COVID-19


Amanda, uma profissional do sexo de 35 anos, que terá o verdadeiro nome preservado a pedido dela, ficou dois meses em isolamento social. Foi a primeira vez, em 15 anos de profissão, que ela ficou tanto tempo parada. Mas ela não teve escolha. Afinal, mora com dois filhos, um de 10 e outro de 2 anos, sendo que o caçula tem bronquite, e nas palavras dela “não pode pegar essa doença de jeito nenhum”, se referindo à Covid-19. Porém, a necessidade de colocar comida no prato dos mesmos filhos que tenta proteger e pagar o aluguel para ter onde abrigá-los fez com que ela voltasse para as ruas de Belo Horizonte.


A profissional não está sozinha. Ela está ao lado de pelo menos outras 300 mulheres que voltaram a trabalhar na Guaicurus, a principal zona boêmia de Belo Horizonte, segundo estimativas da Associação de Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig). Existem ainda outros pontos de prostituição na cidade, como as avenidas Afonso Pena e Paraná, onde  têm mais centenas de mulheres se arriscando, enfrentando uma pandemia, em nome da sobrevivência. 

“A situação está trágica. Não conseguimos manter todas as trabalhadoras em casa porque muitas começaram a passar fome, têm filhos para criar, e aluguel para pagar. E para piorar ainda sofrem com preconceito e o estigma de serem profissionais do sexo”, afirma a presidente da Aprosmig Cida Vieira. A associação tem 3.500 profissionais cadastradas em Belo Horizonte e 80 mil em todo Estado. 

Auxílio Emergencial

Ainda segundo Cida, foram poucas as credenciadas da associação que conseguiram o auxílio emergencial de R$ 600 mensais do governo federal. A prostituição ainda não é uma profissão regulamentada, o que, na visão dela, pode ter influenciado para que essas mulheres não tenham conseguido a ajuda.

O Dataprev informou que todos os requerentes que solicitam o auxílio precisam atender os requisitos previstos pela Lei n. 13.982, de 2 de abril de 2020. Já a Caixa Econômica Federal disse que apenas distribui o recurso. 

Pouca demanda

Apesar de enfrentarem o risco de uma possível contaminação pelo novo coronavírus, nem sempre o retorno financeiro acontece. Amanda, por exemplo, trabalha de 8h da manhã às 16h e, em alguns dias, não consegue tirar nem o suficiente para pagar a diária do quarto de hotel que aluga na Guaicarus. “Eu pago uma diária de 130 e cobro R$ 40 por programa de 15 a 20 minutos. Antes, tinha dia que eu fazia até vinte programas. Agora, tem dias que eu tenho que pendurar a diária”, conta. 

Font: O TEMPO

E quando chega em casa, como mãe, ela precisa ajudar os filhos na educação à distância, arrumar a casa, fazer comida e, no fim do dia, ainda assiste as aulas de técnica de enfermagem. “Nem eu sei como dou conta. Chego em casa morrendo de medo dos meus filhos pegarem alguma coisa, então tomo um banho bem tomado, lavo as roupas, tomo os cuidados e rezo para Deus nos proteger. Mas a gente precisa comer né. Meu filho menor ainda toma leite, usa fralda e isso tudo custa dinheiro. Tenho que correr atrás”, conta. 

O número de mães que estão se arriscando nas ruas tem aumentado, segundo a presidente da Aprosmig. “Nós já temos conhecimento de mulheres que nunca trabalharam com sexo, que eram empregadas domésticas, babás, perderam o emprego e que estão começando a descer”, conta Cida. 

A associação tem tentado amenizar a situação das prostitutas que são grupo de risco. É que muitas delas já passaram dos 60 anos e têm comorbidades e não podem se expor, caso contrário poderiam não suportar a doença. Por isso, a Aprosmig está recebendo doações em um estacionamento na rua Guaicurus, número 624, no Centro de Belo Horizonte. Quem quiser doar dinheiro em espécie pode fazer isso pela conta da Caixa Econômica Federal número 53456-0, agência 0084, operação 013.