Movimento Maio Amarelo começa nesta semana com foco na redução dos números
Os números caíram em comparação com o mesmo período de 2018, mas, na avaliação de especialistas, ainda estão longe do ideal e, por isso, é necessário fortalecer a educação e a conscientização de condutores e pedestres.
Este é o foco do movimento Maio Amarelo, que neste ano quer fazer as crianças convencerem os adultos a refletirem sobre o comportamento nas ruas.
A falta de atenção é a principal causa dos acidentes. Das 74.995 ocorrências com vítima registradas em todo o ano passado, 31.258 (41%) foram provocadas por esse motivo.
"As infrações que ocorrem mais são as em que há descuido do condutor, que às vezes utiliza celular ou mexe no rádio, o pedestre que atravessa sem prestar atenção. (O objetivo da campanha) é justamente conscientizar a população sobre a necessidade dessa atenção maior no trânsito, a conscientização tem que ser de todos", afirma o diretor do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), delegado-geral Kleyverson Rezende.
Neste ano, o movimento Maio Amarelo chega à sexta edição com o tema “No trânsito, o sentido é a vida”. Com campanhas protagonizadas por crianças, a ideia é incentivar os adultos a ouvirem os conselhos dos mais jovens e a refletirem sobre o comportamento nas vias.
O mês de maio tornou-se referência, porque naquele mês, em 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a Década de Ação pela Segurança no Trânsito. A meta era a redução do número de vítimas pela metade em dez anos, mas o país ainda está longe de alcançá-la: em 2011, houve 43.256 óbitos e, em 2017, 34.336, uma queda de 20%.
"Estamos longe de estabelecer um número bom. A educação é a base de toda sociedade que queira ter sucesso em qualquer coisa, não seria diferente no trânsito", diz o representante do Maio Amarelo em Minas Gerais do Observatório Nacional de Segurança Viária, Maurício Pontello. Para ele, a medida anunciada pelo presidente da República Jair Bolsonaro de cancelar a instalação de 8.000 radares nas rodovias federais não cabe. "A maior causa de mortes no Brasil é exatamente o excesso de velocidade", pontua.
Para o consultor em transporte e trânsito Osias Baptista Neto, o ano inteiro deveria ser amarelo para conscientizar os motoristas da capital. "Eles ainda são muito indisciplinados, acreditam que podem levar vantagem nas pequenas coisas e continuam não respeitando o direito de todos", diz. "Devemos buscar que não morra ninguém, porque o trânsito não é uma atividade mortal, é algo do dia a dia das pessoas. As mortes devem tender para zero, por mais difícil que seja", afirma.
Perfil. A maioria dos infratores no trânsito são homens, com idade aproximada de 30 anos e com cinco a dez anos de habilitação, segundo o juiz do Juizado Especial Criminal Roberto Oliveira Araújo Silva. Ele explica que o Juizado recebe crimes de trânsito de pequeno potencial ofensivo, com pena máxima de dois anos, como a transferência da condução para pessoa não habilitada.
Nesses casos, há penas alternativas, como prestação de serviços à comunidade e encaminhamento para grupos de reflexão, onde o infrator assiste a palestras e reflete sobre a gravidade do erro.
"A experiência que a gente tem é muito proveitosa, porque os índices de reincidência diminuem bastante. A média de comparecimento é bastante alta", conta.
Gastos com atendimento médico são altos
As vítimas de acidente de trânsito geram gastos altos e evitáveis para o sistema público de saúde, que podem prejudicar o atendimento a outros casos, segundo o diretor assistencial da Rede Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Marcelo Lopes Ribeiro.
"Infelizmente, está estreitando cada vez mais o recurso financeiro, e temos que dar um jeito de otimizar custos. Claro que o principal é a saúde, não importa o quanto vai custar, temos que salvar a vida do paciente, porém é uma coisa completamente evitável", afirma.
Segundo Ribeiro, uma placa definitiva, utilizada em fraturas simples, custa em torno de R$ 10 mil, por exemplo, e um fixador externo custa R$ 25 mil.
"Tem contas lá dentro do hospital de R$ 900 mil com um único paciente. Se eu canalizo gastos para isso, pode faltar em outro tipo de atendimento. Temos que conscientizar a população e reduzir esse recurso financeiro, porque senão vai chegar um momento em que nós não vamos ter como atender", diz.
De acordo com Ribeiro, a maioria dos motociclistas que buscam atendimento na rede não possui habilitação. "Uma coisa que está assustando a gente é o tanto de gente que está ficando paraplégica e tetraplégica vítima de queda de moto, e o número de atropelamentos tem aumentado muito com moto".