Influenciados por duplas icônicas de bandas inglesas, Nasi e Edgard Scandurra celebram 40 anos de parceria
A infância e a adolescência de Marcos Valadão Ridolfi, 57, foram “contaminadas” pelo rock inglês que imperava nos anos 60 e 70, sobretudo por bandas que traziam icônicas duplas de vocalista e guitarrista. “Você tinha o Roger Daltrey e o Pete Townshend no The Who, assim como o Robert Plant e o Jimmy Page no Led Zeppelin, e os Stones com Mick Jagger e o Keith Richards”, lista Ridolfi, fã confesso também das harmonias vocais de John Lennon e Paul McCartney nos Beatles.
Mal imaginaria ele, mais conhecido pelo apelido de Nasi, que o primeiro encontro com o guitarrista Edgard Scandurra no fim da década de 70 renderia, a partir de 1981, ano de fundação do Ira!, uma dobradinha nos moldes – e nas devidas proporções – daquelas que brotavam em solo britânico.
“Acho que o Ira! é um dos poucos grupos do rock brasileiro que traz um dueto de vozes que remete ao que faziam Who e Beatles. Existe a minha voz, a do Edgard, que não faz backing vocal, e as nossas duas juntas que se tornam uma terceira voz. É assim desde o colégio”, relata Nasi, que, ao lado de Scandurra, retorna a BH neste sábado (2) com o show “Ira! Folk”, no Palácio das Artes.
A parceria existe há cerca de quatro décadas, o que renderia a alcunha de dupla dinâmica, mas, como ressalta Nasi, não se trata de serem como “Batman e Robin”. “Somos como Batman e Batman”, diverte-se o vocalista, referindo-se ao fato de que os dois são protagonistas.
A aura acústica do concerto, calcado no formato voz e violão, evidencia ainda mais o poder dessas “três vozes” às quais Nasi se refere. “Diferentemente do acústico (referindo-se ao ‘Acústico MTV’, de 2004), este show que estamos fazendo (que ganhou um DVD, ‘Ira! Folk’, lançado em 2017) deixa tudo mais evidente. O público percebe melhor os detalhes”, sintetiza o cantor, ansioso para se encontrar com uma “quarta voz” neste sábado.
“O público de BH canta junto com a gente. É um público com um dom natural para a música, assim como é o de Salvador. Acho que são as duas plateias mais afinadas do país e também as que batem as palmas no ritmo certo (risos). Estar em Minas é sempre especial. Temos vários amigos, como Samuel Rosa, Fernanda Takai, Lô Borges, pessoal do Sepultura”, enfatiza.
Polêmica?
O local escolhido para o show também é alvo de elogios de Nasi, ciente de uma polêmica recente. Após apresentar a peça “Minha Mãe É uma Peça”, nos dias 19 e 20 de janeiro deste ano, o ator Paulo Gustavo reclamou das condições do Palácio das Artes, apontando problemas na iluminação e no ar-condicionado.
“Estar no Palácio das Artes, que é uma das grandes casas do Brasil, significa que a turnê ‘Ira! Folk’ atingiu seu objetivo. E a gente é rock ‘n’ roll. Mais importante que ter ar- condicionado, para nós, é ter uma boa acústica. E lá tem. Já preparei meu terninho, pois é necessário em ocasiões especiais como esta, em um teatro dessa grandeza”, afirma.
No setlist, estarão canções clássicas como “Dias de Luta”, “Flores em Você”, “Envelheço na Cidade” e “Núcleo Base”. “É também a chance de o público ver baladas que não aparecem tanto nos shows rock’n’roll do Ira!, como ‘Mudança de Comportamento’ e ‘Boneca de Cera’”, ressalta.
Brumadinho
Nasi aproveita a deixa para se solidarizar com as vítimas da tragédia de Brumadinho. “A gente está chocado, assim como ocorreu com Mariana três anos atrás. É realmente uma lama que o Brasil vive, uma piada de mau gosto. Daquele desastre em Mariana não se aprendeu nada, como nós vimos. E agora a sociedade viu que estamos diante de um governo que não se importa com o ambientalismo. Inclusive em Minas, com a falta de controle nas minerações. É um absurdo”, dispara.
Discos de rock e solo acústico em pauta
Já faz 12 anos que o Ira! lançou “Invisível DJ”, até então seu último trabalho de estúdio. Era esperado que a banda soltasse um novo disco no ano passado, mas a extensa agenda de shows impediu que Nasi e Scandurra entrassem em estúdio. Porém, a espera por um novo álbum está perto de terminar.
“Devemos gravar entre o fim de março e início de abril, e lançar o disco, provavelmente, antes do fim do primeiro semestre. Vamos gravar um álbum de rock mesmo, totalmente oposto ao formato folk. A gente tem o ‘Ira! paz e amor’ e o ‘Ira! pé na porta’ (risos)”, confirma Nasi.
E o vocalista também está empenhado em outro projeto. “Uma coisa que ainda não fiz na minha carreira solo e que quero muito é um disco acústico. Já fiz trabalhos experimentais, ao vivo, de rock e de blues, mas algo acústico ainda não. É um material que ilustraria também essa fase mais adulta da minha vida”, revela ele.
Serviço
“Ira! Folk”, sábado (2), às 21h, no Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro). De R$ 100 a R$ 220 (inteira). Há 40% de carga para meia-entrada.