Os eleitores mineiros parecem estar cada vez mais descrentes em relação ao poder do voto. Dados preliminares do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) mostram que a eleição para governador deste ano tem o maior índice de votos em branco e nulo desde 2010: foram 2,5 milhões de votos não válidos registrados no primeiro turno, o que corresponde a 20,5% dos 15,7 milhões de mineiros aptos a votar.
Para se ter uma ideia do crescimento da parcela do eleitorado que não se identifica com nenhuma proposta, na última eleição para o governo do Estado, em 2014, os mineiros que votaram nulo ou em branco somaram 2 milhões de votos, equivalente a 16% do eleitorado. Ou seja, de 2014 para 2018, houve um crescimento de 25% dos votos não válidos.
A tatuadora Carolina Isabella está inserida no grupo do “nem um, nem outro” e vai anular o voto no segundo turno em Minas Gerais. “Nem o Zema e nem o Anastasia olham pelo lado dos mais pobres. E nenhum dos dois têm propostas boas para tirar Minas da crise. Então, não me sinto obrigada a escolher o menos pior”, diz.
Nessa reta final da corrida ao Palácio da Liberdade e até o momento, o percentual de eleitores que vai anular ou votar em branco também tem crescido. Hoje, esse eleitorado soma 10% dos votos, segundo a mais recente pesquisa Ibope, divulgada na última terça-feira. Na semana passada, em levantamento também do Ibope, publicado dia 17, o número de eleitores que não se identificavam com nenhum candidato era de 8%.
Para o cientista político Mauro Bonfim, professor da UFMG, a reta final do segundo turno normalmente serve aos candidatos como forma de convencer indecisos, mas nestas eleições tem tido um efeito inverso mais visível: afastar o eleitorado mais descrente, aumentando o número de nulos e brancos.
“Começa um vale tudo pelos votos nesses últimos dias de campanha. Em uma situação normal, candidatos teriam mais poder para ‘virar votos’. Mas o discurso tão polarizado e a sensação de ser obrigado a votar em alguém trouxe uma resposta do eleitorado, que é o voto nulo e branco”, analisa Bonfim.
Quadro geral
Se consideradas as votações para todos os cargos (presidente, governador, deputados e senador), o número de mineiros que optou por não votar cresceu 30% nos últimos oito anos. Em 2010, foram 2,6 milhões de abstenções, contra 3,4 milhões apenas no primeiro turno deste ano no Estado.
DEPOIMENTOS
Digite aqui a legenda
“Eu tenho evitado conversar sobre política. Um tanto de gente tentando me dar santinho, adesivo, bandeira. Não consigo acreditar em nenhum dos dois que estão aí. Um já foi governador e teve sua chance, mas não fez. O outro já mostrou que não conhece o Estado, como é que vai montar uma equipe séria e governar com confiança? Para mim, qualquer um deles vai deixar Minas na mesma situação. No primeiro turno eu também anulei, vou fazer de novo com a consciência tranquila porque quero o melhor, não o menos pior”
Camila Naiara, estudante
“No primeiro turno eu não votei em nenhum dos dois e agora vou ser coerente com meu voto. Não acho que o Zema ou o Anastasia têm capacidade de gerir o Estado. Todos dois prometem coisas que vão atrapalhar a qualidade de vida do cidadão. Nenhum deles fez um programa de verdade para o desenvolvimento do Estado. Eles querem apenas cortar os benefícios dos trabalhadores, falam em demissões, diminuições de salários. Não acho que o trabalhador tem que pagar o pato pela situação de Minas Gerais”
Marcelo Vilela, salgadeiro
“Não consigo acreditar em nenhum dos dois. O Anastasia esteve aqui como governador e não fez nada pelo Estado. Como senador, também não fez nada pelos mineiros. No primeiro turno eu até cheguei a votar no Zema, mas comecei a achar ele fraco, sem conhecimento da administração do Estado e também sem base para governar. Ele não se mostrou qualificado para enfrentar as dificuldades financeiras de Minas. É por isso que eu vou anular. Não me sinto representado por nenhum dos dois”
Pedro Miranda, contador
“Infelizmente, o meu candidato não foi para o segundo turno. E não acho que os que estão aí têm condições de resolver os problemas de Minas. Eu tenho um pensamento mais liberal e, mesmo assim, não vejo Anastasia repetindo os mesmos erros de antes. E o Zema, mesmo sendo um nome novo, não passa qualquer credibilidade. É por isso que eu vou anular meu voto. Não quero ser levada a votar em qualquer um só porque não temos outra opção. É votando nulo que mostramos nossa indignação com esse sistema”
Bárbara Alves, estudante