Madrinha do samba teve um osso da coluna fraturado e por isso enfrenta fortes dores e dificuldades para se locomover. 'É uma luta diária', diz ela, que faz show este sábado (6) no KM de Vantagens Hall em celebração aos 40 anos do disco De pé no chão, ao lado do Fundo de Quintal
A mineira Clara Nunes (1942-1983) ficou conhecida como “Guerreira”, mas o apelido cabe bem a outra sambista, a carioca Beth Carvalho, de 72 anos. Desde que se apresentou deitada, no início de setembro, no Rio de Janeiro, no primeiro show da turnê ao lado do Fundo de Quintal, a cantora e compositora tem mostrado sua força. O espetáculo, triste ironia, comemora os 40 anos do disco De pé no chão.
Devido a uma fissura no sacro (osso na base da coluna), ela enfrenta dificuldades para se locomover. Quando as cortinas se abrem, Beth surge em uma cadeira, mas já na segunda música vai para a chaise, onde passa os 90 minutos do show. “É uma luta diária. Mas amo o que faço, amo a música e amo o meu povo”, diz ela, que se apresenta sábado (6), em BH, com o Fundo de Quintal.
Não tem sido fácil para Beth. As sessões de fisioterapia foram suspensas por enquanto, pois ela não consegue ficar deitada de bruços. “Dou meu jeito”, conta ela, ao explicar como se desloca do Rio de Janeiro para outras cidades. “Tem toda uma logística. No aeroporto, fico no carro até me chamarem para o embarque. E fico deitada no avião. A gente vai levando”, diz.
A cantora destaca o carinho e a compreensão do público ao vê-la deitada durante os shows. “No Rio e em São Paulo, lotou. A repercussão foi maravilhosa. As pessoas me aplaudiram e se emocionaram, pediram bis. Ficar deitada não tirou o clima, a alegria daquele momento. Muito pelo contrário”, ressalta.
Foi Beth Carvalho quem descobriu, em 1977, o talento dos bambas que formavam o Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, que mais tarde viriam a formar o Fundo de Quintal. Ela não só gostou do que viu e ouviu, como apadrinhou os músicos. “As composições eram maravilhosas, a maneira de tocar também. E eles ainda tinham um som diferente. Trouxeram uma inovação ao samba que está aí até hoje: instrumentos não muito comuns na época, como o banjo, o tam-tam e o repique de mão e o repique de anel. Jorge Aragão, Almir Guineto, Sombrinha, Sereno e Bira Presidente faziam parte do grupo. Era uma festa”, revela. Mesmo com toda essa intimidade, Beth e Fundo de Quintal nunca haviam feito um projeto juntos. “A gente se apresentou bem no começo, quando eles não eram conhecidos. Em 1978, eu os convidei para fazer parte do meu disco De pé no chão. Como ele está fazendo 40 anos, nada melhor do que celebrar esse encontro, até porque o LP foi um marco no mercado fonográfico”, comenta. O disco está disponível em todas as plataformas digitais.
A formação atual do Fundo de Quintal reúne Bira Presidente (pandeiro), Ubirany (repique de mão), Sereno (tam-tam), Ademir Batera (bateria), Júnior Itaguaí (voz e banjo) e Marcio Alexandre (voz e cavaco). A banda que acompanhará Beth Carvalho e o grupo é composta por Carlinhos 7 Cordas (violão e direção musical), Dirceu Leite (sopros), André Rocha (percussão), Vitor Souza (violão) e Paulinho Oliveira (baixo).
GALO
Além das faixas do álbum de Beth, o repertório traz hits das carreiras dela e do Fundo de Quintal: Coisinha do pai, Doce refúgio, Além da razão, E eu não fui convidado, O show tem que continuar e Batucada dos nossos tam-tans. “E, claro, não vai faltar o hino do Galo, Vou festejar”, lembra Beth. A botafoguense não esconde o carinho pelo Atlético. “E é recíproco, que eu sei”, frisa.
A cantora incluiu no repertório Tristeza pé no chão, do compositor mineiro Mamão – sucesso de Clara Nunes, aliás. “Garanto que será uma noite de muita alegria, de festa, na véspera de um dia tão decisivo”, comenta ela, referindo-se às eleições. “Vou pegar o voo das 11h porque não quero correr o risco de não votar. É uma eleição muito importante. Espero que todos votem bem”, diz, revelando o voto em Fernando Haddad para presidente. “É o mais preparado. Na minha opinião, se o Bolsonaro ganhar, vai ser um terror.”
GRAMMY
A cantora diz ter dificuldade em apontar o que mais a orgulha em seus 53 anos de carreira. Cita a homenagem da escola de samba carioca Unidos do Cabuçu, em 1984, e prêmios que conquistou – entre eles, o Grammy. “Levei dois. Um pelo conjunto da obra, em 2009, que pouquíssimos artistas ganham, e o outro pelo disco Nosso samba tá na rua (2012).”
Em março, conta ela, veio o maior “prêmio” de todos: Mia, a primeira neta. “É um presente, é uma coisa muito forte essa coisa de filha da filha. Inexplicável”, celebra. Mia é filha da cantora Luana Carvalho.
A vovó não esconde a corujice. Está encantada com a evolução da bebê, que tem sete meses. “Ela veio aqui esta semana. Está começando a comer manga, banana, mamão. A gente fica boba. É demais”, vibra.
BETH CARVALHO E FUNDO DE QUINTAL
KM de Vantagens Hall. Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, (31) 3209-8989. Sábado (6), às 22h. Mesas/4 lugares: R$ 560 e R$ 480. Pista/arquibancada: R$ 100 (inteira/2º lote) e R$ 50 (meia/2º lote).