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Pedro Galvão
Nesta sexta-feira (13), às 18h, o rapper belo-horizontino Djonga lançará Histórias da minha área, seu quarto álbum, nas plataformas digitais. Dias antes de o público ouvir as novas rimas, o disco já fazia muito barulho, tão logo a capa foi divulgada nas redes sociais. A imagem que apresenta as 10 faixas traz o artista e quatro amigos num beco, duplicados em situações antagônicas. Aparecem tanto em pé, sorridentes, quanto baleados no chão.
A forte mensagem visual, que ampliou a expectativa sobre o conteúdo musical do disco, é fruto da repetição de uma parceria de sucesso firmada em outros lançamentos de Djonga. Trabalho historicamente marcante na indústria fonográfica, a criação de capas sobrevive às mudanças de formato, embora os responsáveis por elas nem sempre sejam conhecidos pelo público.
“Djonga me ligou falando que queria mostrar todos de pé, de bem com a vida, e vendo como poderiam estar se as coisas tivessem ido por outro caminho, ou seja, mortos no chão”, revela Alvaro Benevente Júnior, o Alvinho, autor da arte da capa do lançamento mais aguardado do Brasil nesta semana.
A colaboração de Alvinho e Djonga vem dos álbuns O menino que queria ser Deus (2018) e Ladrão (2019) – este último vencedor do Prêmio Multishow de Música Brasileira na categoria capa de disco. Coube ao designer e diretor de arte paulista lapidar o conceito do projeto do mineiro, transformando-o “naquela imagem que, quando a pessoa bate o olho, já entende a história sem ninguém precisar explicar”, como diz Alvinho.
“Que mensagem vamos passar? Que sentimento queremos transmitir? São esses os questionamentos que faço ao artista”, explica o paulista. Formado em design gráfico em 2010, Alvinho trabalhou por quase sete anos em agências de publicidade antes de se dedicar às capas de disco, ofício que, segundo ele, lhe dá “o prazer de criar uma mensagem além da música”.
Entusiasta do rap desde a adolescência, Alvinho se ligou a Djonga por meio de um amigo do staff do rapper. Juntos desde antes de as rimas do mineiro ganharem destaque nacional, Alvinho revela que o trabalho dos dois é fácil, “porque Djonga sabe aonde quer chegar”.
Em Histórias da minha área, o designer propôs a produção da imagem na Região Leste de BH, nos bairros Santa Efigênia e Novo São Lucas, onde o músico foi criado, em vez de um estúdio da capital paulista, como inicialmente imaginado. “Pensei que seria melhor mostrar esta área como ela realmente é, as pessoas que vivem lá, trazer essa essência. Tentamos passar como eles se enxergariam se tudo tivesse dado errado e todos acabassem vítimas da violência contra os jovens. A mensagem é sobre o moleque da quebrada que poderia estar morto, perseguido, baleado. Porém, é possível um caminho positivo para esse mesmo moleque. Daí a camisa de time, a roupa de marca, que é o sonho de muitos deles. Queríamos tocar essas pessoas. Nosso alvo não são os boys brancos ou o mercado, mas passar a mensagem para quem conhece essa realidade”, explica Alvinho.
Skate
Ladrão: sangue e crítica de Djonga ao racismo (foto: Daniel Assis/divulgação)
Assinada por Daniel Assis, a fotografia traz amigos de infância de Djonga. Na contracapa, o DJ Coyote, responsável pelas batidas dos discos do rapper, surge de skate saltando sobre seu próprio corpo estirado no chão. Alvinho descreve a produção como “muita mão na massa” – ele próprio participou dos processos de maquiagem e produção, por exemplo. O título é assinado pelo grafiteiro Goma.
O designer destaca a importância de uma boa coleção de referências. Fã do artista gráfico norte-americano Joe Perez, autor das capas de Chiraq e Yeezus, de Kanye West, Alvinho revela que a principal inspiração da arte de Histórias da minha área veio do aclamado To pimp a butterfly, disco lançado em 2015 pelo californiano Kendrick Lamar. Criada por Vlad Sepetov, ela mostra negros, com dinheiro nas mãos, em frente à Casa Branca. “É uma referência, vejo energias parecidas por ambas falarem de lembranças, histórias de amizade, de galera”, diz Alvinho, mas avisa: “Você se inspirar é muito diferente de copiar”.
Rock
Cores e valores, do Racionais, trouxe assaltantes inspirados em HQ
(foto: Rui Mendes/divulgação)
Se, historicamente, o rock produziu imagens icônicas tão ou mais conhecidas do que as canções dos discos – o prisma de Dark side of the moon (Pink Floyd), criado por Storm Thorgerson, ou a colorida e inconfundível reunião de celebridades de Sgt Pepper's Lonely Heart's Club Band (Beatles), ideia de Peter Blake –, o rap também vem mostrando que é possível julgar um disco pela capa.
