CENSURA


Durante o carnaval, bandas locais foram impedidas de tocar Banditismo por uma questão de classe, um clássico da Chico Science e Nação Zumbi. Na canção existe um trecho que diz: "Em cada morro uma história diferente, que a polícia mata gente inocente". A denúncia que surgiu na última quarta (26) relata acontecimentos de censura e intimidação por parte da PM. Uma das bandas que usou as redes sociais para se manifestar foi a Janete saiu para beber.

O grupo se apresentava na Rua do Apolo, Bairro do Recife, durante a segunda-feira (24). "Durante o início da apresentação, um grupo de policiais militares que estava circulando pela rua do Apolo, parou e ficou observando o show. Algumas das canções entoadas como Sangue de Bairro, Monólogo ao pé do ouvido e Banditismo por uma questão de classe irritaram alguns dos policiais presentes, que foram questionar a produção do evento sobre o teor dessas músicas", explica o grupo, em nota divulgada nesta quinta-feira (27).

"Por conta disso, os policiais que estavam dialogando com os produtores, ameaçaram prender o vocalista por desacato a autoridade e injúria e pediram o encerramento imediato da apresentação. Enquanto os policiais que permaneceram na frente da casa, formaram uma barreira entre o palco e o público, intimidando todos os presentes. Assim como outras bandas de amigos também aconteceram a mesma coisa nos polos do Recife", relatou a banda.
 
Ao final do texto o grupo ainda conta que Devotos e o cantor China passaram por situações parecidas. Devotos no polo Várzea, na terça-feira (25), e China na Lagoa do Araçá, também na terça-feira (25).

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Foto: Aline Sales/Divulgação

 

O vocalista do Devotos, Cannibal, afirmou em entrevista ao Viver que a banda sofreu ameaças por tocaram duas canções, sendo uma delas a de Chico Science e Nação Zumbi. "Estávamos cantando Banditismo e depois De andada, do nosso último disco. Aí o nosso roadie vem no meu ouvido e disse que a produção mandou avisar que se cantasse mais uma 'falando mal da polícia' o show acabava. Fizemos o show fomos embora”, comenta.

O cantor também afirma que a atmosfera política tem intensificado esse tipo de ação. "Para nós da Devotos, isso é coisa que acontece faz muito tempo. Sempre sofremos muito, desde o começo da banda quando a gente subia o Alto Zé do Pinho e na descida levava baculejo. Hoje em dia é mais orquestrada por conta do governo que temos. É um retrocesso que tá vindo aos poucos pela cultura, porque se você quer hostilizar um povo você começa pela cultural", completa.
 
O cantor China se pronunciou através de suas redes sociais, espaço em que denunciou a intervenção da polícia com o pretexto de controle dos horários. "Final apoteótico com a polícia tentando encerrar o meu show na Lagoa do Araçá. Não sabia que era a polícia que cuidava do crono dos shows do carnaval", criticou o cantor. Em entrevista o cantor explica que os shows estavam atrasados, então a PM pressionou para que a produção encurtasse a apresentação. "Os policiais foram contidos pela minha empresária e produtora que não deixaram que invadissem a boca de cena. Caso contrário as coisas poderiam ser bem diferentes. A forma como tudo aconteceu foi desrespeitosa com meu trabalho, minha equipe e o público que foi lá assistir meu show", comentou.


Para ele, o episódio da intervenção da PM durante três shows no carnaval é parte de um panorama maior de ataque à cultura e aos artistas no Brasil. "São mais de 20 anos de carreira e nunca passei por uma situação dessas. Faço shows no carnaval de Recife há muito tempo e nunca vi nada parecido com isso. Estamos fazendo nosso trabalho, ocupando espaços públicos, contratados pela prefeitura para levar música e cultura para todos. O quão perigoso é isso?", questiona. O cantor pernambucano também ressalta como essas cenas mancham a imagem de um carnaval democrático e lamenta a situação. 


NOTA DA PM
Em nota, a PM afirma que a invasão do palco durante os shows se deu por motivos de horário. "A Polícia Militar informa que não há qualquer tipo de proibição à exibição de nenhuma música durante o Carnaval ou em qualquer época do ano. O efetivo somente orienta a suspensão de blocos que tenham estourado o tempo previsto para o desfile, por causa do planejamento operacional, que provoca o recolhimento da tropa após a dispersão dos foliões. Deixar que a festa prossiga sem a presença de policiais colocaria em risco a segurança de todos.

Os organizadores das agremiações que acreditem ter havido algum abuso deve procurar o Batalhão responsável ou mesmo a Corregedoria Geral, para formalizar uma queixa e possibilitar uma detalhada apuração de todos os fatos. A PMPE lembra, ainda, que o zelo com a segurança dos foliões se refletiu no Carnaval menos violento dos últimos 16 anos, com o número mais baixo de Crimes Violentos Letais Intencionais, entre a 0h do Sábado de Zé Pereira e a meia-noite da Terça-Feira de Carnaval".