Os expositores da Feira de Artes, Artesanato e Produtores de Variedades de Belo Horizonte, a Feira Hippie, protocolaram um pedido de retomada das atividades, paralisadas há quase três meses, na prefeitura. Os trabalhadores defendem que, assim como os shoppings populares e o Mercado Central, a feira pode voltar a receber o público, com medidas de controle de fluxo de pessoas e de higienização. Já são 12 domingos sem Feira Hippie, fonte de renda de cerca de 2.000 famílias.

Na carta entregue à prefeitura, assinada pelo presidente da Associação dos Expositores da Feira de Arte, Artesanato e Produtores de Variedades da Afonso Pena (Asseap), William dos Santos, os trabalhadores propõem a instalação de pontos de higienização nas três entradas da feira — na avenida Afonso Pena com rua da Bahia e Guajajaras e na avenida Álvares Cabral. Cada barraca também teria álcool em gel para a limpeza dos materiais de trabalho e à disposição dos clientes.

"A ideia é colocar grades nas entradas, para permitir a passagem de uma pessoa por vez. Iríamos verificar se os clientes estão usando máscara e controlar a entrada, para que não haja lotação. Somos uma feira a céu aberto, dá para fazer um controle melhor", afirma Santos, que trabalha na feira há 43 anos, vendendo calçados. Para garantir uma renda durante a pandemia, ele e a família passaram a produzir pizzas caseiras.

Segundo Santos, os expositores sugerem também a ampliação da extensão da feira na avenida Afonso Pena, entre as ruas da Bahia e Espírito Santo, até então utilizadas como estacionamento. "Dessa forma, seria possível aumentar o espaço dos corredores entre os blocos de barracas, daria para ter um afastamento de cerca de 3,5 metros", explica.

De acordo com o presidente da associação, a Feira Hippie tem, atualmente, 1.700 expositores, e outras cerca de 300 pessoas trabalham na montagem das barracas e como carregadores. "A maioria tem a feira como única fonte de renda. Algumas pessoas que vendiam roupas passaram a produzir máscaras, outras passaram a trabalhar como motoristas de aplicativo, mas está complicado. As famílias estão passando muito aperto", diz, ressaltando que a prefeitura está distribuindo cestas básicas para os expositores.

O expositor Marcelo Braga, 60, começou a trabalhar na Feira Hippie aos 20 anos de idade e, desde então, as vendas de roupas são a fonte de renda dele e da família. Para Braga, é possível que a atividade seja retomada com segurança. "O ano tem 52 semanas e já são 12 domingos sem feira, o que representa praticamente 25% da minha renda anual, são três meses sem receber. Eu ainda tenho uma pequena reserva de dinheiro que guardei para emergências, mas está minguando", diz. "A feira é ao livre, tem muito mais espaço para as pessoas circularem. Estamos pedindo que sejamos incluídos na discussão, dá para fazer um plano. Querendo ou não, precisamos retomar", completa.

O expositor Sidney Lopes Junior, 58, vende roupas femininas na Feira Hippie há 34 anos, junto com a esposa. Para sobreviver neste momento de pandemia, o casal passou a produzir e vender máscaras e empadões para os amigos, mas a renda da feira faz falta. "Está difícil demais. Nós temos uma filha de 14 anos e estamos passando muito aperto", conta. "Eu acho que, se tomarmos todos os cuidados necessários, temos condição de voltar, mesmo que em esquema de rodízio, metade dos expositores em um domingo, metade no outro", pontua.

Questionada pela reportagem se há previsão de reabertura da Feira Hippie, a Prefeitura de Belo Horizonte informou apenas que o "Comitê de Retomada deverá se reunir nas próximas semanas com as atividades econômicas que ainda não foram contempladas pela política de flexibilização". O objetivo é discutir "as novas etapas de reabertura e os protocolos sanitários a serem seguidos por cada setor".

Vendas online contribuem para a renda em período de paralisação

Enquanto a Feira Hippie não volta a funcionar, Silvia Piastrelli, 36, que há 22 anos trabalha com o pai na fabricação e montagem das barracas, movimenta uma página criada no Instagram para anunciar os produtos dos expositores, a @falafeiraoficial. É esse meio de divulgação, que já conta com mais de 75 mil seguidores, que tem garantido a renda de muitos comerciantes.

"Eles me mandam as fotos dos produtos, e eu publico. Os clientes entram em contato diretamente com eles e combinam a forma de entrega", conta Silvia. "Mas claro que não se compra com as feiras presenciais no domingo, muitas pessoas não têm conseguido vender, muitas são idosas e têm dificuldades. Eu ajudo no que posso", diz.

Silvia, que também depende da renda da Feira Hippie, tem vivido com uma taxa simbólica, paga por parte dos expositores a que ela ajuda. "Não vejo a hora de a feira voltar, até pelo meu pai. As barracas estão todas no galpão, o caminhão está parado. Tomara que a prefeitura aceite nosso pedido, é possível retornar de forma segura", pontua.

Zenite Maria Araujo, 74, que trabalha na Feira Hippie há 36 anos vendendo pano de prato, avental, luva e outros itens, está conseguindo vender os produtos pela internet, mas diz que, presencialmente, a saída é bem melhor. "Tenho muitos pedidos, mas moro no Serrano e preciso contratar motoboy para entregar as encomendas, e os clientes acham o frete muito caro", conta. "Está difícil pagar as contas. O que eu ganhava em um domingo não consigo em um mês inteiro de vendas pela internet. Quero muito que a feira volte logo", diz.