POLÊMICA

Uma professora aposentada de Itaúna registrou boletim de ocorrência contra o vereador Guilherme Campos da Rocha (Novo) após ter sido fotografada por ele durante a reunião ordinária da Câmara Municipal, nessa terça-feira (9/9). O parlamentar tirou uma foto da cidadã sentada com as pernas abertas, cobriu as partes íntimas com um emoji de coração e compartilhou a imagem em grupos de WhatsApp. Ela usava um vestido.

A vítima informou à reportagem que passou mal depois do episódio, e foi levada ao hospital da cidade, onde recebeu atendimento com sintomas de princípio de infarto. Por isso, não conseguiria dar entrevistas.

Pedido de desculpas

Após a repercussão, o parlamentar gravou um vídeo em que pediu desculpas e tratou o episódio como um mal-entendido.

"Estou aqui para pedir desculpas pela situação que aconteceu com a professora aposentada lá na Câmara, situação que saiu completamente do controle", afirmou.

Ele disse conhecer a professora há muito tempo, apesar das divergências políticas. "Ela é de esquerda e eu do partido Novo (...) mas a gente sempre se respeitou nos grupos de política, e eu gosto muito dela, principalmente por ser professora."

Segundo Guilherme, o episódio começou após um desentendimento entre a vítima e uma assessora, no dia anterior. "Hoje conversei com minha assessora e pedi para se resolverem. Ela sentou do lado da professora e conversou com ela. Resolveram. (...) Com aquilo resolvido, me senti à vontade para tirar uma foto das duas e postar nos grupos falando: ‘as duas se resolveram, deu tudo certo’. Só que a professora ficou muito chateada com essa foto, até pelo ângulo que eu estava, de baixo para cima. Ela estava de vestido, e, para evitar que aparecesse alguma coisa, eu tampei a foto."

Ele ainda afirmou: "Não foi intenção deixar essa professora mal. Peço desculpas à família e a todos que a conhecem".

Apuração na Câmara

Em nota, a Câmara Municipal de Itaúna manifestou "profundo respeito" à cidadã e lamentou o ocorrido. "Esclarecemos que a conduta apresentada é de inteira responsabilidade individual do vereador envolvido e não reflete o posicionamento institucional desta Casa Legislativa, que repudia qualquer ato de desrespeito ou violação da dignidade da pessoa humana", disse o Legislativo.

A Casa informou que, tendo sido feitos o boletim de ocorrência e a representação do vereador pela cidadã, serão adotadas as medidas cabíveis, conforme o Regimento Interno e a legislação vigente.

"Reafirmamos nosso compromisso com a dignidade da pessoa humana, com a transparência e com o respeito à população itaunense", concluiu a nota.

Pedido de CPI

O caso ocorreu no mesmo dia em que um cidadão protocolou pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a conduta do vereador Guilherme Campos. O documento, assinado por João Paulo Araújo de Paula, solicita também a cassação do mandato do parlamentar por quebra de decoro.

A denúncia cita ainda declarações anteriores do vereador em redes sociais, consideradas ofensivas às mães de jovens que praticam "stunt" ou "grau" – manobras de motocicleta. Em vídeo, Guilherme associou essas mulheres à prostituição no bairro Universitário, conhecido como Favorita.

"Você sabe por que essa galera dá grau na rua? (…) Esses caras pegam a mãe deles e levam pro serviço, ali perto da rodovia, no bairro Universitário, mais conhecido como Favorita. E a mãe vai trabalhar a noite toda, ganhar o dinheirinho da família, né. E nisso os filhos ficam felizes de ter deixado ela na Favorita e saem todos felizes fazendo graça, entendeu?", disse o vereador.

Para o denunciante, a fala representa uma ofensa coletiva e mancha a imagem do Legislativo. Ele defende que a Câmara casse o mandato do parlamentar, alegando que Guilherme agiu de modo incompatível com a dignidade do cargo. Ainda conforme o denunciante, a foto compartilhada pelo vereador também tem o objetivo de desvirtuar o debate.

A respeito da CPI, o vereador disse que não se desculpará: "Contra criminoso não tem conversa, não tem retratação, não tem moral. Continuaremos denunciando os crimes à polícia militar, pois o crime pode causar prejuízos a terceiros e até mortes. Quem dá grau em via pública é exatamente o que falei", afirmou.

A câmara informou que o pedido segue em tramitação conforme a legislação.