Patrimônio histórico de Ouro Preto, Mariana, São João del Rei e Tiradentes está ameaçado

A mesma falta de recursos que pode ter servido como chama para incendiar o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, afeta os museus das principais cidades históricas em Minas Gerais. Com as estruturas no limite, o patrimônio histórico de Ouro Preto e Mariana, na região Central do Estado, e de São João del Rei e Tiradentes, no Campo das Vertentes, também está ameaçado.

Em São João del Rei, o Museu Tomé Portes Del-Rei, único de gestão municipal, vive no limite, segundo o secretário de Cultura da cidade, Marcus Fróis. O casarão onde está instalada a instituição, conhecido como Casa da Bárbara Heliodora, é o mesmo onde funciona a secretaria. O prédio chegou a ficar interditado, em 2010, por causa de risco de desabamento do teto.

Um investimento foi feito para solucionar o problema, mas a estrutura ainda é precária. Para se ter uma ideia, ela divide o padrão de energia com a casa anexa, onde funcionam a Biblioteca Pública e a Academia de Letras da cidade.

Em breve, o museu deverá passar para um casarão ao lado, e um projeto de reestruturação está sendo feito. “A gente não tinha recurso para pagar uma museóloga para cuidar do acervo. Mas, agora, conseguimos uma estagiária da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), que está fazendo o planejamento gratuitamente”, conta o secretário.

A situação não difere da vizinha Tiradentes. Não existem museus municipais na cidade, mas a dificuldade financeira desses espaços locais é notória, segundo o secretário de Cultura do município, Moisés Oliveira. “Pelo que acompanhamos com os gestores desses museus, eles sofrem muito para conseguir recursos. E o custo de manutenção dos locais é altíssimo”, afirma. Ele salienta que os espaços têm uma relevância não somente por atraírem turistas em uma cidade que vive do patrimônio histórico, mas também na formação cultural dos moradores.

Gestor de um dos museus da cidade, o da Liturgia, Rogério de Almeida confirma as dificuldades. “A gente consegue, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, dinheiro para manter o museu aberto. Mas não conseguimos desenvolver ações culturais para atrair pessoas”, explica.

Por causa da dificuldade financeira, o espaço chegou a ficar fechado oito meses, entre meados de 2013 e o início de 2014. E, mesmo com todo o esforço, não tem conseguido atrair mais visitantes. “Podemos receber até 3.000 pessoas por mês, e apenas uma média de 500 nos visita”, lamenta.

Em Mariana, também não existem museus municipais. Mas os que estão localizados na cidade sofrem da mesma escassez de recursos. “Temos um patrimônio riquíssimo aqui, mas eles são muito deficitários”, afirma o secretário de Cultura da cidade, Efraim Rocha.

Teatro é alugado para eventos

Em Ouro Preto, na região Central, onde há apenas um museu municipal, a prefeitura busca parcerias com a iniciativa privada para manter abertos os equipamentos culturais.

A medida começou a ser adotada na Casa da Ópera, o teatro da cidade. O espaço, que tem 248 anos, chegou a ficar fechado em dois períodos recentes: entre 2014 e 2016, para a recuperação de uma viga, e no ano passado, por dificuldades financeiras.

Uma das medidas adotadas para permitir que as portas do local fossem reabertas foi alugar a casa para a realização de eventos. “Sem parcerias com a iniciativa privada, hoje, a gestão de qualquer patrimônio cultural é inviável”, afirma o secretário de Cultura da cidade, Zaqueu Astoni. “Não pago a ninguém para se apresentar na Casa da Ópera, e temos eventos lá durante o ano todo”, diz.

Enquanto isso, a Casa dos Inconfidentes, único museu administrado pela prefeitura, tem movimento tímido, já que o município, cuja arrecadação de 2017 foi três vezes menor do que no ano anterior, tem reservado menos recursos para o espaço, segundo o secretário.

Após o incêndio no Museu Nacional, a Prefeitura de Ouro Preto começou a fazer um pente-fino para mapear as condições dos prédios históricos da cidade.

Força-tarefa. O governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), anunciou que o Estado vai realizar uma força-tarefa para vistoriar as principais edificações e os conjuntos históricos geridos pelo governo estadual.

A ação, assinada por meio de decreto, vai reunir equipes da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros e da Secretaria de Estado de Cultura. Os trabalhos vão ser iniciados na segunda-feira.

Igreja deve passar por reforma

Fechada desde 2013 devido ao risco de queda da estrutura, a igreja de São Francisco de Assis, em Mariana, está a um passo de conseguir recursos para ser reformada.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estuda a liberação de R$ 14 milhões para as obras na igreja e na Casa do Conde, casarão anexo ao local onde será instalado o museu da cidade.

O assunto entrou em pauta em reunião realizada nesta terça-feira (4) pela direção do banco. Até o fechamento desta edição, os participantes do encontro ainda estavam reunidos, mas uma fonte revelou à reportagem que o processo estaria próximo de ser aprovado. Segundo o secretário de Cultura de Mariana, Efraim Rocha, as obras devem durar dois anos.

Mobilização

Manifestação. Alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vão realizar um ato em luto pelo Museu Nacional nesta quarta-feira (5), às 17h, no gramado da reitoria da instituição. O evento está sendo organizado por meio de redes sociais e contava com mais de cem confirmações de presença até o fechamento desta edição.

Cultura. A falta de investimento em museus é danosa para a formação cultural da população, segundo Leônidas Oliveira, professor de cultura e patrimônio histórico da PUC Minas. “É esse patrimônio cultural que nos ajuda a dar sentido de pertencimento a um lugar. (Isso) é importante para a formação da memória e da cultura de um povo”, avalia.