Edifícios estavam se deteriorando pelo tempo e por processos de ocupação e urbanização da cidade
Muitas obras de restauração de prédios históricos em Belo Horizonte chamaram a atenção dos moradores da capital, como a reforma na Igrejinha da Pampulha, cartão-postal da cidade. Além da renovação de fachadas, readequação de estrutura e pinturas, diversos imóveis passaram por modificações e intervenções de atualização tecnológica, nas partes de segurança, elétrica e hidráulica. Por conter uma memória cultural muito enraizada, restaurar e conservar esses patrimônios exigem qualidade na execução e planejamento dos serviços, além do acompanhamento criterioso dos órgãos competentes.
A história de revitalização de bens históricos é relativamente recente se considerarmos a idade de Belo Horizonte. De acordo com Alexandre Nagazawa, arquiteto, urbanista e sócio-diretor da Bloc Arquitetura, não era comum o tombamento de imóveis históricos, a não ser de edificações coloniais. Apesar de reconhecida importância, muitos imóveis vinham se deteriorando pelo tempo e os processos de ocupação e de urbanização. “De uns 10 anos pra cá, a gestão pública em relação à restauração mudou. Vários exemplares de imóveis da fundação da capital, na época de Aarão Reis, estavam sendo perdidos e estão ganhando uma nova roupagem”, relembra.
Esses imóveis apresentam um significado histórico, cultural, bibliográfico e artístico bastante significantes, o que, consequentemente, estão relacionados com a identidade do local. “O fator mais importante de preservar uma edificação é que ela retrata o espírito de uma época, de uma sociedade, a cultura e isso é extremamente importante para o povo. Uma referência de sua própria história”, destaca Nagazawa.
O diretor técnico da construtora Tecnibras, Francisco Veríssimo, destaca que a conscientização dessa identidade é determinante para cuidados específicos de um prédio histórico, conservando sua vida útil. “Evitar a aceleração da degradação e prologar sua vida útil são os pontos principais de uma restauração.” A Tecnibras é responsável pelas obras de restauração da Igreja São Francisco, a Igrejinha da Pampulha.
Todo o processo de revitalização está ligado a um estudo e investigação de como a edificação foi construída, quais materiais foram utilizados e, a partir dessa análise, traçar um planejamento de como executar uma obra de restauração fazendo um paralelo com as técnicas e materiais disponíveis atualmente no mercado. “O aproveitamento do material a busca de materiais compatíveis da época e o impacto dos materiais novos com os antigos devem sempre estar na identidade do projeto”, ressalta o diretor técnico.
De acordo com Alexandre Nagazawa, ao se deparar com o desafio de uma obra de restauração, os profissionais envolvidos devem ter em mente essa importância dos estudos referentes ao momento histórico em que aquela edificação foi construída, bem como as técnicas utilizadas nessa determinada época. “No laudo será possível analisar todas as patologias e o grau de preservação em que o imóvel se encontra e assim traçar uma diretriz com o projeto específico de restauro e intervenção”, avalia.
ATUALIZAÇÃO
O retrofit foi desenvolvido e passou a ser aplicado em construções que precisam de adequações, proporcionando a revitalização de edifícios e preservando com as necessidades e parâmetros atuais. “O retrofit vem sendo a principal estratégia nesses processos, sendo em imóveis tombados ou não. O objetivo principal é manter e recuperar o que é bom na construção, reutilizando alguns materiais já existentes e adequando às exigências e possibilitando maior vida útil”, ressalta Alexandre Nagasawa. Por meio dessa atualização pode-se propor novos usos sem prejudicar aspectos estéticos de época e o valor simbólico dos bens.
A técnica cumpre essencialmente as exigências legais e funcionais contemporâneas. Há diversos tipos e níveis de retrofit voltados para focos e ambientes distintos, para a compatibilização com as leis atuais, adequação às normas dos bombeiros e às normas de desempenho, economias sustentáveis e a atualização de equipamentos e sistemas das edificações. “É feita avaliação da construção a fim de diagnosticar a vida útil das instalações, condições de estrutura e vedações, patologias antes de passar pelo retrofit. Tentando sempre imitar ou fazer o possível para replicar as técnicas usadas antigamente”, pontua Nagasawa.
Esse levantamento prioriza e direciona os estudos para uma intervenção respeitosa e, acima de tudo, que valorize o patrimônio. Processos que envolvem bens tombados devem contemplar também um projeto de restauro, com o levantamento de um dossiê que traz todo o histórico da edificação. “Retrofitar um prédio antigo pode garantir melhoria de funcionalidade, além de agregar viabilidade econômica e financeira para o imóvel”, finaliza.
SAIBA MAIS: Patrimônio histórico
No Brasil, o patrimônio histórico é protegido pelo Decreto-Lei 25, de 1937, que em seu primeiro artigo define desta forma: “Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”.