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O Carnaval de Belo Horizonte ‘renasceu’ após uma transgressão a um ato do então prefeito Marcio Lacerda. Desde então, a festa momesca tem uma cara de contestação política, resistência e luta por espaço e direitos. Apesar do protagonismo estar nas ruas, o fato do sucesso crescente, ano após ano, fez com que a ‘paternidade’ da folia fosse disputada entre políticos. Disputa de pirro, diriam os foliões.
Em 2009, Marcio Lacerda era o prefeito de Belo Horizonte. No dia 9 de dezembro, ele assinou um decreto proibindo a realização de eventos na Praça da Estação, na região central da cidade. A medida se mostrou extremamente impopular, e a sequência de acontecimentos seguintes acabou dando origem ao movimento “Praia da Estação”: centenas de pessoas se reuniram na praça, em encontros marcados pela internet, muitas com roupa de banho e levavam instrumentos musicais, comidas e bebidas. Eram os ingredientes básicos para a festa começar.
Os encontros se repetiram em todos os finais de semana daquele verão, e além de ficarem cada vez mais populares, se espalharam praticamente por toda a cidade, culminando com o surgimento de vários blocos e festas nas nove regionais de BH, sob o lema #carnavalizabh. O sucesso foi tanto que a pressão popular fez o prefeito Lacerda, em maio, revogar a lei.
Para o historiador e professor de história Eugênio Raggi, o moderno Carnaval de Belo Horizonte tem origens políticas, mas vai um pouco além disto.
“Claro que o carnaval, o ato político, sempre foi um ato de resistência. Nasceu na resistência e continuou na resistência apesar das apropriações por parte do sistema. Em Belo Horizonte, este renascimento é fortemente vinculado à proibição do Marcio Lacerda, à chamada ocupação da Praça da Estação. É fortemente vinculado, mas não é só isso evidentemente. Eu acho que ele renasceria de qualquer forma, por algum motivo que não fosse esse. Esse motivo antecipou o ressurgimento desse carnaval, que é um movimento que estava já latente já há algum tempo. E que evidentemente se fortaleceu com a resistência ao Marcio Lacerda, então Lacerda ficou como um ‘pai do Carnaval de BH’ mesmo sem ter feito essa coisa de forma intencional", afirma Raggi.
O criador e cantor do Bloco Baianas Ozadas e diretor de relações institucionais da Liga Belo-horizontina de Blocos Carnavalescos, Geo Cardoso, o Geo Ozada, pensa um pouco diferente e prefere não limitar a experiência carnavalesca da cidade apenas ao aspecto político.
"Eu acho delicado também esse negócio de querer rotular e generalizar o Carnaval todo como resistência. O Carnaval existe desde que a sociedade brasileira busque se aprimorar. Essa experiência miscigenada que é a sociedade brasileira, formada por vários povos, com contribuições africanas, de povos europeus, de povos de outros lugares do mundo. Nós somos um povo diverso, mestiço, multicultural. E o Carnaval reflete isso. Querer reduzir o Carnaval a questão política e luta, eu acho que isso é reducionismo. O Carnaval é a expressão cultural do brasileiro mais reconhecida lá fora. Hoje, mais do que o futebol", ressalta Geo.
O cientista político e professor do Ibmec, Adriano Cerqueira, destaca que o Carnaval é um bom momento para políticos aparecerem e se tornarem mais conhecidos pela população. Mas, segundo ele, para que a folia impacte o debate eleitoral deste ano, é preciso que a própria população se mobilize e algo marcante aconteça durante o evento.
“A forma mais efetiva de promoção é se tornar mais conhecido de algum modo. Isso vale mais para quem administra a cidade ou até mesmo eventualmente o governador do Estado, se souber fazer uma boa propaganda em cima dos benefícios. Mas, dificilmente o Carnaval gera um impacto importante nas eleições, só se alguma coisa muito relevante acontecer, tanto positiva, quanto especialmente negativa. Eleição Municipal pode ser modificada na medida que o debate produzido na campanha envolvendo o Carnaval mobilize a população”, pondera o especialista.
Festa como como conhecimento e ocupação de espaços
A pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas e fundadora de um bloco de Carnaval no Rio de Janeiro, Débora Thome, entende que o Carnaval permite que os cidadãos vivam a cidade de uma forma diferente, o que contribui para uma manifestação política dos foliões.
“O Carnaval é uma manifestação cultural e, como tal, as pessoas vão estar ali discutindo, conversando, aparecendo. O papel de quem curte a festa é cuidar da cidade, é saber que o Carnaval é um momento de estar nos lugares menos frequentados e lembrar que eles também pertencem à cidade. As pessoas que de repente só frequentam uma determinada zona da cidade, passam a frequentar outras zonas e são capazes de ver como está funcionando o equipamento público, como estão aquelas casas, como estão aquelas ruas”, analisa Debora.
A pesquisadora destaca, ainda, que é possível perceber o que está sendo discutido na comunidade a partir das fantasias dos foliões e temas dos blocos que desfilam nas ruas. Por isso, Debora argumenta que é comum que os políticos participem das festas e tentem dialogar com os cidadãos.
