De acordo com o regimento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), títulos de Doutor Honoris Causa são concedidos "em reconhecimento a contribuições relevantes para a ciência, a tecnologia ou a cultura". Na noite dessa segunda-feira (22/12), dois dos maiores representantes da música mineira entraram para um seleto grupo de pessoas já agraciadas com essa homenagem: Milton Nascimento e Toninho Horta, ambos participantes do mundialmente enaltecido Clube da Esquina.
A solenidade foi realizada no auditório da Reitoria da UFMG, no campus Pampulha, em Belo Horizonte. Por questão de saúde, Milton Nascimento não pôde comparecer pessoalmente, mas acompanhou a homenagem de maneira virtual. Ele foi representado por Wilson Lopes, que, além de professor da Escola de Música da UFMG, é amigo de Bituca e atuou na banda dele diversas vezes desde 1993. Já Toninho Horta compareceu à diplomação, da qual foi o centro das atenções.
O guitarrista ainda fez questão de lembrar do amigo Lô Borges, morto no último dia 2 de novembro, aos 73 anos. "Ele também merecia isso (o título de Doutor Honoris Causa)". Em entrevista ao Estado de Minas, o músico voltou a destacar a importância do parceiro no Clube da Esquina. "Pode-se considerar que ele é um dos caras mais emblemáticos da música de Minas Gerais. Perdê-lo, nesse momento, é muito triste", lamentou.
Por fim, o músico, que é autodidata, agradeceu o título. "Ter um reconhecimento desses, de uma universidade reconhecida musicalmente, inclusive, a nível nacional, é muito representativo para minha carreira e minha vida, porque a gente sempre acreditou na música", disse. "Eu só vivo por causa da música", concluiu.
Ele também destacou o apoio que recebeu da família durante a trajetória artística, em particular, da irmã Gilda, da qual é parceiro desde os 13 anos.
Bituca
Já o violonista Wilson Lopes, que representou Milton Nascimento, prometeu durante o discurso que levará, pessoalmente, o diploma a Bituca. Ele lembrou da longa trajetória de vida que compartilhou com o cantor, o qual conheceu ainda na adolescência, em 1993, quando tinha entre 15 e 16 anos. "O maior legado do Clube da Esquina é a simplicidade e a amizade entre os integrantes", afirma.
O professor salientou ainda que ministra uma disciplina no curso de música da UFMG dedicada a Bituca. Intitulada de "A Música de Milton Nascimento", a cadeira acadêmica é mais uma prova da importância da música popular composta pelo cantor que nasceu no Rio de Janeiro, mas despontou em Minas Gerais. "Isso é muito rico para as universidades. O estudo dessa música requer muita atenção e dedicação. E isso dá um desenvolvimento social total", pontuoui.
Além do legado musical, Wilson Lopes enalteceu o exemplo de Milton Nascimento também como ser humano. "Ele é uma pessoa das mais maravilhosas que temos nesse mundo", relatou. "Ele só fala de amor, de amizade; só pensa nisso", complementou.
Apresentações fecham homenagens e emocionam público
Ao fim da diplomação, duas apresentações musicais mostraram, na prática, a importância artística dos homenageados. Na primeira delas, um sexteto de alunos do curso de música da UFMG interpretou algumas das mais emblemáticas canções do Clube da Esquina, dentre elas, "O trem azul", "Clube da esquina II" e "Caxangá".
Posteriormente, Toninho Horta se juntou a Wilson Lopes e a outros professores da universidade para interpretar mais obras do grupo, como "Ponta de areia", "Canção do sal" e "Cravo e canela". O público, que abarrotou o auditório da reitoria da UFMG, não escondeu a emoção, cantando e batendo muitas palmas durante as duas apresentações.
Processo rigoroso
A professora Sandra Goulart de Almeida, reitora da UFMG, enfatizou o rigor com o qual os homenageados pela instituição são escolhidos. "Temos um processo que está registrado no nosso estatuto. Primeiro, surge uma apresentação por cinco nomes da academia: é aprovado por escrutínio secreto na escola de música, escrutínio secreto no conselho universitário. E os dois nomes (de Milton Nascimento e Toninho horta) foram aprovados por unanimidade", relatou.
"É um processo bastante rigoroso e, até hoje, em sua história de quase 100 anos, a UFMG só deu duas dúzias de títulos de Doutor Honoris Causa", ponderou a reitora. As indicações de Milton Nascimento e Toninho Horta foram feitas pelos professores Mauro Rodrigues e Wilson Lopes, da Escola de Música da UFMG, a mais antiga que a própria universidade, com 100 anos completados em 2025. No caso, o Conservatório Mineiro de Música foi criado em 1925 e integrado à instituição de ensina na década de 1960.
Sandra Goulart de Almeida lembra que, além da obra artística, Milton Nascimento teve atuações de destaque em momentos históricos do Brasil, como na "Missa dos Quilombos", em 1981, e no movimento "Diretas, Já", em 1983. A professora classificou essas ações como um "compromisso com a democracia" por parte do músico.






