Com cerca de 77% dos casos de toda a região Sudeste, Minas Gerais é considerada uma área endêmica para a Leishmaniose Visceral Canina. A doença que afeta homens e animais é transmitida pela picada do “mosquito-palha” ou birigui. Apesar dos cães levarem a fama, eles são apenas mais um reservatório do protozoário. O mosquito se reproduz em locais onde existe abundância de material orgânico como folhas, frutos, fezes , entulhos e lixo, e se alimenta do sangue de pessoas e bichos, entre eles a galinha, o porco e o cavalo. A doença também é transmitida de humano para humano, também através da picada.

Apesar do grande vilão da história ser o flebótomo, os cães sempre levaram a fama, mesmo sendo as principais vítimas. Diante disso, por muitos anos se travou uma verdadeira batalha entre o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e os órgãos públicos que adotavam como medida de  saúde pública a eutanásia dos animais infectados. Do  outro lado, veterinários, especialistas e proprietários de cães, defendiam o combate ao mosquito e o tratamento da doença.  Dos 88 países do mundo onde existe endemia, o Brasil é o único que opta pelo sacrifício dos cães. Especialistas garantem que a matança não diminui o índice de contágio da leishmaniose. “A leishmaniose visceral tem controle e tratamento eficaz, portanto, não é necessário fazer a eutanásia do animal, exceto em casos específicos. Após o tratamento, o cão deixa de ser um reservatório ativo e não é mais um transmissor”, afirma o veterinário Leonardo Maciel, da Clínica Veterinária Animal Center.

Precursor no tratamento da leishmaniose visceral canina em Belo Horizonte, há quase trinta anos  o médico estuda a enfermidade. “Belo Horizonte está infestada pelo mosquito. Pesquisas mostram que cerca de 30% da população tem o parasita vivo em seu organismo sem se desenvolver”, diz Maciel. Segundo ele, é muito provável que daqui a alguns anos o número de pessoas infectadas seja maior do que o de animais, considerando que os seres humanos vivem muito mais. Em 2017, os Ministérios da Saúde e da Agricultura autorizaram, enfim, a comercialização do primeiro e único tratamento da doença no Brasil com medicamento próprio para os animais, o chamado Milteforan, desenvolvido pela Virbac. Antes disso, o tratamento era feito às escondidas com medicamentos como a Anfotericina B,  tendo em vista que não é permitida a utilização de  medicamento humano e nem importado para tratar animais.

Algumas medidas podem ser adotadas para evitar que os cães sejam contaminados. No mercado já existem vacinas preventivas, entre elas a  Leish-Tec, mas só devem ser ministradas após avaliação médica devido a possíveis efeitos colaterais. O uso de coleiras como a Scalibur também tem se mostrado eficiente. Contudo, o combate ao mosquito impedindo-o de se multiplicar  continua sendo a única forma de erradicar  a leishmaniose. Para saber se o animal, de fato, foi infectado, somente através de exame de sangue específico. Em caso positivo, o proprietário tem o direito de tratar o animal.

Apesar dos cães levarem a fama, o responsável pela transmissão da Leishmaniose é o mosquito-palha ou Birigui. Foto: reprodução/internet

Saiba mais: 

Leishmaniose – também conhecida como calazar, a contaminação em humanos e animais ocorre através da picada da fêmea do mosquito – Lutzomyia longipalpis –  mais conhecido como mosquito-palha ou birigui

Sintomas no ser humano – febre prolongada, perda de peso, falta de apetite e aumento do fígado e baço. Se não tratada a tempo, a leishmaniose visceral tem alto índice de mortalidade em pacientes imunodeficientes portadores de doenças crônicas

Sintomas no cão – lesões de pele, perda de peso, descamações na área dos olhos, crescimento exagerado das unhas e dificuldade de locomoção. No estágio avançado, o mal atinge fígado, baço e rins, levando o animal ao óbito

Prevenção da doença

Fazer a retirada de qualquer tipo de material orgânico como folhas, fezes de animais, entulhos e lixo, onde o mosquito possa se reproduzir. A borrifação química é fundamental em áreas endêmicas

Prevenção nos cães

Uso de repelentes, coleira própria contra a leishmaniose, vacina específica, higienização do animal e do ambiente

 

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