Maternidades públicas têm 264 leitos; ideal seriam 805, diz Ministério da Saúde
As maternidades públicas mineiras têm cerca de um terço do número de vagas necessárias para acolher bebês que precisam de cuidados especiais após o nascimento. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG), são apenas 264 leitos de Unidades de Cuidados Intermediários (UCIs), nos quais recém-nascidos recebem, por exemplo, alimentação ou ajuda para respirar. Deveriam ser ao menos 805, segundo as exigências do Ministério da Saúde.
Em portaria, o órgão federal impõe que, para cada 100 mil nascidos vivos, são necessários dois leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), dois de UCI convencional e 1 de UCI canguru (veja as diferenças no quadro abaixo). Assim, todos os recém-nascidos internados em UTIs deveriam ir a UCIs antes da alta, para cuidados intermediários.
Há ainda casos, como os de bebês que precisam se alimentar por sonda, em que o paciente não precisa ir para uma UTI, mas não tem condições de sobreviver fora do hospital, então deve seguir para uma UCI. No entanto, se em cada grupo de 57 nascidos, dois precisarem do serviço, faltarão vagas. Em Minas nascem, em média, 15.282 crianças por mês.
Perigo. “A falta de estrutura nos hospitais é um dos principais fatores que levam à morte de recém-nascidos. Em 2017, tivemos aumento na taxa de mortalidade nas maternidades, depois de anos em baixa, o que é uma derrota para nós”, lamenta o presidente do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Bruno Pedralva. Na capital, em 2018, a mortalidade infantil é de em 10,2 óbitos por mil nascidos vivos; em Minas, é de 7,95.
A gerente comercial Lizandra Martins da Silva, 24, escapou por pouco dessa estatística. Ela teve pressão alta na gestação, e o bebê enfrentava dificuldade de crescimento. A jovem foi internada em uma maternidade de Sete Lagoas, na região Central do Estado, onde soube que ela e o filho corriam risco de morte. “O médico me falou que lá não tinha estrutura para nos receber e que a prioridade seria salvar minha vida”, lembra.
Ela foi encaminhada para o Hospital Sofia Feldman, na capital, onde o filho nasceu em segurança, com 31 semanas, há pouco mais de um mês. O menino ficou 23 dias na UTI e está na UCI há 15 dias.
BH recebe demanda de todo o Estado
Em Belo Horizonte, cidade do Estado que tem a estrutura hospitalar mais completa, o número de leitos de Unidade de Cuidados Intermediários (UCIs) também fica abaixo do necessário. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a capital conta com 138 vagas, número “suficiente considerando a população de Belo Horizonte”. Entretanto, 43% dos nascimentos na capital não são de moradores da cidade.
De janeiro até o último dia 3, nasceram 27.603 bebês nas maternidades públicas de Belo Horizonte, sendo que 11.897 das mães não moram na capital do Estado.
Não há previsão de abertura de novos leitos dessa modalidade na capital. “Belo Horizonte está se responsabilizando por um número grande de atendimentos de não residentes. Claro que isso é esperado por ser uma capital, mas o sistema está sobrecarregado, e começam a faltar vagas”, afirma o presidente do Conselho Municipal de Saúde de BH, Bruno Pedralva.
Governo federal avalia criar 48 vagas de UCI em Minas Gerais
Minas poderá ter 48 novos leitos de Unidades de Cuidados Intermediários, segundo o Ministério da Saúde. A pasta avalia pedidos de habilitação da estrutura em sete hospitais mineiros, mas não divulgou os nomes das instituições nem o prazo de implantação.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que já tinha feito convênios para ampliar o número de leitos, mas as maternidades não teriam conseguido implantar as unidades. A pasta informou que a busca pelo aumento das vagas cabe a prefeituras e gestores das maternidades.
Questionada sobre o risco de morte a que os recém-nascidos ficam expostos, a secretaria admitiu que “a ausência ou distância dos leitos pode ocasionar danos” nos bebês e que isso é amenizado com atendimento e transporte das grávidas em tempo oportuno.
Barreira
Sofia Feldman. Maior maternidade de Minas, o hospital tem número de leitos de cuidados intermediários inferior ao sugerido – 45, em vez de 60.
Consequência. “A falta de UCI inviabiliza a retirada da UTI de bebês que já estão um pouco melhor. Como resultado, não podemos receber mais grávidas de risco”, explica Tatiana Coelho, gestora do hospital.