Mais de 900 soldados aprovados em um concurso público, de 2018, iniciam o processo de formação nos próximos dias. O reforço no efetivo é para a Grande BH. Porém, grande parte dos novos profissionais da Polícia Militar vai atuar diretamente nas ruas de Belo Horizonte até o fim deste ano. A informação foi antecipada pelo coronel Eduardo Felisberto Alves, que recentemente assumiu o Comando de Policiamento da Capital (CPC).

Por dificuldades de caixa, o governo havia suspendido o curso, previsto para fevereiro do ano passado. Em entrevista, o oficial - que no último dia 3 completou 28 anos de corporação - também destacou a redução de quase 80% dos crimes violentos desde a implantação das bases móveis na metrópole. Confira a entrevista.

O senhor assumiu o CPC no fim de janeiro. Qual o principal desafio à frente do cargo?


A Polícia Militar é uma instituição de Estado, que tem regras e metas que precisam ser alcançadas. Tenho metas a cumprir e vão ser cumpridas. Hoje, o principal trabalho em Belo Horizonte é continuar com a linha de redução criminal, que começou em 2016. Tenho que continuar nessa trajetória de redução dos crimes violentos e furtos. No caso dos homicídios, a instituição tem o propósito de chegar, ao fim do ano, com 12 por 100 mil habitantes. Nos 40 primeiros dias de 2020, estamos com uma taxa de 11,2 por 100 mil habitantes. Queremos trazer cada vez mais a sensação de segurança para a cidade. Temos que entregar esses resultados para o Estado e para a população.

Com essa queda, quantos assassinatos deixaram de acontecer na capital?


No ano passado foram 60 homicídios a menos. Hoje, para ter uma ideia, BH tem uma taxa de homicídios menor do que Chicago, Filadélfia e Detroit. Também estamos abaixo de algumas cidades europeias. Então, estamos no caminho certo.

Mas quais são os principais problemas de segurança enfrentados atualmente na cidade? 


Todas as dez modalidades crimes violentos. E os furtos, apesar de não serem violentos, também monitoramos e trabalhamos metas para eles. É um crime de menor potencial ofensivo, mas interfere na sensação de segurança. Então, trabalhamos para alcançar um resultado que é a melhoria da sensação de segurança na cidade.

“Trabalhamos com estratégia. O aumento no efetivo (para o Carnaval) foi baseado naquilo que a Belotur trouxe de expectativa de público, que é em torno de 10% a mais em relação ao ano passado”


E como a PM tem atuado para diminuir os índices de furtos?


Parece ser tímida (a queda), mas quando falamos em 9% ou 10% são milhares de crimes que deixaram de acontecer. O número absoluto é alto, e ele acontece em mais quantidade porque é um crime de oportunidade. Diferentemente dos violentos, o bandido que comete furto vai atuar naquilo que é mais fácil. Não estou falando que a vítima tem culpa, mas medidas de autoproteção ajudam na prevenção do delito. E é o que vamos trabalhar neste ano, multiplicar essas medidas de auto-proteção para que as pessoas nos auxiliem a fazer a segurança delas.

Qual a meta da PM para os crimes de furto?


Nossa meta de redução é de 4,5% em relação ao número absoluto do ano passado. Esse acompanhamento é diário para que, no fim do mês, chegue no resultado. No acumulado de janeiro já temos redução de 7,5% nas ocorrências.

Quais bairros mais preocupam em relação a violência? 


No caso de furtos é o hipercentro, devido à população flutuante.

E sobre os crimes violentos? Tem alguma região que requer mais atenção?


Já tivemos isso no passado, essa discrepância. Hoje está um pouco mais equânime. Os crimes têm acontecido de maneira mais esparsa, por conta do trabalho que a gente fez. Toda semana fazemos uma reunião de controle, com os comandantes de unidades, para que vejamos os resultados da semana anterior e, com base nos resultados, planejar a semana seguinte. 

O governador fez algum pedido específico quando nomeou o senhor?


O governo do Estado fala conosco por meio do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI), que estabelece as metas para Minas. Com base nisso, fazemos o planejamento estratégico e estabelecemos nossas metas. A recomendação do governo, para todos os comandantes, é entregar, no fim do ano, as metas estabelecidas. É nisso que norteamos nosso trabalho.

O tráfico de drogas, por alimentar toda a cadeia criminosa, ainda é a principal preocupação?


Não diria que é a principal, porque preocupações existem várias. Mas temos feito um trabalho muito pesado em cima disso. A gente não trabalha só com o varejo, mas também com as cargas de drogas que chegam na cidade. No mercado, essa droga traria uma movimentação maior para outras modalidades, como furto, receptação e roubo. É uma preocupação que a gente tem o foco nela, mas sem tirar o das demais.

Com relação às bases móveis, qual o balanço desde a instalação? Há previsão de ampliação? 


Hoje, funcionam de 14h à meia-noite. Se falar que vou aumentar o horário de todas, posso despender recurso de maneira desnecessária. Trabalhamos por necessidade. A base da Praça Rio Branco (rodoviária), por exemplo, funciona 24 horas, porque tem demanda para isso. A da Praça 7, das 7h à meia-noite. Existem estudos para ampliação de horário de algumas, mas não de maneira total para não ser leviano. O recurso é escasso e a gente precisa atender a demanda da cidade como um todo. Mas a base é uma ferramenta excepcional. Estudo demonstrou que, nas proximidades onde foram implantadas, houve aumento de confiança no trabalho da instituição, de acesso maior e mais rápido ao serviço que a PM presta e, principalmente, na sensação de segurança.

