Estado registrou aumento de 14,4% dos autoextermínios cometidos em 2017 em relação a 2016

Um empresário de 67 anos sai de casa bem cedo e se despede da mulher, dizendo que vai resolver questões de trabalho. Na empresa, ele deixa mensagens no computador com recomendações para cada um da família, dando orientações de como eles deveriam agir em relação aos negócios e às dívidas. Em seguida, sai do prédio, levando só a carteira de motorista, caminha alguns metros e se joga do viaduto da avenida Francisco Sales, no bairro Floresta, na região Leste da capital.

Um dos filhos do empresário passa de carro no momento e vê o pai cometer suicídio. Ele corre na tentativa de salvá-lo, mas não consegue. “Meu pai não deu nenhum sinal de que iria se matar. No dia anterior, ele se despediu de mim na empresa com um abraço, dizendo para eu ficar com Deus, o que não era normal”, conta o filho, de 43 anos, que preferiu não se identificar.

O suicídio ocorreu em 1º de abril do ano passado e engrossou as estatísticas de 2017, quando Minas registrou 1.425 autoextermínios, contra 1.245 em 2016, um aumento de 14,4%.

O levantamento é da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, que revela ainda que, entre 1º de janeiro e 17 de agosto deste ano, um total de 595 pessoas tirou a própria vida no Estado, uma média de quase três casos por dia.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, uma a cada 40 segundos, sendo a segunda principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos. No Brasil, cerca de 11 mil pessoas se matam todos os anos, uma média de 32 casos por dia.

O silêncio piora. Na maioria das vezes, as mortes não são divulgadas para se evitar um efeito contagioso, mas, diante do aumento das estatísticas, especialistas alertam que silenciar sobre o assunto não ajuda, mas sim piora a situação.

“É cultural não falar sobre suicídio, por medo ou vergonha. A gente tem medo daquilo que a gente não compreende”, afirma o psiquiatra Júlio César Vieira Menezes.

O especialista, que é diretor clínico do Hospital Espírita André Luiz, em Belo Horizonte, alerta para a importância de se combater o pensamento leigo de que falar sobre suicídio pode induzir o autoextermínio.

“Ao contrário. Se falarmos que o suicídio é uma fase final de várias doenças graves, vamos estar prevenindo”, explica Menezes.

Conscientização. A campanha foi criada em 2015 pelo Ministério da Saúde para fomentar o diálogo sobre o suicídio. O Hospital Espírita André Luiz promove seminário para debater o assunto no dia 11, das 18h às 20h, no Clube dos Oficiais (rua Diabase, 200, bairro Prado).

‘Aviso é pedido de socorro’, diz médico

Por trás do suicídio, segundo o psiquiatra Júlio César Vieira, estão doenças como os transtornos de humor e bipolar, a depressão e a esquizofrenia. “A dependência química por álcool também é uma das importantes causas de suicídio, assim como os transtornos de personalidade emocionalmente instável. Isso corresponde a 98% de todas as causas de suicídio. O suicídio é a fase final de todas essas doenças”, afirma o médico, que reforça que esses transtornos psiquiátricos têm tratamento.

Entre os sinais que podem levar ao autoextermínio está o “aviso” que, muitas vezes, as pessoas dão ao afirmarem que vão cometer suicídio. “Aquele ditado popular de que ‘cão que ladra não morde’ não vale para o suicídio. Quando alguém diz que vai suicidar, quer chamar a atenção. É um pedido de socorro. E os que falam cometem o ato”, alerta.