Em tempos de ressignificação do mercado de luxo, o calçado esportivo alcança um novo patamar ao estabelecer parcerias entre grandes designers e grifes caríssimas

Virou moda, nas redes sociais, revelar o quanto custou o look do dia. Este tipo de vídeo, batizado de “Quanto Custa o Outfit?”, flagra jovens influenciadores digitais exibindo seus itens de marcas conhecidas de streetwear – como Supreme e Off-White – com preços aparentemente absurdos. O fenômeno viralizou na semana passada e, claro, acabou gerando uma série de memes na internet.

O ti-ti-ti é compreensível, uma vez que a ostentação que os jovens exibem nos vídeos é completamente distinta daquela a que já estamos acostumados: não há bolsas de grife, peças bordadas ou joias exclusivas, e sim peças para serem usadas no dia a dia, como moletons, cintos e, principalmente, tênis. Aliás, o calçado tem todas as credenciais para conquistar o status de integrante do guarda-roupa de luxo.

Para a doutora em moda e comunicação Carla Mendonça, o vídeo deixa muito claro o novo perfil do consumidor de luxo. “São jovens que têm condição de comprar, seja com o dinheiro próprio ou com o dos pais. E são exatamente eles que as grandes marcas têm a intenção de alcançar”, analisa ela.

Ressignificação. Em um mundo no qual grifes internacionais são conhecidas por ativar o gatilho do desejo de consumo em cima de visuais luxuosos e milionários, em que lugar os tênis se encaixariam? Bem, há dados que atestam a relevância do calçado, que nunca alcançou tanta visibilidade quanto agora. O site The Business of Fashion, para citar um exemplo, aponta que as vendas globais de tênis subiram 10% em 2017, ultrapassando as de bolsas.

“O tênis ascende no mercado de luxo justamente por fazer esse trânsito de não deixar de ser esportivo e, ao mesmo tempo, ser absolutamente desejável e ostentatório”, explica Carla. Além disso, trata-se de uma peça para o dia a dia. “É acessível, mais fácil de usar e mais descolado do que uma bolsa, por exemplo”, acredita Carla, explicando o novo capítulo que o acessório ocupa na moda.

A tendência foi adotada pelas principais marcas de luxo do mundo e vista nos últimos desfiles de alta-costura, de grifes como Balenciaga, Gucci e Louis Vuitton. Todas contribuíram para elevar o tênis a outro patamar – o que cooptou de vez o relações públicas Phillip Martins, 31, fã do calçado com valor agregado.

Ele conta que o tênis sempre foi uma peça-chave na hora de montar seus looks – e, por isso, já teve em seu closet mais de 200 pares assinados. “Mas isso mudou. Passei a pensar menos em quantidade e a querer poucas peças, desde que tenham qualidade, design exclusivo e conforto”, conta ele, que se declara fã do cobiçado modelo Speed Race, da Balenciaga, avaliado em cerca de R$ 4.000.

“Mas prefiro adquirir ‘lá fora’, por causa das taxas mais baixas. Só compro no Brasil quando acho que o preço é justo”, salienta ele. “Já fui até a casamento de tênis – e fui elogiadíssimo”, garante.

Novos olhares. A bem-sucedida parceria dos tênis com o mercado de luxo também é reflexo das necessidades cotidianas, que valorizam cada vez mais o conforto. “O uso dos tênis é também um exemplo da mudança do comportamento feminino que ocorreu nos últimos anos. Hoje, a mulher poderosa sabe que não precisa necessariamente usar salto alto. Ela pode se sentir autêntica usando o tênis”, opina Anna Garzon, gerente de estilo da Schutz. Vale lembrar que a marca lançou, recentemente, um modelo oversized com cara de anos 90, ideal para quem quer ostentar estilo nos pés.

Ainda de acordo com Anna, o acessório veio para somar no que diz respeito ao styling – inclusive, vale investir no tênis na hora de montar visuais elaborados, como vestidos fluidos complementados por modelos de corrida. Ok, ainda pode soar estranho pensar assim, mas vale correr o risco.