No círculo de pessoas que levam seu animais de estimação para passear na praça JK, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, um cão era conhecido como um rei, dono de um pelo e de um porte nada menos que “maravilhosos”. A empreendedora Kátia Lima, 33, duvidava que o cachorro fosse tão incrível, até que, finalmente, o conheceu: “Sabe cena de filme em que chega uma mulher bonita em câmera lenta? Assim era ele chegando”, lembra. O segredo, ela descobriu mais tarde, era a alimentação natural – que, agora, Kátia adota com sua cadela Aurora, de 1 ano.

Em vez de ração, os adeptos da alimentação natural para pets enchem as tigelas de carne, legumes e frutas. O que parece uma salada saborosa é alternativa para cães e gatos terem uma vida mais saudável e ainda solução terapêutica para problemas como diabetes e obesidade.

“Hoje, as pessoas estão se cuidando mais e tendo um olhar mais crítico sobre a saúde dos pets também”, diz a veterinária com experiência em nutrição de cães e gatos Kárita Borges. Ela conta que grande parte dos quadros que atende é de obesidade. Nesse caso, a opção é por um cardápio personalizado com a quantidade precisa de carboidratos, proteínas, gorduras e outros nutrientes.

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Patrica Dare com suas cadelas , Kira e Maria Isis /Foto: Flavio Tavares

Tudo isso é encontrado nas rações – mas com o acréscimo de corantes e conservantes. Em alguns casos, o animal passa anos com recorrentes inflamações no ouvido ou na pele até que o tutor e o veterinário percebam que são sintomas de alergia à ração. “A alimentação natural é a comidinha caseira. Mas não restos de comida da casa”, resume Kárita.

Delivery pet. Foi com essa comidinha do dia a dia que a golden retriever Maria Isis, de 5 anos, emagreceu 6 kg em um ano. Antes disso, chegou a mancar pelo excesso de peso. Um prato de comida dela está bem longe do marrom típico das rações: destacam-se o verde do chuchu, o amarelo da abóbora cozida e a suculência de pedaços de carne de boi e de porco. 

A tutora de Isis, Patrícia Daré, 38, converte-se de arquiteta a chef de cozinha no preparo do cardápio, sob orientação veterinária. “Compensa o trabalho que dá. Ela está mais bem-disposta, e dá para ver que ficou mais feliz”, conta. A comida é preparada a cada 20 dias e, congelada, dura até 60.

Para quem não tem tempo de pôr a mão na massa, existem empresas em BH que preparam refeições naturais para pets, filão que profissionais da área garantem que não para de crescer. “As pessoas estão quebrando o paradigma de que cachorro tem que comer ração”, avalia Rafael Guedes, diretor da Tigela Natural, uma das várias empresas mineiras que preparam marmitas para pets – inclusive, personalizadas a partir das recomendações veterinárias. 

O pulo do gato. Kátia, a empreendedora do começo da história, adotou alimentação natural também para o gato Bill, 19, após a morte do outro felino de quem cuidava – quando Bill, entristecido, não quis mais saber de ração.

A mistura de peixe e legumes fez sucesso, e, em quatro meses, o felino recuperou o peso. Animais de hábito (e com papilas gustativas que se desenvolvem nos primeiros meses de vida), os gatunos têm fama de não aceitar facilmente a mudança na dieta. 

Mas mesmo aqueles que não se convertem inteiramente podem aproveitar um gostinho natural: “Em vez de sachês industrializados, indico atum conservado em água, por exemplo”, ilustra Kárita.

Internet informa, mas requer cuidado


Fundado em 2008, o site Cachorro Verde é uma das referências para que deseja “naturalizar” a alimentação dos pets. Hoje, oferece cursos sobre o tema até para veterinários e zootecnistas. 

No meio do caminho, a criadora do projeto, a veterinária Sylvia Angélico, conta ter enfrentado dois processos movidos por representantes de marcas de ração. O primeiro, se deve a um conteúdo em que listava as desvantagens de alimentar pets com itens industrializados por toda a vida. Depois, outra ação combatia o conteúdo integral do site.

“Não acredito em censura da informação. Ela está ali, gratuita e completa, mas avisamos que a pessoa tem que procurar um veterinário para validar o que está fazendo”, reforça Sylvia. Por isso, o site é pontilhado por avisos recomendando ajuda médica, por receio de que tutores de pets com problemas de saúde acabem adotando dietas por conta própria.

A veterinária Kárita Borges também teme essa postura: “Se for apenas por recomendação da internet, prefiro que dê ração, porque, pelo menos, ela é balanceada", afirma.

Mitos e verdades sobre alimentação de cães e gatos

Alimentos indicados:

Proteínas: carne de boi, porco, frango para cães e, para gatos, peixe
Carboidratos: arroz, batata, mandioca, abóbora e inhame
Gorduras: óleos de coco e de girassol
Fibras: farelo de aveia e farinha de maracujá
Suplementação também é essencial
Não podem comer:

Cebola
Caroço do abacate
Chocolate
Uva e uva-passa
Cenoura é associada a alergias
Mitos:

"A comida não pode ter sal": cães precisam de sódio (encontrado no sal) para fixar potássio
"A comida tem que ser servida quente": um prato quentinho é só um atrativo
"O cão pode comer osso à vontade": osso, só cru, para prevenir acúmulo de tártaro
"Frutas cítricas são proibidas": apenas para cães com diagnóstico de gastrite