Mas também houve redução de crimes?


Com certeza. Se pegar os dados de redução criminal de quando as bases foram instaladas, percebemos que há diminuição nos crimes. Em 2017, quando elas foram implantadas, tivemos queda de 17,9%. A redução em 2018 foi de 32% e, em 2019, 31%. Se for olhar de lá para cá, dá quase 80% em todos os crimes violentos. São 86 bases e 172 motos no horário de maior incidência criminal e de maior problema de trânsito. No período, aumentou também a taxa de reação imediata, que é o número de pessoas presas logo após o crime. Hoje, temos uma média de 120 presos por dia em BH. Quanto mais prisões, menos pessoas cometendo crimes.

Atualmente, o efetivo da PM é de 7 mil militares. Há previsão de aumentar o número de policiais nas ruas?


Tem. Para agora, do início de um curso de soldados, com cerca de 900 a mil alunos para a região metropolitana. O curso começa em fevereiro e devemos ter a entrega desses militares no fim do ano, talvez em novembro.

Esse curso é o que havia sido suspenso no ano passado?
Exatamente. Inicia agora em fevereiro na capital. No interior, deve começar em março.


Os 900 soldados vão para a Grande BH? Já se sabe quantos vão ficar na capital?
Depende do que vamos ter de distribuição final, mas grande parte deles vai ficar aqui.

Como está o funcionamento da patrulha feminina que acompanha os casos de violência doméstica. Há também alguma previsão de ampliação?


Depende da chegada deste efetivo. Com mais soldados, com certeza vai ampliar. É um trabalho fantástico. São quase 20 mil acompanhamentos que foram feitos no ano passado. E, dos casos acompanhados pela Companhia de Prevenção de Violência Doméstica (CPVD), não houve nenhum caso de feminicídio. Isso mostra que a prevenção é fundamental.

Como assim 20 mil acompanhamentos...


Em todas as visitas realizadas pela PM é gerado um número. Então, todas as ações são registradas no sistema. Ali tem um histórico do caso do casal. Se mais para frente o juiz precisar de alguma informação, a gente tem todo o histórico gerado.

Conforme o Hoje em Dia mostrou com exclusividade, os 5 milhões de foliões esperados para curtir o Carnaval em BH vão contar com um reforço da PM. Neste ano, 9.100 militares serão escalados para trabalhar nos dias da festa 
Como estão os trabalhos de integração com a Polícia Civil? Existe, de fato, essa união?


Com certeza. Aqui (CPC) funciona no mesmo prédio que a Polícia Civil. Converso direto com o chefe do departamento. A gente estava reunido, semana passada, para trabalhar o planejamento do Carnaval. Eu estava sentado ao lado da superintendente que vai trabalhar no funcionamento das Deplans (Delegacias de Plantão). Estavam o chefe da Polícia Civil e o nosso comandante-geral. Então, as tratativas e o planejamento envolvem as duas instituições. Não se pode prescindir disso mais. Trabalhar de forma separada, é voltar atrás. Institucionalmente, essas questões já estão resolvidas.

O Estado enfrenta uma grave crise econômica. De que forma isso prejudica o serviço da PM em BH?


De forma nenhuma. A questão econômica do Estado existe, mas a Polícia Militar, dentro daquilo que ela precisa para efetuar seu trabalho, não foi contingenciada. Nos temos viaturas locadas, combustíveis e equipamentos. Fazem alguns anos já que não temos viaturas paradas por falta de combustível. Então, independentemente da dificuldade do Estado, estamos tendo esse aporte. Na ponta da linha, isso não traz nenhum tipo de dificuldade para a instituição, porque ela se adapta. Se tenho um orçamento X, vou trabalhar com aquele orçamento X. Vou cortar onde não vai trazer prejuízo para a atividade, que é o policiamento na ponta da linha. Vou cortar de outras formas, em outros locais. Vamos entregar agora 52 motos para BH, que já vão ser utilizadas no Carnaval. E isso é fruto do foco que a gente tem com a atividade fim. 

Já foi falado, em outras oportunidades, que o pessoal que trabalha nos setores administrativo, dentro dos batalhões, iriam para as ruas. E cogitou-se a hipótese até de contratar civis para fazer os serviços administrativos. Em que pé está essa demanda?


A Secretaria de Planejamento vem fazendo um trabalho jurídico a respeito dessa situação para que a gente possa adotar essa medida. Não está descartada, mas depende de análises jurídicas para que não tenha problema, como tivemos no passado, em outras áreas, com a Lei 100, por exemplo. A discussão é concurso ou não concurso, e estamos aguardando a definição da Seplag.

O ano de 2019 foi marcado por muitas brigas nos estádios de futebol. Como a PM tem acompanhado esse cenário junto ao Ministério Público? Para a PM seria melhor torcida única? 


A gente trabalha da forma como for necessário. Tecnicamente, a torcida única garante melhor segurança. Mas, se a definição for contrária, estamos preparados para atuar. Justamente pelo fato de ter acontecido briga no último clássico, também já trabalhamos no sentido de trazer estratégias para dentro do campo, para que não ocorra mais esse contato. Sobre a questão da divisão de torcidas, vamos ampliar o espaço e evitar que aconteça qualquer tipo de contato, mesmo que de um nível para o outro. Dá forma que vier, vamos fazer.