Movimento Maio Amarelo começa nesta semana com foco na redução dos números


 
Minas Gerais registrou, em média, oito acidentes de trânsito com vítima por hora nos três primeiros meses deste ano, somando 17.528 ocorrências. Foram quase cinco mortes por dia entre janeiro e março, um total de 445.

Os números caíram em comparação com o mesmo período de 2018, mas, na avaliação de especialistas, ainda estão longe do ideal e, por isso, é necessário fortalecer a educação e a conscientização de condutores e pedestres.

Este é o foco do movimento Maio Amarelo, que neste ano quer fazer as crianças convencerem os adultos a refletirem sobre o comportamento nas ruas.

A falta de atenção é a principal causa dos acidentes. Das 74.995 ocorrências com vítima registradas em todo o ano passado, 31.258 (41%) foram provocadas por esse motivo.

"As infrações que ocorrem mais são as em que há descuido do condutor, que às vezes utiliza celular ou mexe no rádio, o pedestre que atravessa sem prestar atenção. (O objetivo da campanha) é justamente conscientizar a população sobre a necessidade dessa atenção maior no trânsito, a conscientização tem que ser de todos", afirma o diretor do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), delegado-geral Kleyverson Rezende.

Neste ano, o movimento Maio Amarelo chega à sexta edição com o tema “No trânsito, o sentido é a vida”. Com campanhas protagonizadas por crianças, a ideia é incentivar os adultos a ouvirem os conselhos dos mais jovens e a refletirem sobre o comportamento nas vias.

O mês de maio tornou-se referência, porque naquele mês, em 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a Década de Ação pela Segurança no Trânsito. A meta era a redução do número de vítimas pela metade em dez anos, mas o país ainda está longe de alcançá-la: em 2011, houve 43.256 óbitos e, em 2017, 34.336, uma queda de 20%.

"Estamos longe de estabelecer um número bom. A educação é a base de toda sociedade que queira ter sucesso em qualquer coisa, não seria diferente no trânsito", diz o representante do Maio Amarelo em Minas Gerais do Observatório Nacional de Segurança Viária, Maurício Pontello. Para ele, a medida anunciada pelo presidente da República Jair Bolsonaro de cancelar a instalação de 8.000 radares nas rodovias federais não cabe. "A maior causa de mortes no Brasil é exatamente o excesso de velocidade", pontua.

Para o consultor em transporte e trânsito Osias Baptista Neto, o ano inteiro deveria ser amarelo para conscientizar os motoristas da capital. "Eles ainda são muito indisciplinados, acreditam que podem levar vantagem nas pequenas coisas e continuam não respeitando o direito de todos", diz. "Devemos buscar que não morra ninguém, porque o trânsito não é uma atividade mortal, é algo do dia a dia das pessoas. As mortes devem tender para zero, por mais difícil que seja", afirma.

Perfil. A maioria dos infratores no trânsito são homens, com idade aproximada de 30 anos e com cinco a dez anos de habilitação, segundo o juiz do Juizado Especial Criminal Roberto Oliveira Araújo Silva. Ele explica que o Juizado recebe crimes de trânsito de pequeno potencial ofensivo, com pena máxima de dois anos, como a transferência da condução para pessoa não habilitada.

Nesses casos, há penas alternativas, como prestação de serviços à comunidade e encaminhamento para grupos de reflexão, onde o infrator assiste a palestras e reflete sobre a gravidade do erro.

"A experiência que a gente tem é muito proveitosa, porque os índices de reincidência diminuem bastante. A média de comparecimento é bastante alta", conta.

Gastos com atendimento médico são altos

As vítimas de acidente de trânsito geram gastos altos e evitáveis para o sistema público de saúde, que podem prejudicar o atendimento a outros casos, segundo o diretor assistencial da Rede Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Marcelo Lopes Ribeiro.

"Infelizmente, está estreitando cada vez mais o recurso financeiro, e temos que dar um jeito de otimizar custos. Claro que o principal é a saúde, não importa o quanto vai custar, temos que salvar a vida do paciente, porém é uma coisa completamente evitável", afirma.

Segundo Ribeiro, uma placa definitiva, utilizada em fraturas simples, custa em torno de R$ 10 mil, por exemplo, e um fixador externo custa R$ 25 mil.

"Tem contas lá dentro do hospital de R$ 900 mil com um único paciente. Se eu canalizo gastos para isso, pode faltar em outro tipo de atendimento. Temos que conscientizar a população e reduzir esse recurso financeiro, porque senão vai chegar um momento em que nós não vamos ter como atender", diz.

De acordo com Ribeiro, a maioria dos motociclistas que buscam atendimento na rede não possui habilitação. "Uma coisa que está assustando a gente é o tanto de gente que está ficando paraplégica e tetraplégica vítima de queda de moto, e o número de atropelamentos tem aumentado muito com moto".