“Todos os presidentes, governadores, prefeitos, ou quem quer que seja, participam dessa festa porque é um momento muito importante para manifestação cultural. E em um ano de eleição municipal isso fica mais interessante, porque estão surgindo novos nomes e debates. A própria questão das fantasias dialogam com os problemas da comunidade. Por exemplo, no Rio de Janeiro teve um ano que a água estava contaminada, e foi todo mundo fantasiado de água. A gente vê que é um momento de você fazer troça dessa vivência cotidiana”, explica.
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Em 2009, Marcio Lacerda era o prefeito de Belo Horizonte. No dia 9 de dezembro, ele assinou um decreto proibindo a realização de eventos na Praça da Estação, na região central da cidade. A medida se mostrou extremamente impopular, e a sequência de acontecimentos seguintes acabou dando origem ao movimento “Praia da Estação”: centenas de pessoas se reuniram na praça, em encontros marcados pela internet, muitas com roupa de banho e levavam instrumentos musicais, comidas e bebidas. Eram os ingredientes básicos para a festa começar.
Os encontros se repetiram em todos os finais de semana daquele verão, e além de ficarem cada vez mais populares, se espalharam praticamente por toda a cidade, culminando com o surgimento de vários blocos e festas nas nove regionais de BH, sob o lema #carnavalizabh. O sucesso foi tanto que a pressão popular fez o prefeito Lacerda, em maio, revogar a lei.
Para o historiador e professor de história Eugênio Raggi, o moderno Carnaval de Belo Horizonte tem origens políticas, mas vai um pouco além disto.
“Claro que o carnaval, o ato político, sempre foi um ato de resistência. Nasceu na resistência e continuou na resistência apesar das apropriações por parte do sistema. Em Belo Horizonte, este renascimento é fortemente vinculado à proibição do Marcio Lacerda, à chamada ocupação da Praça da Estação. É fortemente vinculado, mas não é só isso evidentemente. Eu acho que ele renasceria de qualquer forma, por algum motivo que não fosse esse. Esse motivo antecipou o ressurgimento desse carnaval, que é um movimento que estava já latente já há algum tempo. E que evidentemente se fortaleceu com a resistência ao Marcio Lacerda, então Lacerda ficou como um ‘pai do Carnaval de BH’ mesmo sem ter feito essa coisa de forma intencional", afirma Raggi.
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"Eu acho delicado também esse negócio de querer rotular e generalizar o Carnaval todo como resistência. O Carnaval existe desde que a sociedade brasileira busque se aprimorar. Essa experiência miscigenada que é a sociedade brasileira, formada por vários povos, com contribuições africanas, de povos europeus, de povos de outros lugares do mundo. Nós somos um povo diverso, mestiço, multicultural. E o Carnaval reflete isso. Querer reduzir o Carnaval a questão política e luta, eu acho que isso é reducionismo. O Carnaval é a expressão cultural do brasileiro mais reconhecida lá fora. Hoje, mais do que o futebol", ressalta Geo.
O cientista político e professor do Ibmec, Adriano Cerqueira, destaca que o Carnaval é um bom momento para políticos aparecerem e se tornarem mais conhecidos pela população. Mas, segundo ele, para que a folia impacte o debate eleitoral deste ano, é preciso que a própria população se mobilize e algo marcante aconteça durante o evento.
“A forma mais efetiva de promoção é se tornar mais conhecido de algum modo. Isso vale mais para quem administra a cidade ou até mesmo eventualmente o governador do Estado, se souber fazer uma boa propaganda em cima dos benefícios. Mas, dificilmente o Carnaval gera um impacto importante nas eleições, só se alguma coisa muito relevante acontecer, tanto positiva, quanto especialmente negativa. Eleição Municipal pode ser modificada na medida que o debate produzido na campanha envolvendo o Carnaval mobilize a população”, pondera o especialista.
Festa como como conhecimento e ocupação de espaços
A pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas e fundadora de um bloco de Carnaval no Rio de Janeiro, Débora Thome, entende que o Carnaval permite que os cidadãos vivam a cidade de uma forma diferente, o que contribui para uma manifestação política dos foliões.
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A pesquisadora destaca, ainda, que é possível perceber o que está sendo discutido na comunidade a partir das fantasias dos foliões e temas dos blocos que desfilam nas ruas. Por isso, Debora argumenta que é comum que os políticos participem das festas e tentem dialogar com os cidadãos.
“Todos os presidentes, governadores, prefeitos, ou quem quer que seja, participam dessa festa porque é um momento muito importante para manifestação cultural. E em um ano de eleição municipal isso fica mais interessante, porque estão surgindo novos nomes e debates. A própria questão das fantasias dialogam com os problemas da comunidade. Por exemplo, no Rio de Janeiro teve um ano que a água estava contaminada, e foi todo mundo fantasiado de água. A gente vê que é um momento de você fazer troça dessa vivência cotidiana”, explica.