Júlio Grilo vê dificuldades na aplicação de nova lei e conta que Grande BH tem estruturas com metais perigosos que podem se romper e contaminar a água
As autoridades competentes pela fiscalização de barragens de rejeitos de minérios estavam cientes da possibilidade dessas estruturas se romperem, como ocorreu em Brumadinho. O episódio tirou a vida de quase 200 pessoas. Um dos que derem seu aviso foi Júlio Grilo, superintendente do Ibama, órgão federal responsável por preservar o patrimônio natural.
Ao Novos Inconfidentes Júlio disse que as barragens de rejeitos de minérios são “uma bomba-relógio e ninguém está ciente disso”. No estado, segundo dados da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), são atualmente 428 barragens de rejeitos de minérios. Até onde conseguimos apurar, dessa quantidade, 131 estão na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em média, a quantidade de rejeitos estocados nas estruturas da região da capital chega a quase 135 mil metros cúbicos. Algo como 54 mil piscinas olímpicas.
O superintendente foi um dos responsáveis pela construção da lei estadual 23.291, de 2019, que trata da fiscalização e licenciamento de barragens. A pedido do site, ele comentou as mudanças com a nova norma, uma das mais avançadas do ponto de vista ambiental. O ponto principal da lei:
- Está proibida a construção de barragens sob o modelo alteamento à montante, em que a barragem é construída com o próprio rejeito. Ele é mais barato e o menos seguro.
- A construção de barragens de qualquer modelo deve ser evitada. “Hoje tem a possibilidade de estocar rejeitos sem barragens. Uma das formas é secar o ele, deixando-o sólido, e empilhá-lo”, apontou Júlio.
“O governo agora deve cumprir essa lei. Eu acho que vai ser difícil isso, ele e a mineração andam juntos. Outra coisa que devemos cobrar é o fim das barragens existentes. Como? Pelo descomissionamento delas. Isso é urgente, afinal, todas as barragens podem se romper”, afirmou o superintendente.
O descomissionamento, em linhas gerais, é um processo para retirar rejeitos do fosso onde ficam estocados, de modo que a água contida neles seja removida. O resto pode ser empilhado. A Vale, pouco depois da tragédia ocorrida com uma de sua barragens em Brumadinho, decidiu descomissionar 10 estruturas em Minas.
“Todos os rios que abastecem a região de Belo Horizonte estão perto de barragens. Tem uma, em especial, que tem metais pesadas e que fica em Rio Acima, perto do Rio das Velhas. Ainda há outra em Itabirito na mesma situação. Com um eventual rompimento delas, quase metade da população da região da capital ficaria sem ter água em um longo prazo”, alerta Júlio. Ele pediu ainda responsabilidade na fiscalização, pois hoje “quem atesta a estabilidade são empresas contratadas pela mineradora, o que talvez venha a ser um processo corrupto”.
Fonte:/www.osnovosinconfidentes.com.br