“O poeta ou a poeta tem que falar tudo que sente. Foi acreditando nisso que eu comecei”, diz Bione. Da sinceridade, nasceu uma artista intensa, edificada ainda a partir do olhar sensível de uma garota que começou a escrever os primeiros versos aos 11 anos e logo se tornou uma força em ascensão do rap nacional. Tudo isso, é claro, fruto também de muito trabalho, que como ela bem descreve está acontecendo a todo momento através dos versos em produção, seja no bloco de notas do celular ou no caderno. E que grande momento vive a jovem Júlia Bione, de apenas 16 anos: já participou do Slam BR 2018, lançou a mixtape Sai da frente e o livro Furtiva em 2019 e se apresentou no Coquetel Molotov. No último Pré-AMP, realizado no dia 14 de fevereiro, no Cais da Alfândega, ela foi premiada e ganhou convite para cantar no carnaval do Recife, no Polo Ibura, participação no Festival do Inverno de Garanhuns e a gravação de um disco.
“Eu sempre quis cantar. Sempre quis fazer rap, mas a minhas condições nunca deixaram. A partir da poesia marginal, eu fui abrindo espaço para ter o mínimo de grana pra gravar algo”, conta Bione, com sorriso leve. Mas antes de subir nos palcos e ser esse fenômeno de intensidade jovem, ainda como Júlia, a cantora foi impedida de participar de uma batalha de improviso pelo fato de ser mulher. Foi aí que adotou seu sobrenome como nome artístico: na intenção de burlar um sistema sexista foi que nasceu Bione como artista. “Só que não adiantou de nada (risos). Não batalhei do mesmo jeito. Só depois de um tempo que deixaram e foi um marco para mostrar que eu posso chegar onde eu quiser”, relembra.
A artista faz parte de uma cena de poetas e rappers negras que sempre produziram, mas a partir de questões de melhorias de oportunidades, lutas de ocupação de espaço e construções próprias têm conquistado mais visibilidade no meio artístico. Para Bione, esse lugar surge também através da Aqualtune Produções, de Lenne Ferreira, produtora independente que trabalha apenas com mulheres negras. Neste cenário, estão artistas que estão sempre refletindo sobre a sobrevivência e questões sociais de suas vivências, a exemplo de Bione, Rayssa Dias e Karla Gnom, além de parcerias com Bixarte (PB) e DJ Boneka.
O trabalho de Bione não tem só se restringido à música. Em 2019, ela lançou o livro de poesias Furtiva, pela editora Castanha Mecânica. “A ideia do livro era nenhuma poesia ter rima. Furtiva veio dessa ideia de não rimar e ainda assim fazer algo que as pessoas gostem. Foi surpreendente que, no dia do lançamento, acabou tudo e pensei ‘caramba, tá rolando!’”, comenta. Quase em processo oposto, pouco meses depois, ela começou a gravar a mixtape Sai da frente, muito pautada nas rimas e nos beats. Enquanto tudo isso acontece, ainda é necessário tempo para os estudos, já que ela cursa do terceiro ano e se prepara para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na expectativa de cursar ciências sociais.
Como todo jovem artista, Bione tem suas inspirações. Entre elas, estão artistas da nova geração como Djonga, Iza, Karol Konka, Bell Puã e Patricia Naya. Mas os olhos da artista brilham ao falar de dois nomes: Janaína Melo, sua mãe, e Juliana Wittória, sua irmã. No show do Pré-AMP, a clássica “roda de pogo” (também chamada de “roda punk”) foi só das mulheres, a pedido de Bione, durante a música Deixa as garota brincar. “Uma vez me disseram que era muito massa me assistir. E eu respondi que era muito massa estar ali e ser assistida. Então essa relação minha como mulher preta inspirando outras mulheres na plateia me deixa em êxtase”, afirma. “Tem a ver com reiterar nossa sobrevivência.”
Bione conquista prêmios e se firma como nome do rap pernambucano
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A artista faz parte de uma cena de poetas e rappers negras que sempre produziram, mas a partir de questões de melhorias de oportunidades, lutas de ocupação de espaço e construções próprias têm conquistado mais visibilidade no meio artístico. Para Bione, esse lugar surge também através da Aqualtune Produções, de Lenne Ferreira, produtora independente que trabalha apenas com mulheres negras. Neste cenário, estão artistas que estão sempre refletindo sobre a sobrevivência e questões sociais de suas vivências, a exemplo de Bione, Rayssa Dias e Karla Gnom, além de parcerias com Bixarte (PB) e DJ Boneka.
O trabalho de Bione não tem só se restringido à música. Em 2019, ela lançou o livro de poesias Furtiva, pela editora Castanha Mecânica. “A ideia do livro era nenhuma poesia ter rima. Furtiva veio dessa ideia de não rimar e ainda assim fazer algo que as pessoas gostem. Foi surpreendente que, no dia do lançamento, acabou tudo e pensei ‘caramba, tá rolando!’”, comenta. Quase em processo oposto, pouco meses depois, ela começou a gravar a mixtape Sai da frente, muito pautada nas rimas e nos beats. Enquanto tudo isso acontece, ainda é necessário tempo para os estudos, já que ela cursa do terceiro ano e se prepara para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na expectativa de cursar ciências sociais.
Como todo jovem artista, Bione tem suas inspirações. Entre elas, estão artistas da nova geração como Djonga, Iza, Karol Konka, Bell Puã e Patricia Naya. Mas os olhos da artista brilham ao falar de dois nomes: Janaína Melo, sua mãe, e Juliana Wittória, sua irmã. No show do Pré-AMP, a clássica “roda de pogo” (também chamada de “roda punk”) foi só das mulheres, a pedido de Bione, durante a música Deixa as garota brincar. “Uma vez me disseram que era muito massa me assistir. E eu respondi que era muito massa estar ali e ser assistida. Então essa relação minha como mulher preta inspirando outras mulheres na plateia me deixa em êxtase”, afirma. “Tem a ver com reiterar nossa sobrevivência.”