A morte de oito pessoas em um grave acidente na BR-251, ontem, em Francisco Sá, na região Norte, revela o quanto trafegar pelas estradas mineiras pode ser perigoso. No primeiro semestre deste ano, as rodovias do Estado registraram, em média, 50 óbitos e 880 feridos por mês.
Com a chegada do período de férias e o aumento das viagens de carro, especialistas alertam para o cuidado redobrado, sobretudo nas vias que apresentam condições precárias.
Engenheiro de transporte e trânsito, Márcio Aguiar explica que a malha rodoviária no território está abarrotada de veículos de cargas, o que eleva a gravidade de qualquer acidente.
O risco é ainda maior, segundo ele, porque nesta época mais carros de passeio entram em circulação nas mesmas rodovias por onde passam caminhões. “Não há outro caminho disponível, e automóveis e carretas acabam dividindo a mesma via e, assim, criamos esse cenário propício para tragédias”, avalia.
Aguiar afirma ainda que o problema só seria resolvido se houvesse um sistema ferroviário disponível para transportar a maior parte da carga, a exemplo de outros países. “Mas como não temos essa alternativa, a orientação é tomar o máximo de cuidado, principalmente não viajando à noite ou com chuva”.
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Rotina
No último domingo, uma sequência de acidentes graves marcou as estradas em Minas Gerais. No Anel Rodov[/TEXTO]iário, na altura do bairro Vila Oeste, na capital, um carro capotou no sentido Vitória. Uma pessoa morreu e outras três ficaram feridas.
Já na BR-381, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), um caminhão carregado com mamões tombou. O motorista ficou preso entre as ferragens.
Investimentos
Além de ser a mais extensa do país, a malha rodoviária mineira é também a que demanda os maiores investimentos, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) em 2017.
O estudo revela que quase 70% das estradas do Estado (mais de 10 mil quilômetros) são classificadas como regulares, ruins ou péssimas. Dessa forma, seria necessário aplicar mais de R$ 9 bilhões na reconstrução e na manutenção dos trechos desgastados.
Das 40 regionais do DEER, 36 já estão com o contrato de manutenção em execução
Despreparo
Para Luiz Portela, membro da Comissão de Transportes da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME) e também vice-presidente da entidade, o fator decisivo para a redução dos desastres é a responsabilidade dos condutores. Ele destaca que o trânsito das estradas é muito diferente do que é visto dentro das cidades, o que pega muitos motoristas de surpresa.
“Nesse acidente no Norte de Minas (em Francisco Sá), a estrada estava em ótimas condições. Tudo leva a crer que foi falha do veículo, como perda de freios, ou imprudência de algum dos motoristas envolvidos”, frisa.
A assessoria de imprensa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou ser responsável por 6.400 quilômetros de rodovias em Minas. Desses, mais de 90% têm contratos de manutenção e reparos.
Conforme o órgão, o trecho da BR-251, onde houve o acidente de ontem, tem pavimento em ótimo estado, além de sinalizações horizontal e vertical adequadas.
No entanto, a pista é simples, apesar de a duplicação da BR-251 ser uma demanda do Norte de Minas há anos. “Por ali não passam apenas os norte-mineiros; passa o Brasil inteiro. Então, a duplicação é uma questão nacional”, pontua a deputada federal Raquel Muniz (PSD).