A crise que assola o país nos últimos anos contribuiu diretamente para que 90,4% das cidades mineiras, ou seja, 757 municípios, tenham amargado índices baixos ou regulares de emprego e renda, segundo a última pesquisa do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), elaborada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
De acordo com o estudo, o aumento crescente do desemprego, que hoje atinge 13 milhões de pessoas no país, é resultado da brusca queda na oferta de trabalho e renda mineiros, que saiu de 0,81 pontos, em 2015, para 0,67 pontos em 2016, em uma escala de zero a dez em que o maior número é o melhor.
São 292 cidades, ou 35,2% do Estado, com índices considerados baixos. Outras 55,2%, que compreendem 465 municípios, têm índices regulares.
Para Raphael Veríssimo, analista de estudos econômicos da Firjan, há um déficit de crescimento registrado nos últimos três anos. Isso porque entre 2013 e 2015, o IFDM geral do país caiu 3,1%, enquanto o crescimento de 2015 para 2016 foi de apenas 2,6%, gerando o déficit de 0,5%.
“Apesar do IFDM do país ter crescido nos últimos dois anos analisados (2015 e 2016), indo de 0,6509 para 0,6678, não foi o suficiente para compensar a queda de 2013. Em Minas, mesmo que 65% das cidades tenham melhorado os índices, assim como o país melhorou nos últimos dois anos, a maioria dos municípios do Estado, quase 90%, estão entre baixo e regular, porque não conseguiram compensar a queda de 2013 ainda”, diz Raphael.
Os dez piores índices gerais de municípios mineiros, calculados a partir das áreas de educação, emprego e renda e saúde, estão localizados em três regiões do Estado: Vale do Mucuri (Itaipe, Crisólida e Bertópolis), Vale do Rio Doce (Água Boa e São Sebastião do Maranhão) e Jequitinhonha (Caraí e Bandeira).
O município de Rio Espera, na Zona da Mata, com 6.070 habitantes, é o sétimo pior classificado.
Para o prefeito Lúcio Marcos da Silveira (PR), a queda de 17,3% no índice geral de desenvolvimento do município, na comparação entre 2015 e 2016, se deve à falta de investimentos externos na cidade.
“Cerca de 93% da nossa receita depende do governo federal ou de investimentos externos. Tivemos uma queda na arrecadação porque mais de R$ 50 milhões não chegaram à cidade nos últimos três anos ou mais. Além disso, registramos 250 famílias sem trabalho, com demissões no campo, pequenos agricultores não conseguindo exportar alimentos por causa da crise”, diz o prefeito.
Exceção
Mesmo com Minas Gerais respondendo por 43 municípios entre os 500 mais bem avaliados do país, apenas uma cidade do Estado apareceu entre as 100 de maiores índices gerais. Com 138 mil habitantes, Patos de Minas, no Triângulo, é a 18º colocada em nível nacional, e uma das exceções de superação à crise.
Para o prefeito José Eustáquio (DEM), o fato de a cidade não depender da indústria, e ser referência no Triângulo Mineiro e até no exterior em tecnologia suína, por exemplo, colaborou para que conseguisse gerar 35 mil postos de trabalho nos últimos quatro anos, principalmente devido à atividade do agronegócio.
“Temos 2.389 empresas na cidade, das quais somente 562 são indústrias. Temos um empresariado voltado para o agronegócio, que não foi tão afetado quanto a indústria. Hoje, 70% da tecnologia de melhoramento suíno presente no Brasil está em Patos de Minas. Então, conseguimos gerar empregos”, diz José Eustáquio.
Na educação, pela primeira vez desde o início do IFDM, nenhuma cidade mineira ficou com nível de desenvolvimento regular ou baixo. Ao todo, 513 (60,1%) cidades apresentaram alto desenvolvimento, e 340 (39,9%) registraram índices de desenvolvimento moderado.
Brasil retomará índice positivo de emprego em 2027, diz Firjan
Em um cenário nacional, com apenas 7,9% das cidades brasileiras dentro da faixa de alto desenvolvimento econômico, a perspectiva da Firjan para o crescimento dos municípios, a partir do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), não é animadora.
O analista de estudos econômicos da Firjan, Raphael Veríssimo, estima que se o país crescer 1,5% ao ano — em uma projeção abaixo da esperada pelo governo federal, que trabalha para terminar 2018 com o índice em pelo menos 2,25% — só seria possível atingir em 2027 o melhor índice de emprego e renda dos últimos anos, registrado em 2013, quando 4,3% da população estava sem trabalho no mês de dezembro. Hoje, a taxa de desemprego está em 13,1%, somando 13,7 milhões de desempregados no país inteiro.
“É interessante a gente notar a velocidade com a qual os municípios vão voltar a crescer, o que vai depender de dois fatores: políticas econômicas e também da confiança do empresariado. O fato é que, para chegar à marca de 2013, reduzindo o desemprego, precisamos manter uma constante. Qualquer desvio nesse percurso, seja por políticas econômicas ou por incentivos não suficientes, irá retardar o crescimento das cidades”, analisa Raphael.
NACIONAL
Segundo o levantamento da Firjan, dos 5.471 municípios avaliados no IFDM geral, apenas 431 tiveram alto índice de desenvolvimento – 223 a menos que em 2013. Entretanto, apenas 11 cidades foram classificadas com baixo nível de IFDM geral.
Apesar disso, o estudo da Firjan mostra que, a partir de fatores econômicos e sociais, a desigualdade permanece intacta no Brasil. Pelos dados do estudo, enquanto apenas 7,9% das cidades brasileiras, praticamente todas na região Sul e Sudeste, registram níveis altos de desenvolvimento, as regiões Norte e Nordeste, juntas, somam nada menos do que 87,2% dos municípios com classificações de índice baixo ou regular.