Resultado representa avanço de 45% sobre igual período de 2017. Ganho é o melhor em sete anos



Se não bastasse o desafio que a recuperação da economia brasileira enfrenta neste ano diante do cenário político conturbado no Brasil, os embargos ao aço e às carnes exportadas pelo país vão exigir esforço redobrado das empresas e dificultar a busca de lucro e crescimento, avaliou, ontem, o presidente da Usiminas, maior produtora de aços planos do país, Sergio Leite. A companhia anunciou, nessa sexta-feira, ter obtido lucro líquido de R$ 157,2 milhões no primeiro trimestre, ganho que reverteu o prejuízo de R$ 45 milhões registrado de outubro a dezembro de 2017, e representou avanço de 45% sobre o resultado positivo de janeiro a março do ano passado (R$ 108 milhões).


A despeito do balanço trimestral que foi o melhor dos últimos sete anos, a siderúrgica informou que não terá projetos novos em 2018, tendo optado por destinar todo o investimento previsto na manutenção da capacidade produtiva do grupo. Segundo Sergio Leite, recursos de R$ 500 milhões serão desembolsados ao longo deste ano em programas de automação e modernização industrial, redução de obsolescência e busca de aumento da produtividade.

O plano de aportes da siderúrgica envolve dezenas de ações, mas que estarão concentradas na usina de Ipatinga, no Vale do aço mineiro, onde a empresa acaba de religar o alto-forno 1, depois de reforma do equipamento orçada em R$ 80 milhões. A Usiminas investiu R$ 216 milhões no ano passado e R$ 225 milhões em 2016. “O grande foco de 2018 é buscar superação em todas as nossas atividades, num cenário difícil aqui e lá fora”, admitiu Sergio Leite. A empresa comemorou o balanço excepcional depois de um esforço de reestruturação financeira e do fim de um longo conflito entre os seus acionistas controladores, o grupo japonês Nippon Steel & Sumitomo Metal Corporation e o conglomerado italiano Ternium/Techint.

Na conversa sobre os resultados do primeiro trimestre de 2018 com analistas de grandes bancos e corretoras, o presidente da companhia reconheceu que os desafios da empresa aumentam na busca de lucro e vendas maiores num momento em que a recuperação ainda tímida da economia esbarra num ambiente de “quadro político delicado e de muita incerteza”. “Independentemente do presidente eleito, terá de ser alguém que tenha o desenvolvimento econômico como prioridade. É com crescimento que a gente reduz o desemprego e cria um ambiente de melhoria do bem-estar da população”, afirmou o executivo.

A Usiminas comunga das previsões otimistas que circulam no mercado financeiro de expansão entre 2,5% e 3% da economia brasileira em 2018. O Instituto Aço Brasil (IABr) trabalha com projeções de que o consumo de aços planos, no qual a siderúrgica mineira é líder, vá se expandir 7% neste ano. As restrições anunciadas pelos Estados Unidos às exportações de aço do Brasil e a decisão da União Europeia, divulgada na quinta-feira, de barrar as compras de produtos de carne de 20 estabelecimentos brasileiros complicam o cenário em que as empresas vão atuar, como reconheceu Sergio Leite.

“Seria bom se pudéssemos crescer no mercado internacional, mas com o cenário de protecionismo que estamos vendo, não há como imaginar essa possibilidade”, disse o presidente da Usiminas. A siderúrgica prioriza a sua demanda no mercado brasileiro, que respondeu por 85% das vendas no primeiro trimestre de 2018, e exporta 15% do seu negócio.

De janeiro a março, a Usiminas vendeu 1,100 milhão de toneladas de aço, resultado que significou aumento de 3%, puxado pelo bom desempenho da indústria automotiva. O ganho da companhia foi também influenciado pela comercialização de 1,8 milhão de toneladas de minério de ferro da Mineração Usiminas. Considerando-se o resultado de todas as unidades de negócio da companhia, a receita líquida consolidada somou R$ 3,2 bilhões no primeiro trimestre do ano, ante R$ 3,1 bilhões nos últimos três meses de 2017.

Margens

Do ponto de vista do lucro antes de computados juros, impostos, depreciação e amortização (o chamado Ebitda), o resultado da Usiminas de janeiro a março foi o maior para um trimestre desde 2010. Foram obtidos R$ 641,2 milhões em Ebitda no critério ajustado, aquele que considera a participação de empresas controladas do grupo. O indicador havia alcançado R$ 450,4 milhões no quarto trimestre de 2017.

Segundo Sergio Leite, a cifra deste ano é fruto bom desempenho de todos os negócios da companhia e reforça a estratégia que vem sendo adotada para redução do endividamento da Usiminas desde o segundo semestre de 2016. A dívida da empresa caiu de R$ 6,9 bilhões no terceiro trimestre de 2017 para R$ 5,7 bilhões no fim de março, redução de 17%, equivalendo a R$ 1,2 bilhão.

A empresa conseguiu antecipar o prazo de amortização de parcela da dívida, que deveria começar em setembro de 2019. Amortizou o equivalente a US$ 90 milhões já no fim do ano passado, outros US$ 180 milhões em janeiro último e nova parcela de US$ 100 milhões em março.


"O grande foco de 2018 é buscar superação em todas as nossas atividades, num cenário difícil aqui
e lá fora"


. Sergio Leite,

presidente da Usiminas