Fundação Renova tem até 2020 para reassentar afetados do antigo distrito

A partir de novembro, as famílias que moravam em Bento Rodrigues e perderam tudo em decorrência do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central de Minas Gerais, vão começar a visitar os lotes onde serão erguidas suas novas casas. A tragédia completa três anos exatamente no mês que vem, e a Fundação Renova tem até 2020 para reassentar os atingidos. Segundo a entidade, são 225 famílias que vão passar a residir em um local conhecido como Lavoura, a cerca de 16 km do antigo Bento. Atualmente, a etapa de supressão vegetal está sendo concluída.

“Isso é muito importante (poder conhecer os lotes), muita gente estava ficando depressiva, sem saber quando iriam começar as obras. Eu venho (ao canteiro de obras) todos os dias, tiro fotos e coloco nos grupos”, conta o líder comunitário e ex-morador de Bento José do Nascimento de Jesus, 72.

Apesar de ter a certeza do reassentamento, Zezinho do Bento, como é conhecido, segue sentindo os efeitos da tragédia. “Tem muita marca que não vai se recuperar nunca, como, por exemplo, aquele lugar calmo que a gente tinha, bom de viver, nós não vamos ter mais”, lamentou.

Escolha. De acordo com a gerente de reassentamento da Renova, Patrícia Lois, as obras no canteiro começaram no dia 2 de agosto, um dia após a concessão das licenças. O terreno tem 375 hectares – cerca de 98 hectares serão de área urbana. Ela explicou, no entanto, que as famílias não são obrigadas a morar no local. Elas poderão optar por morar em qualquer lugar ou ter uma indenização. “Oito famílias já informaram que não vão morar aqui (na Lavoura)”, explicou Patrícia.

A ideia principal, porém, é que a comunidade de Bento possa se refazer no novo espaço. As ruas serão construídas mantendo-se a estrutura da vizinhança. As obras são realizadas por 450 operários, mas o número de trabalhadores pode chegar a 2.000, sendo que 83% dos funcionários são da região.

Com relação ao desenho das casas, há 28 arquitetos trabalhando em conjunto com os atingidos para que os projetos atendam a necessidade deles.

Em ação. Atualmente, a Fundação Renova tem em torno de 50 projetos conceituais já quase encerrados e atendeu até o momento 112 famílias atingidas no distrito de Bento Rodrigues.

Peças achadas estão sendo restauradas

Em Mariana, na região Central de Minas, funciona uma reserva técnica onde estão sendo restauradas 2.352 peças encontradas em uma área de 100 km, entre Bento Rodrigues e Candonga, destruída pela lama de Fundão.

Três arqueólogos ainda estão em campo em busca de peças sacras e outros objetos perdidos. “O que a gente busca é a reparação da memória dessas comunidades, e a memória tem um suporte que é material”, ressaltou a antropóloga e historiadora da Renova, Bianca Pataro.