“Achei um parceiro, um cara que não tem medo de ousar e arriscar fazer. Como ele disse, não é que vai dar certo. Já deu certo, porque nós vamos fazer. E já estamos tramando outros planos, de levar essa parceria para o Brasil, para o mundo. É um irmão que encontrei”. A frase de Flávio Renegado, um dos maiores nomes da música pop mineira contemporânea, é endereçada a seu mais novo mano: Rodrigo Toffoli, nome por trás de uma mudança importante na agenda da Orquestra Ouro Preto, através de diálogos com a música popular.
A parceria dos dois no show “Suíte Massai”, que será realizado (e gravado para um DVD) no dia 04 de agosto no Alto Vera Cruz é prova cabal de que grandes divisões na arte, muitas vezes, só servem na teoria. Vindos de experiências distintas, em diversas ordens (não apenas na música), o mano e o maestro se unem em torno de uma inquietude artística comum.
Vejamos: Renegado, desde o início de sua carreira, nunca se prendeu a ortodoxias por vezes comuns no universo em que é facilmente etiquetado, o rap. Mesclou suas rimas com o samba, com a reggae, com a eletrônica, em uma discografia que conduz sua carreira, elogiosamente, ao rumo do pop.
Toffoli, por sua vez, é responsável por alguns dos projetos mais arrojados da música erudita mineira nos últimos anos. Maestro e diretor artístico de uma orquestra que é sinônimo tanto de excelência quanto de versatilidade, ele guia a Orquestra Ouro Preto rumo a notáveis encontros entre a música de câmara e a canção popular. A ousadia vem colecionando reconhecimento, com sucessos de público e crítica como “Valencianas – Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto” (vencedor do Prêmio da Música Brasileira em 2015, como melhor disco de MPB) e “Orquestra Ouro Preto – The Beatles”, com mais de 200 récitas em todo o país, e participação destacada na International Beatles Week em Liverpool.
“Ele acha que durante muito tempo, o papel da orquestra no Brasil foi cuidar do passado”, diz Renegado. “Mas ela precisa olhar para o futuro também. Adorei esta fala dele, porque diz de uma pessoa que não vê fronteiras”.
SHOW
“Suíte Masai” é um projeto idealizado por Renegado, e foi criado a partir de uma pesquisa sobre uma tribo de guerreiros africanos de mesmo nome. Celebra nossos ancestrais ao mesmo tempo que aponta novos caminhos por meio da criatividade, da mistura e da transformação, características marcantes do nosso país. As primeiras apresentações do espetáculo aconteceram na Sala Minas Gerais e na Praça da Estação, e foram momentos em que o músico estava “pisando em terreno desconhecido”, como diz. “Agora, me sinto mais dentro, mais confortável, no sentido de que estas apropriações já aconteceram”.
O que não dispensa o trabalho árduo: até chegar ao Campo do Riviera Atlético Clube (Rua Itaguá, 304), no Alto Vera Cruz, terra de nascença de Renegado, os ensaios seguem à todo vapor: “todos os dias desta semana e da semana que vem”, garante.
Parte deste corre tem a ver também com as novas dimensões que cercam o músico, que durante muito tempo assumia o papel um pouco solitário do rapper nos palcos. “É uma experiência muito legal, de um equipe grande e muitas pessoas no processo. Uma grandiosidade mesmo envolvida”, revela, orgulhoso. “Mano, eu sempre sonhei alto na vida. Desde pequeno, não tive grandes perspectivas, nem sabia se estaria vivo hoje. Então fazer os sonhos virarem realidade é algo mágico”, concluí.
A entrada para o show, que acontece no dia 4 de agosto, às 16h, no Alto Vera Cruz, é gratuita com a doação de 1kg de alimento não perecível. A apresentação será no campo de futebol de várzea da comunidade