Projeto prevê o limite de velocidade de 30 km/h para aumentar a segurança de pedestres; plano é que área hospitalar e o Cachoeirinha adotem medida
A área hospitalar, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, e o bairro Cachoeirinha, na região Nordeste, podem ter as primeiras Zonas 30 da capital. A prefeitura retomou o projeto, que prevê limite de velocidade de 30 km/h em algumas vias, com o objetivo de garantir mais segurança e reduzir os acidentes de trânsito. Apenas no ano passado, foram 10.704 ocorrências com vítimas na capital, uma média de 29 por dia, segundo o Mapa Social do Ministério Público de Minas Gerais.
As Zonas 30 já haviam sido anunciadas em 2015, por meio de um projeto piloto na Savassi, na região Centro-Sul da capital. O assunto voltou a ser discutido nesta semana, durante um workshop internacional realizado na prefeitura em parceria com especialistas alemães das cidades de Bremen e Leipzig, que estão auxiliando a capital a lidar com os desafios para a implantação do projeto.
Com a ideia de que a Zona30 deve estar em áreas com grande concentração de crianças, idosos e pessoas com dificuldade de locomoção, a região hospitalar foi escolhida devido ao intenso fluxo de pessoas em tratamento médico. Já as vias do bairro Cachoeirinha foram selecionadas por concentrarem três escolas, um lar de acolhimento de idosos e uma igreja.
De acordo com a coordenadora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), Eveline Trevisan, as Zonas 30 não representam mudança drástica na velocidade já praticada, mas sim a implementação de um novo desenho urbano para tornar as ruas mais seguras. “Estamos começando a levar esse conceito para a cidade, discutindo com a população para que ela compreenda o propósito desse projeto e seja nossa parceira nessa caminhada”, disse. Segundo ela, estudos apontam que, quando a velocidade é mais baixa, o trânsito flui melhor.
Análise. Conforme a gerente de transportes ativos e mobilidade a pé do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), Danielle Hoppe, estudos mostram que, quando a velocidade é de 30 km/h, a chance de um pedestre morrer atropelado é de 15%. Quando o limite é de 50 km/h, o risco sobe para 85%. “O desafio é mais uma mudança de cultura e queda de resistência. É preciso que a população entenda que isso é um benefício para todos. As Zonas 30 são uma tentativa de tornar a cidade mais segura”, afirma.
Segundo Danielle, não basta, no entanto, sinalizar as ruas, é preciso também trabalhar no redesenho viário. “Os municípios têm dificuldade de fiscalização, e as ruas não foram desenhadas para essa velocidade. Para realmente fazer a Zona 30 funcionar, é preciso redesenhar a rua e convidar o motorista a diminuir a velocidade”, disse ela, sugerindo, por exemplo, a redução da largura das vias de circulação e a implantação de travessias elevadas.
Segundo o especialista em trânsito Osias Baptista Neto, a redução da velocidade no trânsito é uma recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU). “É preciso mudar o ambiente na rua, ter certo investimento em pintura, sinalização mais explícita e áreas de proteção para o pedestre. O motorista tem que sentir que entrou em um lugar diferente”, afirmou.
Meta. O Plano de Mobilidade de BH prevê a implantação permanente de Zonas 30.
Prejuízo. Segundo a OMS, a velocidade excessiva ou inapropriada é responsável por uma em cada três mortes por acidentes de trânsito em todo o mundo. Por ano, 1,25 milhão de pessoas morrem em vias de tráfego.
Primeira tentativa foi feita em 2015
O projeto de criação de Zonas 30 foi anunciado pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) pela primeira vez em 2015. A ideia era contemplar as vias dentro do perímetro das avenidas Afonso Pena, Getúlio Vargas, Cristóvão Colombo e Brasil e, posteriormente, expandir o projeto para toda a cidade.
O objetivo era estimular o compartilhamento dos espaços entre carros, bicicletas e pedestres. No entanto, o projeto acabou não sendo implementado.
São Paulo reduziu acidentes
Até 2020, São Paulo deve receber a implantação de dez Áreas Calmas. O projeto surgiu a partir do reestudo das Áreas 40, ideia semelhante à das Zonas 30, implantada em 2013 na capital paulista. Uma das principais medidas é a redefinição dos limites em regiões com mais atividades comerciais e serviços com fluxo intenso de veículos e movimentação de pedestres. A ideia também é reduzir a velocidade máxima regulamentada para 30 km/h.
As Áreas 40 reduziram os acidentes na cidade. A queda de mortes no trânsito foi de 20,6% em 2015.
De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) da capital paulista, o objetivo do projeto é melhorar a segurança dos usuários mais vulneráveis no sistema viário, como pedestres e ciclistas, e buscar a convivência pacífica e a redução de acidentes.