“A capa carrega grandes histórias e conceitos. No rap, é preciso incomodar e gerar sentimento também com o visual. Na hora de fazer, não pensamos no que ela pode se tornar ao longo do tempo, mas em expressar uma visão. Em Histórias da minha área, a imagem diz muito sobre o nosso país, a situação do jovem de periferia. Ela dá voz a essas pessoas. Me deixa muito feliz ver que as pessoas estão entendendo isso”, afirma Alvinho. Ele também produziu a capa de Selfie, álbum da belo-horizontina Clara Lima, entre outras do rap nacional.
No caso de Djonga, que em Ladrão aparece sorridente e ensanguentado enquanto segura a cabeça decapitada de um membro da seita racista Ku Klux Klan, as capas ganham grande valor, mesmo nesta época em que o disco físico se tornou quase raridade. Heresia (2017) trouxe o rapper “duplicado”, reproduzindo a imagem do Clube da Esquina (1972), de Milton Nascimento e Lô Borges.
“A imagem nunca perdeu a força e nunca vai perder”, avisa Rui Mendes, fotógrafo de diversas capas lançadas nos últimos 30 anos. Entre elas está a de Cores e valores (2014), do grupo de rap Racionais MCs. O processo criativo varia, dependendo do grau de liberdade dado pelo artista ao designer. “As referências de outros trabalhos devem ser ponto de partida, nunca de chegada”, afirma Rui, contando que, no seu caso, a maioria vem dos quadrinhos – influência perceptível no álbum do Racionais.
“A capa do Cores foi uma troca grande de ideias com o Mano Brown. A proposta do assalto a banco é deles, mas construí a cena, propus as máscaras olhando para a câmera”, conta Rui, que assinou projetos em diferentes gêneros musicais – Cadê as armas e Trashland, das Mercenárias; Quadro vivo, de Kiko Zambianchi; Música calma para pessoas nervosas, do Ira!, sua preferida; Samba esquema noise e Guentando a ôia, do Mundo Livre S.A; Cesta básica, do Raimundos.
Estética
Na década de 1980, “havia conteúdo bom e estética ruim”, afirma o fotógrafo, ressaltando que atualmente isso se inverteu. “O rap é exceção. Hoje, os rappers são os caras mais bem informados da música brasileira. São poetas, e isso não é possível sem conteúdo, sem experiência cultural. Esses artistas leem, falam de cinema e de arte, não saem escrevendo qualquer coisa. Isso facilita a parceria com eles”, diz Rui Mendes.
De acordo com esse experiente artista, de 58 anos, o segredo está na simplicidade. “Se você vê as grandes capas da história, como as do David Bowie ou Rolling Stones, há atemporalidade ali. Quem tenta fazer algo forçadamente moderno logo se torna cafona”, conclui.
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Nesta sexta-feira (13), às 18h, o rapper belo-horizontino Djonga lançará Histórias da minha área, seu quarto álbum, nas plataformas digitais. Dias antes de o público ouvir as novas rimas, o disco já fazia muito barulho, tão logo a capa foi divulgada nas redes sociais. A imagem que apresenta as 10 faixas traz o artista e quatro amigos num beco, duplicados em situações antagônicas. Aparecem tanto em pé, sorridentes, quanto baleados no chão.
A forte mensagem visual, que ampliou a expectativa sobre o conteúdo musical do disco, é fruto da repetição de uma parceria de sucesso firmada em outros lançamentos de Djonga. Trabalho historicamente marcante na indústria fonográfica, a criação de capas sobrevive às mudanças de formato, embora os responsáveis por elas nem sempre sejam conhecidos pelo público.
“Djonga me ligou falando que queria mostrar todos de pé, de bem com a vida, e vendo como poderiam estar se as coisas tivessem ido por outro caminho, ou seja, mortos no chão”, revela Alvaro Benevente Júnior, o Alvinho, autor da arte da capa do lançamento mais aguardado do Brasil nesta semana.
A colaboração de Alvinho e Djonga vem dos álbuns O menino que queria ser Deus (2018) e Ladrão (2019) – este último vencedor do Prêmio Multishow de Música Brasileira na categoria capa de disco. Coube ao designer e diretor de arte paulista lapidar o conceito do projeto do mineiro, transformando-o “naquela imagem que, quando a pessoa bate o olho, já entende a história sem ninguém precisar explicar”, como diz Alvinho.
“Que mensagem vamos passar? Que sentimento queremos transmitir? São esses os questionamentos que faço ao artista”, explica o paulista. Formado em design gráfico em 2010, Alvinho trabalhou por quase sete anos em agências de publicidade antes de se dedicar às capas de disco, ofício que, segundo ele, lhe dá “o prazer de criar uma mensagem além da música”.
Entusiasta do rap desde a adolescência, Alvinho se ligou a Djonga por meio de um amigo do staff do rapper. Juntos desde antes de as rimas do mineiro ganharem destaque nacional, Alvinho revela que o trabalho dos dois é fácil, “porque Djonga sabe aonde quer chegar”.
