Organização retirava o metal de duas grandes mineradoras antes da identificação
Polícia Civil deflagrou nessa quarta-feira uma megaoperação de combate ao roubo de ouro bruto direto das dependências de duas gigantes mineradoras do Estado. Denominada Quimera, a ação culminou na prisão de 21 pessoas, entre elas cinco funcionários das empresas, além do cumprimento de 30 mandados de busca e apreensão em Belo Horizonte, Santa Bárbara, Barão de Cocais e João Monlevade, as três últimas, na região Central do Estado. Três pessoas ainda estão foragidas e são procuradas pela polícia. Segundo os investigadores, o material roubado era usado como matéria-prima para joias, comercializadas em joalherias de Minas.
As mineradoras AngloGold Ashanti, hoje de capital sul-africano, sendo a terceira maior do mundo e há 180 anos atuando no Brasil, e a Jaguar Mining, multinacional canadense, eram alvo dos criminosos. Segundo o delegado de Santa Bárbara que chefiou as investigações, Domiciano Ferreira Monteiro de Castro Neto, os criminosos agiam desde 2016. A polícia chegou a eles após denúncias das próprias empresas que foram lesadas. Eles roubavam o outro bruto direto dos complexos minerários, antes da triagem e homologação do minério. Vale lembrar que o ouro é uma commodity de alto valor, inclusive com preço cotado em diversas Bolsas pelo mundo. O grama fechou ontem valendo R$ 156 no Brasil. O metal precioso tem valor monetário e é aceito como moeda, com validade internacional.
Além das prisões, os policiais ainda apreenderam uma sacola com dezenas de pepitas de ouro, com teor estimado de 90% a 95% de pureza, R$ 40 mil em dinheiro, rádiocomunicadores, 23 veículos (sendo alguns de luxo) e equipamentos utilizados no processo de apuração de ouro.
De acordo com o delegado, o produto era roubado antes de ser catalogado, ou seja, antes de ganhar sua identificação. Segundo ele, isso dificultava o rastreamento do produto, já que esse ouro não ia para a contagem das mineradoras, sendo retirado, inclusive, antes de ser faturado para gerar preço de mercado, e antes de incidirem impostos e royalties minerais.
"As investigações começaram no início deste ano. Essa organização era muito bem-equipada e tinha informações privilegiadas sobre as áreas sensíveis das empresas, ou seja, onde ficava o ouro. Essas mineradoras têm um sistema de segurança muito grande, com bloqueios, vigilância, alarmes e segurança armada. Mesmo assim, os criminosos conseguiam burlar o sistema e cometer os roubos. Eles tinham diversos núcleos de atuação”, contou o delegado. Os investigadores não informaram quanto de ouro foi roubado, o valor estimado nem como os criminosos retiravam o metal das dependências das empresas.
Eram os suspeitos que trabalhavam nas mineradoras que passavam as informações privilegiadas. “Inclusive sobre as operações do processo minerário, quantidade e posicionamento de vigias e trabalhadores. Eles também participavam da distribuição dos valores referentes ao ouro subtraído. Também foi identificado o núcleo de receptadores, donos de joalherias mineiras, que faziam a compra do ouro. Eles ainda repassavam mercúrio e outras substâncias para os demais criminosos utilizarem no processo de apuração mineral”, explicou o delegado.
Lavagem de dinheiro
Neto informou que eram feitas transações financeiras com frequência, especialmente a partir dos receptadores. Segundo ele, membros da organização criminosa fizeram grandes investimentos em imóveis e veículos em nome próprio ou de terceiros. Eles estão sendo investigados também pelo crime de lavagem de dinheiro, além de furto qualificado e organização criminosa.
Os membros da organização também estavam ligados a outros crimes, como o domínio do tráfico de drogas e armas de fogo em Barra Feliz, distrito de Santa Bárbara. Os presos foram encaminhados para o sistema prisional, onde já estão à disposição da Justiça.