e “Meu Vício É Você”.

“Quando Nelson aparecia na composição, era mais como parceiro de outro artistas. Mas ele sabia que a vida do cantor é efêmera, enquanto a do compositor permanece ao longo do tempo. Especialmente quando as canções explodem na rádio e se passa a receber por elas”, comenta o radialista Acir Antão.

O jornalista lembra, ainda, que, a partir da década de 70 – época em que se recuperou do vício das drogas –, Nelson voltou cantando músicas de artistas um pouco mais contemporâneos, como Vinicius de Moraes e Baden Powell.

“O Nelson, então, passou a ser um grande intérprete. Ele passou a gravar uma média de dois LPs por ano, um no Rio de Janeiro e outro em São Paulo. Com 70 anos de idade, a voz grave dele era um sucesso”, conta Acir. Músicas de Renato Russo (“Ainda É Cedo) e da banda Kid Abelha (“Nada por Mim”) também foram gravadas por Nelson.

Angela e Nelson em disco inédito

Um registro de um dueto ao vivo de Nelson Gonçalves e Angela Maria (1929-2012) será lançado em julho deste ano pelo selo Nova Estação, do produtor musical Thiago Marques Luiz. O disco será apresentado tanto nas plataformas digitais como será vendido em formato físico.

O álbum, com 25 faixas, é o registro de um show ao vivo realizado pelos artistas em julho de 1978, no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo. De acordo com Marques, a gravação foi recuperada na mesa de som do local. “O show foi televisionado pela Bandeirantes, mas as imagens foram perdidas. É um show no qual eles cantam grandes sucessos da carreira deles. A Angela canta, por exemplo, ‘A Volta do Boêmio’, sucesso do Nelson, enquanto ele canta ‘Vida de Bailarina’, da Angela”, adianta Marques.

Saiba mais sobre o Rei da Rádio

A trajetória do célebre artista é contada em “A Revolta Do Boêmio: A Vida De Nelson Gonçalves” (2002), de Marco Aurélio Barroso, no qual mitos sobre o cantor são desvendados, como ter gravado 2 mil canções. Nelson também foi interpretado por Diogo Vilela na peça “Metralha” – apelido dado a Nelson por falar rapidamente.