SAÚDE

O anúncio de que o Hospital Maria Amélia Lins (HMAL), no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, passará a realizar apenas cirurgias eletivas, por meio do Programa Opera Mais, que permitirá que consórcios públicos ou entidades sem fins lucrativos prestem serviços no imóvel, mobilizou servidores da saúde na tarde desta sexta-feira. Os trabalhadores se dizem surpresos e questionam a decisão, comunicada em uma entrevista coletiva nesta sexta-feira (7/3). O bloco cirúrgico do hospital já havia sido interditado há cerca de dois meses.

Neuza Freitas, diretora executiva do Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde de Minas Gerais (Sind-Saúde), explica que soube da decisão justamente por meio da coletiva. Diante disso, a entidade convocou uma reunião de última hora com os servidores: "Nos surpreendemos com o anúncio de que estariam entregando o hospital, de portas fechadas, para um consórcio público ou então uma empresa privada, cedendo o prédio e todos os equipamentos", diz.

A líder sindical destaca que o comunicado foi feito de maneira repentina. "Nós temos uma reunião já agendada com o Ministério do Trabalho na próxima quarta-feira, com a Fhemig e o governo. Se eles já sabiam que teriam uma reunião, por que, então, fizeram esse anúncio, causando um clima de apreensão em todo mundo?"

Para Freitas, o debate vai além do destino dos funcionários, que são concursados e, assim, têm estabilidade. "Nossa preocupação é que mais um hospital da Fhemig, que é responsabilidade do governo, responsabilidade da fundação, está sendo entregue para a iniciativa privada", pontua.

A servidora Josimara Kelly de Almeida, que trabalha há mais de 10 anos no HMAL, relata que, já há alguns anos, vem acontecendo um processo de desmonte na unidade de saúde. "Simplesmente chegaram, levaram os profissionais e, depois disso, tiraram coisas do bloco, levaram macas", salienta. Ela afirma que ainda não foi informada sobre o local para onde será realocada.

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Neuza Freitas, do Sind-Saúde, convocou reunião com servidores, que se dizem surpresos com a terceirizaçãoMarcos Vieira/EM/D.A.Press

Para a funcionária, as consequências dessa decisão recairão sobre a própria população. "Os pacientes estão prejudicados. Pacientes que vêm de 300, 500 quilômetros daqui, para fazer cirurgia, chegam aqui e não conseguem fazer várias remarcações de cirurgias", observa. "Está todo mundo muito triste com tudo isso", conclui.

Alan Salete, que aguarda uma cirurgia eletiva, cuja data teve que ser remarcada após a desativação do HMAL, tem uma opinião parecida. "Estão querendo fechar um hospital que suporta bastante, ajuda bastante em todos os casos de cirurgia em ortopedia, não só em Belo Horizonte, mas na Região Metropolitana também", opina. "Muita gente que precisa, necessita de cirurgia, de tratamento, de todas as espécies aqui, vai ficar sem isso", complementa.

Justificativa

Em um pronunciamento, o secretário estadual da Saúde, Fábio Baccheretti, afirmou que os funcionários serão realocados para o Hospital João XXIII, nas respectivas áreas de atuação. "Os servidores da mesma carreira serão absorvidos no João XXIII, lembrando que são 100 metros de distância, então não vai mudar a rotina deles. O hospital tem capacidade melhor e maior, e nós precisamos deles: dos cirurgiões, enfermeiros e anestesistas", assegurou.

De acordo com o governo de Minas Gerais, o Hospital João XXIII será capaz de absorver as cirurgias e ainda aumentar o número de procedimentos ao longo deste ano. Inclusive, desde que o centro cirúrgico do HMAL foi desativado, o João XXIII passou a funcionar com terceiro turno, ou seja, com atendimento contínuo 24h.

Neuza Freitas, do Sind-Saúde, rebate essa informação. "É impossível, porque o João XXIII é um hospital referência em trauma e em emergência, e aqui são cirurgias eletivas de segundo tempo do Hospital João XXIII. Então, o prejuízo será tremendo para a população", adverte.

O edital para a seleção do parceiro será publicado neste sábado (8/3), pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), com a publicação do resultado no dia 15 de abril, com início de atuação imediato. De acordo com o órgão, o atendimento do Hospital Maria Amélia Lins seguirá totalmente dedicado ao SUS. No mesmo dia, também será divulgado um edital para contratação de mais de 200 enfermeiros e técnicos de enfermagem.