“Nosso Amor”, “Amada Amante” e “Nossa Senhora” ganharam novas versões

 
O calhambeque do qual Nando Reis, 56, teve a oportunidade de chegar mais perto estava no zíper de sua calça. Era a década de 60, e a febre que atingiu grande parte da juventude brasileira também alcançou o garoto ruivo nascido na capital de São Paulo. Aproveitando o sucesso da música homônima, a marca Calhambeque colocava no mercado calças, cintos e chapéus estilizados com uma miniatura do carro. “Eu era tão pequeno e já tinha rock na minha casa, devia ter entre 3 e 5 anos e me lembro de ouvir o compacto com ‘O Calhambeque’ (lançado em 1964) porque minhas primas mais velhas curtiam”, rememora Nando. 

A “excitação da criança pelo ritmo” que não se ligava “a questões conceituais envolvendo a guitarra elétrica” se transformou em um casamento duradouro. O pedido de namoro já havia sido feito em 1996, quando Nando declarou seu amor público à obra de Roberto Carlos com a galanteadora “Nenhum Roberto” (feita para Cássia Eller), cujo verso “não sou nenhum Roberto, mas às vezes chego perto” empresta título ao álbum que ele acaba de lançar. A mesma canção, porém, ainda guardava outra referência explícita, ao copiar a frase “erros do meu português ruim”, presente na célebre “Detalhes”.

“A minha afinidade com a obra do Roberto está nesse olhar para a vida prosaica, para o amor desejado e nas composições melodiosas.” NANDO REIS

“Essa é uma canção emblemática daquilo que mais me agrada no estilo da dupla Roberto e Erasmo Carlos, que é a coloquialidade da linguagem. Se eu fosse escolher uma única música representativa, seria essa. Eu e milhões de pessoas”, aposta Nando. Curiosamente, ao enviar uma lista de canções para o crivo do Rei, “Detalhes” foi recusada. “Quando ele negou, eu quase fiquei feliz. É uma música tão importante e brilhantemente gravada que seria um desafio enorme”, assume. 

O gesto de Roberto levou Nando a mudar sua relação com a própria obra. “Passei a vetar qualquer pessoa de gravar ‘O Segundo Sol’. A última banda que teve essa chance foi a BaianaSystem, acabou essa folia. Pode colocar em letras garrafais: ‘ninguém mais grava ‘O Segundo Sol’”, diverte-se. Esse “cuidado quase protecionista”, revela, na opinião de Nando, uma “visão criteriosa” que ele tem “aprendido com Roberto”. Apesar disso, o antigo baixista dos Titãs não se conteve em insistir junto ao homenageado para ele liberar uma canção específica. “Eu apelei e disse que ‘De Tanto Amor’ era a música do meu casamento”, entrega. “Roberto achou estranho, disse que era uma música muito triste para uma cerimônia matrimonial”, conta.

Gentilmente, o Rei voltou atrás, o que gerou “uma das versões mais bonitas do disco”, garante Nando. A religiosa “Nossa Senhora” surge instrumental. “A Guerra dos Meninos” também toca no tema e traz a presença de Jorge Mautner. “Quis subverter o maniqueísmo dessa canção, sempre a vi como um faroeste”, afirma o músico.