Centenas de pessoas, entre fiéis e turistas acompanharam a tradicional procissão da ressurreição de Cristo


Sinos, velas, árvores, mensagens religiosas e sociais feitas de serragem revestiram as vielas e ruas de Ouro Preto numa das mais aguardadas expressões culturais de Minas Gerais com a procissão da ressurreição de Cristo neste domingo de Páscoa. Centenas de pessoas, entre fiéis e turistas acompanharam a celebração, cruzando os tapetes tecidos dedicadamente durante a madrugada, após a tradicional vigília.
 
Cruzaram os morros da cidade histórica, da Igreja de São Francisco de Assis até a Basílica Matriz de Nossa Senhora do Pilar, numa fileira que tinha crianças vestidas de anjos, atores encenando a paixão de Cristo como soldados romanos e personagens bíblicos, como ocorre por aquele casario colonial desde o século XVIII.

A tradição é passada de geração em geração, o que fortalece e garante a continuidade da procissão que é bem imaterial da humanidade reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). “Essa é uma satisfação que vem da família, mas que todos nós temos prazer de continuar e de ver quem chega para admirar e ter a oportunidade de ajudar”, disse a produtora cultural Marta Toffoli, de 60 anos, que desde a infância ajuda nos preparativos da procissão e na confecção dos tapetes de serragem sobre os quais o cortejo passa.

“A gente começou ontem (noite de sábado). Fazemos um desenho nas ruas de paralelepípedos e a prefeitura distribui a serragem colorida para decorarmos as figuras. É um momento muito lindo que ultrapassa a comunidade. Porque todos nos ajudam a decorar as ruas: família, amigos, vizinhos e até os turistas perdem a vergonha e nos ajudam”, disse. De acordo com ela, muitas vezes os adultos mantém distância, mas são encorajados pelas crianças. “A meninada vê o trabalho, as cores, a decoração e ficam loucos. Aí, quando os visitantes vêem, já estão participando, trazendo serragem e decorando a rua para a procissão da ressurreição”, conta.

Com o celular a postos para registrar cada momento, a dentista Maria Ester Gonçalves, de 38 anos, deixou o Recife, onde a tradição religiosa é também muito arraigada na população, para se surpreender em Ouro Preto. “A gente vê fotografias. Escuta as pessoas falarem, mas não existe nada igual a vir aqui e a ver, sentir as pessoas nessa procissão, nesse ato de fé. É diferente, porque aqui você sente a energia. Sente que é de verdade, que há fé”, descreve a turista.