SOTERRADOS PELA LAMA
Fonte diz que mineradora não fez alerta imediato à ANM sobre risco
A Vale teria ignorado o resultado da vistoria da Walm indicando que a barragem Sul Superior da mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, na região Central de Minas, tinha “risco significativo de ruptura”. A consultoria, contratada pela própria empresa, concluiu que havia necessidade de acionamento do nível 1 de emergência, que, segundo portaria do governo federal, necessariamente, precisa ser informado à Agência Nacional de Mineração (ANM). Mas o alerta da empresa não aconteceu imediatamente.
O documento, ao qual a reportagem teve acesso, recomenda tomada de medidas emergenciais e foi entregue à Vale na última quinta-feira, dia 7 de fevereiro. Nele, a consultoria é categórica quanto aos perigos: “a barragem Sul Superior não atende as condições propostas pela prática atual de engenharia, sendo, portanto, negado o atestado de estabilidade”, alertava. A Vale, no entanto, não teria alterado o status da barragem no sistema nacional imediatamente.
“A empresa tinha que lançar o nível 1, mas não lançou essa informação no Sistema Integrado de Segurança de Barragens, conforme determina a Portaria 70.389/2017”, afirma um servidor da ANM. Quando acontecem alterações no status das barragens no sistema, os fiscais são imediatamente informados sobre os riscos e seguem para a averiguação do local.
Segundo uma fonte, com a inércia da mineradora, alguém que teve acesso à informação dos riscos fez uma denúncia à ANM. “Nós, então, entramos em contato com a Vale para questionar por que essa informação não estava no sistema. Foi aí que ela nos mostrou esse documento, e nós determinamos que ela acionasse o nível 2 de segurança e evacuasse a população. E a empresa está com esse discurso de que foi ela, pelo princípio da precaução, que resolveu evacuar a jusante”, denuncia. Após o pedido da ANM é que a empresa disparou as sirenes, o que aconteceu apenas às 3h da última sexta-feira. Foram removidos 492 vizinhos do reservatório.
E os riscos eram grandes, segundo a conclusão da Walm. Ela enquadrou o fator de segurança como nível 1.1, ou seja, a quantidade de forças que seguram a barragem eram apenas 10% maiores do que os fatores que a puxavam para baixo na hora da vistoria. No caso da barragem de Córrego do Feijão, que se rompeu em Brumadinho, o nível era 1,09, ou seja, a proporção era de 9%. “A diferença entre as duas barragens era pequena para a empresa negligenciar”, afirma um servidor.
Sem resposta
Vale. Questionada pela reportagem sobre os motivos de não ter informado a ANM sobre os riscos da barragem Sul Superior, a empresa não tinha se pronunciado até o fechamento desta edição.
Análise
Para o especialista em gerência de risco Gustavo Cunha Mello, a solução para que os riscos das barragens sejam corretamente notificados é a garantia de responsabilização de todos os funcionários envolvidos no processo.