Primeiro vídeo oficial da música faz homenagem à garra das mulheres em lutar por um mundo melhor. Novo EP acústico chega hoje (21) às plataformas
“Minha mãe que falou/ Minha voz vem da mulher/ Minha voz veio de lá, de quem me gerou.” Os versos de A feminina voz do cantor – canção de Milton Nascimento e Fernando Brant gravada no disco Pietá (2002) – remetem à forte presença feminina na vida e na obra de Bituca. A começar pela mãe, Lilia: além de influenciar a formação musical do filho, ela inspirou a faixa com belos vocalises, batizada com seu nome, do antológico Clube da Esquina (1972). Milton costuma dizer que essa canção não tem letra porque nenhuma palavra consegue descrever o que Lilia representa para ele.
Seja Lilia, Elis Regina (“o grande amor da minha vida”, diz ele), Angela Maria, Leila Diniz ou as marias cantadas em poesia e prosa, todas são marcantes na trajetória de Milton.
Maria Maria, uma das parcerias mais importantes de Bituca e Brant, personifica a raça, a gana, a manha e a graça femininas. Lançada há 42 anos, a canção acaba de ganhar o primeiro videoclipe oficial, que chegou ontem à internet. Criada para espetáculo homônimo que marcou a estreia do Grupo Corpo, a música se inspirou em todas as Marias com quem Fernando Brant conviveu.
“Fernando já disse tudo. Maria Maria nos faz querer prosseguir, ir em frente... E é disso que a gente mais está precisando agora”, diz Bituca em entrevista por e-mail ao Estado de Minas. De acordo com ele, já na época em que a canção foi lançada, nos anos 1970, as mulheres lutavam por seus direitos. “E elas devem continuar atuando. Sempre”, frisa Milton.
A faixa também está no EP A festa (Universal), que chega hoje a todas as plataformas digitais. Totalmente acústico, o projeto foi batizado com canção lançada por Maria Rita em seu álbum de estreia, em 2003. Milton nunca gravou essa canção que tem letra e melodia dele. O repertório traz também Canção da América e Beco do Mota (com Brant), O cio da terra (com Chico Buarque) e Cuitelinho (tema folclórico adaptado por Wagner Tiso e Milton).
“A gente nunca lançou algo parecido. Esse lance mais acústico foi uma coisa inédita na minha vida, mas que surgiu naturalmente na época das gravações. Passado um tempo, decidimos que era hora de esse material ser conhecido pelas pessoas”, conta Bituca. O único projeto acústico de que ele participou foi um show com Wagner Tiso. Gravado em 1981 para seleta plateia nos estúdios de uma TV suíça, foi lançado em DVD.
Apesar de o repertório do EP não trazer novidades, Milton conta que tem material inédito vindo por aí. “Mas, por enquanto, quero apenas aproveitar esse lançamento do acústico, do videoclipe de Maria Maria... Depois a gente vê o que vem pela frente”, despista.
Há dois anos radicado em Juiz de Fora, na Zona da Mata, o cantor e compositor celebra o atual momento de sua vida. “Depois que fui morar com meu filho (Augusto Nascimento) em Juiz de Fora, as coisas ganharam um outro rumo, sabe? Acho que nunca vivi um momento tão feliz como agora. Viajando, gravando com os amigos, fazendo shows... Enfim, foi uma mudança e tanto.”
CLIPE Com roteiro e direção de Matheus Senra, que assinou clipes dos jovens cantores Johnny Hooker e Castello Branco, Maria Maria é estrelado por sete artistas: a cantora Simone Mazzer e as atrizes Jéssica Ellen, Zezé Motta, Camila Pitanga, Sophie Charlotte, Georgiana Góes e Arianne Botelho.
“Foi o próprio Matheus quem nos contou de tudo o que ele estava planejando. As ideias eram tão parecidas com o que a gente pensava que demos liberdade total pra ele. Até que Matheus apareceu com essa coisa linda que ficou o clipe. Confesso: não consigo parar de ver; está demais!”, festeja Bituca.
Ao receber o convite, Senra diz que sentiu a grande responsabilidade que tinha pela frente. A ideia é de que o clipe chegue a todas as mulheres – do Brasil e do mundo. “Queria que todas elas se identificassem. Inicialmente, pensei em todas as locações possíveis. Praia, campo, cidade. Mas cheguei à conclusão de que um não lugar seria importante para que a identificação acontecesse de forma imediata”, explica o diretor.
A inspiração para o cenário veio de Semente da terra, show que Milton vem apresentando pelo país. “Por isso a terra está tão presente. Ela acaba se comunicando com todos os tipos de mulher. O clipe deveria servir à música”, explica o diretor, de 27 anos, que trabalha na Rede Globo.
As artistas realizam performances em cena, com movimentos que revelam a força de ser mulher. “A gente não podia fazer um roteiro linear. Apesar de ter a direção e a colaboração importantíssima da Marcia Rubin (coreógrafa), cada uma delas foi criando à sua maneira, de forma orgânica. Foi impressionante como todo mundo se emocionou. Isso chega a ser visível no videoclipe”, ressalta Matheus.
O diretor comemora o lançamento de Maria Maria neste momento potente do movimento feminista, com forte atuação política no Brasil – a exemplo da campanha Mulheres Unidas contra Bolsonaro.
“Acho lindo ele chegar na atual conjuntura. Milton Nascimento é a voz de Deus. Com certeza, de alguma maneira, ele ajuda a reforçar esse empoderamento, essa luta, e, ao mesmo tempo, a graça e a beleza das mulheres”, conclui.
A FESTA
• De Milton Nascimento
• Universal Music
• Seis faixas
• Disponível em todas as plataformas digitais
Repertório
» A FESTA
l De Milton Nascimento
» CUITELINHO
l Folclore brasileiro. Adaptação: Milton Nascimento e Wagner Tiso
» O CIO DA TERRA
l Milton Nascimento e Chico Buarque
» MARIA MARIA
l Fernando Brant e Milton Nascimento
» BECO DO MOTA
l Fernando Brant e Milton Nascimento
» CANÇÃO DA AMÉRICA
l Fernando Brant e Milton Nascimento