Diante da multidão que curtia a programação da 22ª Parada do Orgulho LGBT em Belo Horizonte, na tarde deste domingo, o prefeito Alexandre Kalil disparou três conselhos, como mensagem final de seu breve discurso sobre igualdade e ocupação da cidade. "Primeiro, (digam mais) 'não sei', porque isso é libertador. Depois, virem para quem está ao seu lado e diga 'eu te amo'. E terceiro: 'F...-se' aos que pensam ao contrário. F...-se eles todos", disse, arrancando aplausos do público. Antes, Kalil havia mencionado que "ninguém manda nesta cidade a não ser o povo de Belo Horizonte".
Para relembrar o surgimento do movimento LGBT+, a comunidade saiu às ruas da capital mineira neste domingo com o tema “Não aos retrocessos! Revivendo Stonewall”. A temática retratada tem dois pontos principais: o primeiro é a comemoração dos 50 anos do levante de Stonewall, que marcou o surgimento do movimento social organizado LGBT e, consequentemente, das paradas no mundo. O segundo é a denúncia sobre retrocessos nos direitos sociais e fortalecer as lutas do presente.
Origens
Em junho de 1969, o Stonewall Inn, bar no Sul de Manhattan frequentado por gays, lésbicas e transexuais, foi palco de confrontos entre seu público e a polícia. Os distúrbios começaram na madrugada de 28 de junho e duraram seis dias, iniciando um movimento organizado de luta pelos direitos dos homossexuais. Isso porque até no fim dos anos 1960, a homossexualidade era considerada uma doença, o sexo homossexual era ilegal nos Estados Unidos e os gays viviam de modo secreto e podiam perder o emprego ou suas casas se fossem descobertos. Nenhuma lei protegia a comunidade. Muitas vezes eram atacados nas ruas ou detidos pela polícia por conduta indecente.
Segundo o presidente do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (CELLOS/MG), órgão organizador da Parada LGBT de Belo Horizonte, a responsabilidade de manter a memória de Stonewall viva é mais que necessária. “As pessoas ocuparam as ruas como forma de protesto e desde esse dia estamos lutando por direitos. Isso aconteceu há 50 anos. Lembrando que um povo sem passado (memória) é um povo sem identidade. Foi relembrar nossa origem e construir pontes com o presente”, disse Azilton Viana. Viana destaca também os retrocessos vividos nos âmbitos sociais: “estamos num momento político e social de acirramento social com uma agenda conservadora de costumes com grande incidência sobre as questões políticas o que interfere na elaboração de políticas públicas e na supressão de direitos.”
A primeira parada de Belo Horizonte, em 1997, então conhecida como Parada do Orgulho Gay, foi promovida pela Associação Lésbica de Minas (Além), em reivindicação pelo reconhecimento à diversidade sexual de gênero, além do respeito aos direitos humanos. “Sua importância está ligada diretamente a visibilidade, orgulho e reivindicação de direitos. Temos orgulho de sermos LGBT e exigimos respeito. A parada aumenta cada ano porque as pessoas se sentem representadas. E esperamos que continue assim”, disse Viana. Em 2018, 150 mil pessoas participaram do evento. A Cellos acredita que cerca de 200 mil pessoas participem.
A programação está marcada para este domingo, na Praça da Estação, a partir das 11h. Grupos de dança e drag queens de Belo Horizonte se apresentam a partir das 11h. Às 16h, o cortejo sai em direção à Rua Guaicurus – quarteirão entre a Avenida Andradas e a Rua da Bahia –, segue pela Rua da Bahia até o acesso à Avenida Amazonas, atravessa a Praça Sete e finaliza na Praça Raul Soares. “Buscamos representação das identidades e ainda mais a valorização de artistas locais. Defender e divulgar o trabalho daqueles e daquelas que atuam na noite e não tem oportunidade de se apresentar para grande público. As pessoas que estão todos os dias fazendo a diferença na cultura LGBT”, explicou. Durante o evento, alguns serviços municipais estarão disponíveis para orientações e atendimentos nas áreas da assistência social, cidadania e saúde, em tendas de atendimento ao público, disponibilizadas pelos organizadores da Parada LGBT.
Dom Walmor e evangélicos
O prefeito Alexandre Kalil disse, em entrevista, que trata o evento LGBT com "a mesma importância de quando sou convidado para reunir com os pastores evangélicos, para ouvir suas reivindicações, ou receber Dom Walmor". Para ele, "quem não tem a sensibilidade que está governando para todo mundo, ou seja, para quem precisa e todos precisam, é porque está na contramão do que está acontecendo hoje".