Uma jornalista de Belo Horizonte foi atacada por internautas na manhã desta quarta-feira (26) ao ser confundida com uma repórter homônima do jornal Folha de S. Paulo. Marina Dias teve sua foto e dados pessoais (inclusive telefones) divulgados em redes sociais por ter sido apontada como autora da reportagem “Ex-mulher afirmou ter sofrido ameaça de morte de Bolsonaro, diz Itamaraty”, publicada nesta terça (25) pelo jornal paulista.
“Acordei cedo com mensagens de um amigo com os prints das postagens (que a atacavam). Aí que fui ver e entender o que estava acontecendo. Alguém viu um tuíte dizendo 'procure sempre pesquisar quem é o jornalista' e deu Google pelo nome Marina Dias. Achou o meu perfil e divulgou”, conta Marina, que está bastante abalada com os comentários ofensivos direcionados a ela. “Uma coisa é não concordar com o trabalho de uma pessoa. Outra é ofender”.
Internautas postaram que Marina Dias, além de repórter da Folha, seria filha de um secretário do PT. Isso fez com que a Marina de Belo Horizonte recebesse várias ofensas pessoais em publicações no Twitter e Facebook, com o uso de palavras de baixo calão, comentários misóginos e até ameaças: "vai ter o que merece", diz um dos posts. Ela passou a manhã trocando senhas de suas contas nas redes sociais e está buscando assistência jurídica para saber que ações deve tomar. A jornalista também pretende procurar a Polícia Civil para reportar as ofensas.
Após a mobilização de amigos de Marina, avisando que os eleitores de Jair Bolsonaro estariam divulgando foto da jornalista que não escreveu a matéria, vários posts foram apagados. Alguns deles foram feitos por perfis com muitos seguidores:
Marina recebeu ainda um e-mail dizendo que ela devia parar de escrever fake news. Ela respondeu dizendo que não era a pessoa responsável pela reportagem polêmica. “A gente sabe que a Internet é terra sem lei e que esse tipo de coisa acontece, isso é triste em qualquer caso. É triste ver como as pessoas não se preocupam com as fontes, com a credibilidade. Ninguém foi lá conferir o dado”, lamenta.
A reportagem em questão afirma que a segunda ex-mulher do candidato à Presidência Jair Bolsonaro, Ana Cristina Valle, foi para a Noruega em 2011 para fugir do então marido, que a havia ameaçado de morte. A reportagem, assinada por Marina Dias e Rubens Valente, se baseia em telegramas divulgados pelo Itamaraty por meio da Lei de Acesso à Informação. Mesmo com os prints dos telegramas, muitas pessoas afirmaram que a Folha divulgou uma fake news, já que a notícia foi negada por Ana Cristina em um vídeo.
O Hoje em Dia entrou em contato por e-mail com a repórter da Folha Marina Dias, mas ainda não obteve retorno.
Injúria, calúnia ou difamação
O advogado especializado em Direito Digital Alexandre Atheniense explica que pessoas que compartilham ou postam conteúdos que vão além da liberdade de expressão podem ser processadas criminalmente ou na esfera cível. “Os internautas divulgaram algo que ela não fez. Isso alcança não somente quem fez comentários, como também as que repassaram a notícia falsa”, diz.
As acusações falsas e os comentários ofensivos podem ser considerados injúria, calúnia ou difamação, conforme o conteúdo. A vítima tem o direito de buscar indenização por danos morais caso se sinta ofendida.