Em Histórias da minha área, o designer propôs a produção da imagem na Região Leste de BH, nos bairros Santa Efigênia e Novo São Lucas, onde o músico foi criado, em vez de um estúdio da capital paulista, como inicialmente imaginado. “Pensei que seria melhor mostrar esta área como ela realmente é, as pessoas que vivem lá, trazer essa essência. Tentamos passar como eles se enxergariam se tudo tivesse dado errado e todos acabassem vítimas da violência contra os jovens. A mensagem é sobre o moleque da quebrada que poderia estar morto, perseguido, baleado. Porém, é possível um caminho positivo para esse mesmo moleque. Daí a camisa de time, a roupa de marca, que é o sonho de muitos deles. Queríamos tocar essas pessoas. Nosso alvo não são os boys brancos ou o mercado, mas passar a mensagem para quem conhece essa realidade”, explica Alvinho.
Skate
Ladrão: sangue e crítica de Djonga ao racismo (foto: Daniel Assis/divulgação)
Assinada por Daniel Assis, a fotografia traz amigos de infância de Djonga. Na contracapa, o DJ Coyote, responsável pelas batidas dos discos do rapper, surge de skate saltando sobre seu próprio corpo estirado no chão. Alvinho descreve a produção como “muita mão na massa” – ele próprio participou dos processos de maquiagem e produção, por exemplo. O título é assinado pelo grafiteiro Goma.
O designer destaca a importância de uma boa coleção de referências. Fã do artista gráfico norte-americano Joe Perez, autor das capas de Chiraq e Yeezus, de Kanye West, Alvinho revela que a principal inspiração da arte de Histórias da minha área veio do aclamado To pimp a butterfly, disco lançado em 2015 pelo californiano Kendrick Lamar. Criada por Vlad Sepetov, ela mostra negros, com dinheiro nas mãos, em frente à Casa Branca. “É uma referência, vejo energias parecidas por ambas falarem de lembranças, histórias de amizade, de galera”, diz Alvinho, mas avisa: “Você se inspirar é muito diferente de copiar”.
Rock
Cores e valores, do Racionais, trouxe assaltantes inspirados em HQ
(foto: Rui Mendes/divulgação)
Se, historicamente, o rock produziu imagens icônicas tão ou mais conhecidas do que as canções dos discos – o prisma de Dark side of the moon (Pink Floyd), criado por Storm Thorgerson, ou a colorida e inconfundível reunião de celebridades de Sgt Pepper's Lonely Heart's Club Band (Beatles), ideia de Peter Blake –, o rap também vem mostrando que é possível julgar um disco pela capa.
“A capa carrega grandes histórias e conceitos. No rap, é preciso incomodar e gerar sentimento também com o visual. Na hora de fazer, não pensamos no que ela pode se tornar ao longo do tempo, mas em expressar uma visão. Em Histórias da minha área, a imagem diz muito sobre o nosso país, a situação do jovem de periferia. Ela dá voz a essas pessoas. Me deixa muito feliz ver que as pessoas estão entendendo isso”, afirma Alvinho. Ele também produziu a capa de Selfie, álbum da belo-horizontina Clara Lima, entre outras do rap nacional.
No caso de Djonga, que em Ladrão aparece sorridente e ensanguentado enquanto segura a cabeça decapitada de um membro da seita racista Ku Klux Klan, as capas ganham grande valor, mesmo nesta época em que o disco físico se tornou quase raridade. Heresia (2017) trouxe o rapper “duplicado”, reproduzindo a imagem do Clube da Esquina (1972), de Milton Nascimento e Lô Borges.
“A imagem nunca perdeu a força e nunca vai perder”, avisa Rui Mendes, fotógrafo de diversas capas lançadas nos últimos 30 anos. Entre elas está a de Cores e valores (2014), do grupo de rap Racionais MCs. O processo criativo varia, dependendo do grau de liberdade dado pelo artista ao designer. “As referências de outros trabalhos devem ser ponto de partida, nunca de chegada”, afirma Rui, contando que, no seu caso, a maioria vem dos quadrinhos – influência perceptível no álbum do Racionais.
“A capa do Cores foi uma troca grande de ideias com o Mano Brown. A proposta do assalto a banco é deles, mas construí a cena, propus as máscaras olhando para a câmera”, conta Rui, que assinou projetos em diferentes gêneros musicais – Cadê as armas e Trashland, das Mercenárias; Quadro vivo, de Kiko Zambianchi; Música calma para pessoas nervosas, do Ira!, sua preferida; Samba esquema noise e Guentando a ôia, do Mundo Livre S.A; Cesta básica, do Raimundos.
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Na década de 1980, “havia conteúdo bom e estética ruim”, afirma o fotógrafo, ressaltando que atualmente isso se inverteu. “O rap é exceção. Hoje, os rappers são os caras mais bem informados da música brasileira. São poetas, e isso não é possível sem conteúdo, sem experiência cultural. Esses artistas leem, falam de cinema e de arte, não saem escrevendo qualquer coisa. Isso facilita a parceria com eles”, diz Rui Mendes.
De acordo com esse experiente artista, de 58 anos, o segredo está na simplicidade. “Se você vê as grandes capas da história, como as do David Bowie ou Rolling Stones, há atemporalidade ali. Quem tenta fazer algo forçadamente moderno logo se torna cafona”, conclui.