Mais de um terço da água tratada em Minas Gerais não chega às torneiras dos consumidores. O ranking anual de saneamento do Instituto Trata Brasil aponta que 37,5% do líquido potável se perde no caminho entre as distribuidoras e as casas dos mineiros por falhas ou furtos na rede de distribuição. A conta final é imposta à população, que acaba arcando com o problema. 

Os dados estão no Ranking de Saneamento 2023, que avalia o índice de perda de água no país. O estudo também qualificou os melhores e piores municípios, entre os 100 mais populosos do Brasil, no Indicador de Perdas de Água. Ao todo, oito cidades mineiras estão no levantamento. 

Entre os municípios com pior desempenho no Estado estão Juiz de Fora (70°), Ribeirão das Neves (69°), Betim (63°) e Contagem (60°). Na sequência, aparece Belo Horizonte (47°) que registra média de perda de mais de 43% da água potável.

Para a presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, apesar do alto índice de perdas, Minas ainda está abaixo da média nacional (40,25%). No entanto, o cenário de desvio de água é pior quando as cidades são analisadas individualmente. 

“Temos cidades que têm muito a evoluir, como é o caso de Juiz de Fora, onde temos um percentual muito baixo de tratamento de esgoto e isso gera a má colocação no ranking. Temos casos ainda de Ribeirão das Neves, onde 57% do volume de água produzido é perdido. Em Betim, 51% e Contagem 50%”. 

Pretto ressalta que o desvio de água impede que grande parte da população tenha acesso ao recurso essencial. “Isso impacta muito negativamente a vida das pessoas porque à medida que há um volume de perdas muito grande na distribuição essa água não está chegando para a população, sendo que algumas regiões não têm o abastecimento. Caso houvesse uma menor perda, o índice de distribuição seria muito maior e impactaria positivamente”, pontua. 

A especialista explica que a perda, geralmente, está associada a dois tipos de situações. Uma delas é a perda aparente, consequência dos roubos e ligações irregulares, popularmente conhecidas como “gatos”. Do outro lado, as perdas reais por problemas nas redes, pelas quais os consumidores não têm culpa. Apesar disso, segundo Pretto, é a população que arca com o prejuízo. 

“Quando falamos de perda, não estamos falando do desperdício que é aquele que acontece dentro da casa do cidadão. Essa perda traz um impacto financeiro porque a partir do momento que se capta água no rio usa-se produto químico para tratá-la e usa-se, muitas vezes, energia elétrica para bombeá-la para a população. Isso está incluído na tarifa cobrada de cada cidadão”, aponta.

Pretto afirma ainda que a diminuição nas perdas pode levar a uma redução nas tarifas. Mas alerta para uma realidade de baixos investimentos em programas de controle dessas perdas. 
“Temos pressões muito elevadas no sistema de distribuição e pouco investimento no controle de perdas. Mesmo com casos de escassez hídrica ou falta de água para abastecer a população, ainda temos 35 milhões de pessoas sem acesso à água no país”, ressalta.

Copasa
A Copasa reforça que tem atuado fortemente no combate às perdas. O trabalho é realizado para evitar o desperdício de água tratada e outros transtornos, tanto para o cliente quanto para a companhia. Para isso, a Copasa informa ter investido em tecnologias que permitem a identificação de vazamentos não visíveis em 14 cidades da Grande BH. De fevereiro deste ano, quando esta etapa da pesquisa começou, até o início do mês de março foram percorridos 16.500 km de rede e corrigidos 4.367 vazamentos. 

Também está curso um projeto de combate a ligações clandestinas em vilas e aglomerados de Belo Horizonte, com ações de mobilização para adesão dos moradores às redes de água. Só no Morro das Pedras o projeto visitou 2.099 imóveis, tendo adesão de 2.005 famílias, com 1.330 obras realizadas, segundo a Copasa.