Crianças que precisam de atendimento no Hospital Infantil João Paulo II, na Região Hospitalar, em Belo Horizonte, estão tendo que enfrentar um componente tão doloroso quanto a doença: uma espera que pode chegar a 15 horas. A demora é explicada pela alta demanda desse período do ano associada à falta de médicos na unidade. Em carta à diretoria, médicos plantonistas pedem medidas urgentes e posicionamento imediato dos órgãos responsáveis para resolver a questão, além de novas contratações médicas. Nos últimos dias, atendimento diários aumentou em 74%.

No fim de março, o serviço de urgência já registrava um crescimento na demanda de mais de cinco vezes. De uma média de 150 atendimentos por dia, passou para 783. Os médicos informaram que, no mesmo período, devido ao tempo prolongado de espera, foi registrada uma taxa de desistência de 27%, gerando preocupação por parte da equipe médica em relação aos pacientes não assistidos, diante da possibilidade de piora do quadro clínico e retorno em condições de maior gravidade.

Os profissionais ressaltam que o protocolo de triagem preconiza que pacientes classificados como “verde’’ esperem no máximo duas horas – estavam aguardando 7 horas e 40 minutos por atendimento. Aqueles triados como “amarelo” deveriam ser atendidos em, no máximo, uma hora, mas estavam aguardado duas horas, enquanto os classificados como “laranja” precisariam ser atendidos em no máximo 10 minutos, ao invés de 1 hora e 28 minutos.

A situação, no entanto, piorou nos primeiros dias de abril. Neste domingo, é intenso o movimento no local. Na área reservada à espera, crianças choram enquanto os pais tentam distraí-las e amenizar a dor. A dona de casa Viviane Monteiro, de 41 anos, chegou com o filho Bernardo, de 5 anos, neste sábado às 16h. O menino, que está com suspeita de dengue, foi atendido às 5h. Fez os exames e, por volta das 10h, ainda aguardava os resultados e era medicado quando a febre aumentava.


“A médica me relatou quase chorando que nunca passou por um plantão desses. As pessoas estão aguardando em média 15 horas. Este fim de semana foi um dos piores em termos de tempo de espera”, conta Viviane. “O governo mandou os contratados embora e só os médicos concursados estão atendendo”, afirma. Neste domingo, dois médicos estão trabalhando, sendo um no consultório e outro na emergência. “Nunca passei por isso, mas meu marido ficou desempregado e perdemos o plano de saúde”, diz. Antes de enfrentar o João Paulo II, ela ainda tentou a UPA Centro-Sul, que não atende crianças. 

Relatos de pais e mães dão conta de que os próprios médicos chamaram a polícia há alguns dias para fazer boletim de ocorrência da situação. Uma mãe contou que o problema não ocorre apenas no fim de semana. Na quinta, chegou no local das 20h, mas o bebê de 10 meses só foi atendido às 7h do dia seguinte. Neste domingo, ficou desolada ao entrar com o mais velho e ter notícia da demora. Outra mãe, cuja filha está internada no hospital desde janeiro, afirmou que a demora nos atendimentos já vem desde o início do ano.

O contador Jarbas Domingos, de 44, chegou ao hospital também as 16h de sábado e esperou com os filhos Isabel, de 5 anos, e Vítor, de 1 ano e 10 meses, até as 2h, sem atendimento. A menina tem febre, dor de cabeça e no corpo há três dias e o menino tem os mesmos sintomas há dois. Neste domingo, voltaram à unidade. Chegaram às 6h, com previsão de atendimento por volta das 11h. “Eu os levei embora de madrugada, porque estavam no limite deles. Não era mais possível esperar”, conta.

O que diz a Fhemig


Por meio de nota, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) informou que o número de atendimentos aumentou bastante nos últimos dias em decorrência, principalmente, dos casos de virose e dengue. Para suprir o déficit de pessoal no hospital, a Fhemig solicitou à Secretaria de Estado de Planejamento a substituição de vacância de médico (quadro vago por aposentadoria e falecimento).

Acrescentou que, em 2016, houve concurso público para preenchimento de 45 vagas na rede. Já foram nomeados 118 profissionais. Desse total, 67 entraram em exercício, 51 não tomaram posse ou não entraram em exercício em tempo hábil e seis pediram exoneração.

A Fhemig destacou ainda que, recentemente, foram nomeados oito profissionais, com posse programada para 10 de abril. “Como solução emergencial está sendo avaliado o remanejamento de vagas de outras unidades para o Hospital Infantil João Paulo II”, diz o texto.