Cobertura vacinal contra doença, assim como no país, está muito baixa (61,7%) até 2 anos
No momento em que o país enfrenta a volta de doenças já superadas, Minas Gerais tem números preocupantes sobre a cobertura vacinal de sua população, especialmente as crianças, em relação ao sarampo. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES), em 2018 apenas 61,4% dos pequenos com até 2 anos tomaram as duas doses da vacina, como determina o protocolo de imunização. O percentual ideal é de 95%.
Para ter a proteção, a criança precisa receber duas doses (a segunda aos 15 meses) da vacina triviral, que é oferecida na rede pública também para adultos – duas doses para quem tem até 29 anos e uma dose para pessoas de 30 a 49 anos.
Em Belo Horizonte a situação é melhor que no restante do Estado. Mesmo assim, a cobertura de 89,9% das crianças até 4 anos – os parâmetros são diferentes daqueles usados pelo Estado – que receberam as duas doses da vacina em 2017 preocupa. A doença não é registrada na capital mineira há 21 anos.
A diretora de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), médica epidemiologista Lúcia Paixão, deve divulgar nesta sexta-feira (6) um comunicado de alerta aos profissionais da área para que fiquem atentos ao diagnóstico do sarampo.
Na última semana, foi confirmado um caso no Rio de Janeiro, e a região Norte do país enfrenta um surto da doença. “OS casos de sarampo são preocupantes, sim, para Minas”, admite a diretora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde de Minas (SES-MG), enfermeira Janaína Fonseca de Almeida.
“A cobertura é baixa para todas as vacinas de doenças que já existem (meningite), que já foram eliminadas (sarampo) ou que foram erradicadas, como a poliomielite”, lamenta Lúcia. No caso da pólio, Minas tem 24 cidades com alto risco para a poliomielite, segundo o Ministério da Saúde, porque tiveram menos de 50% das crianças de até 5 anos vacinadas em 2017. A capital não está entre elas.
Sinais de alerta. O alerta também será direcionado aos pais para que procurem um posto de saúde e verifiquem a situação vacinal da criança. “O que nos preocupa são os pequenos (menores de 1 ano). É uma doença grave, que pode levar a uma pneumonia, uma encefalite e até à morte”, diz Lúcia. “Se a gente não tiver uma boa cobertura, pode ter que voltar com a vacinação desse grupo menor de 1 ano (a primeira dose é dada aos 12 meses)”, preocupa-se a médica.
Os sintomas do sarampo são comuns a outras doenças: febre alta acima de 38,5 graus, sinais respiratórios como coriza, tosse e conjuntivite, e exantema (manchas vermelhas pelo corpo). “As medidas de controle são importantes”, afirma Lúcia.
Movimento antivacina faz estragos
O movimento antivacina é apontado por autoridades e especialistas como uma das principais causas da volta de doenças já banidas das sociedades. É responsável, inclusive, por surtos recentes de sarampo na Alemanha, Portugal e Itália. Nesta última, por exemplo, das 1.600 pessoas que pegaram sarampo em 2017, 88% não tinham tomado nenhuma dose da vacina, de acordo com reportagem publicada pelo jornal “Pampulha” em julho de 2017.
Essa postura traz riscos não só individuais, mas coletivos, disse a infectologista da UFMG Marise Fonseca ao “Pampulha” na época. “Nós temos um programa no serviço público de saúde muito importante, forte, atual. O Ministério da Saúde tem metas de imunização justamente para proteger o indivíduo e a comunidade como um todo. Se essa meta não é alcançada, a chance de o agente infeccioso reaparecer e circular é muito maior”.