'Minha alegria era quando vinha o Roberto Carlos', conta ex-governanta
Ludmila Pizarro
OTEMPO.com.br
Cenário de decisões políticas, dos bastidores da vida cultural e de festas que animavam a alta sociedade belo-horizontina há 40 anos, o Othon Palace Hotel encerra suas atividades no mês que vem evidenciando um legado da Copa do Mundo de 2014: o crescimento em 87,5% do número de leitos de hotéis da cidade, em quatro anos. “Há, sim, uma grande oferta de leitos em Belo Horizonte. A consequência de 2014 é que os estoques continuam sendo inaugurados, hotéis que iniciaram suas obras antes da Copa”, avalia a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-MG), Erica Drumond. Ela admite que sem o Othon, que fecha as portas em 18 de novembro, a taxa de ocupação do setor pode aumentar. “Mesmo assim, não vejo nada de positivo quando acontece o fechamento de uma unidade”, reitera.
Para ex-funcionários, o Othon Palace foi uma escola de hotelaria. “É ainda minha principal referência de aprendizagem. Os treinamentos da equipe eram constantes. Na minha época, a demanda era maravilhosa, o hotel vivia cheio em função dos eventos que aconteciam no entorno”, conta a gerente geral do hotel San Diego Lourdes, Glauce Naves Rodrigues, que foi gerente de vendas do Othon de 2007 a 2013. “A gestão do hotel acompanhava a vida do funcionário. O carinho que ele recebia da empresa se refletia no cuidado com o cliente”, conta a aposentada Magda Magalhães Otoni, 65, que trabalhou nos recursos humanos do Othon por 26 anos.
A aposentada Ana Maria Oliveira, 64, é outro exemplo. Ela trabalhou 27 anos no Othon e se aposentou em 2008. “Comecei como arrumadeira, fui supervisora de andar, assistente de governanta, até ser governanta”, diz. “Minha alegria era quando vinha o Roberto Carlos, ou o Fernando Henrique Cardoso, e a gente recebia os parabéns da gerência por causa dos elogios que eles deixavam pelo serviço prestado”, relata Ana Maria.
“Foi o local onde mais tive oportunidade de crescimento profissional”, conta Marla Domingos, que foi de estagiária a assessora de imprensa do hotel em cinco anos, entre 2004 e 2011. “O Encontro das Américas, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 2006, foi um dos momentos marcantes da minha carreira. Todos os chefes de Estado presentes, como o Lula e o Evo Morales, nós atendemos”, conta.
Espaço era ainda opção de moradia
Para jornalistas e executivos, o Othon era uma opção de moradia. “Um executivo da Fiat morou no hotel por três anos. Quando ele voltou para a Itália continuou em contato, ficamos amigos”, diz a ex-governanta do Othon Ana Maria Oliveira.
No início dos anos 2000, o jornalista Paulo César Oliveira, o PCO, morou por três anos no hotel. “Era ótimo para mim como jornalista, pelas relações que eu fazia por morar lá e por estar próximo de políticos e empresários”, afirma.
Segundo Oliveira, a política da cidade passava pelo Othon. “Em reuniões no Varandão, no 25º andar, muita coisa era decidida”, relembra.
Exigências
O Othon, até o surgimento do Ouro Minas, em 1996, era o destino natural dos artistas. “Se tinha alguma exigência, a gente fazia tudo para atender. Uma fruta exótica ou uma decoração diferenciada. O Roberto Carlos gostava de tudo branco”, conta o aposentado Milton Rodrigues Filho, 60, que foi gerente comercial do hotel de 1985 a 1998.
23º andar
O andar nobre do Othon Palace, onde celebridades e políticos eram recebidos, era o 23º. A 2.301 é a suíte presidencial, com 120 m² e uma banheira em mármore de Carrara. O apartamento 2315 é conhecido como semipresidencial, e é um pouco menor. A metragem média das suítes do Othon Palace é de 30 m², e a média do setor é 15 m².
Bar do Ponto
O endereço do Othon Palace, na esquina da avenida Afonso Pena com rua da Bahia, já era um ponto turístico antes de sua inauguração, em 1978. Funcionava no local o Bar do Ponto, frequentado por artistas e intelectuais da cidade. Para aproveitar a fama do lugar, o bar interno do Othon Palace adotou o mesmo nome e manteve a tradição.
Celebridades
“Uma vez o Ed Motta pediu um cacho de bananas inteiro no quarto. Achei curioso. Já a Maria Bethânia gostava de tudo muito claro e nunca entrava pela primeira vez na suíte sozinha”, conta Glauce Rodrigues. “Um dos maiores tumultos na porta do hotel ocorreu quando os Menudos ficaram hospedados lá, na década de 80”, lembra Milton Filho.