EM ALTA

Ao mesmo tempo em que países da Europa se preparam para um novembro de lockdown para se proteger da segunda onda da pandemia de Covid-19, os casos da doença parecem aumentar também em Belo Horizonte e apontar para um eventual novo pico da pandemia na capital mineira. O mais recente boletim do monitoramento de esgotos da cidade, publicado nesta sexta-feira (6), revela que havia 463.933 pessoas potencialmente infectadas no município na semana epidemiológica 43, entre 18 e 24 de outubro. 

O número representa pouco mais da metade dos cerca de 862,2 mil infectados no ápice da pandemia em BH, em meados de julho, quando o boletim de monitoramento registrou a maior quantidade de pessoas potencialmente contaminadas. O número atual é o mais alto desde agosto, e surge após duas semanas de diminuição das estimativas. Os valores da semana 44, referente aos dias 25 a 31 de outubro, ainda estão sendo revisados, mas os dados preliminares indicam que serão altos, em relação às semanas anteriores. 

Especialistas temem segunda onda da pandemia em BH 

“Estamos percebendo, no esgoto, tudo o que aconteceu nas duas semanas antes (do dia 18 de outubro), toda a flexibilização de atividades, as viagens de 12 de outubro, pessoas saindo de casa e circulando mais. Esses dados chamam atenção para destacar que a pandemia não acabou e a flexibilização exige cuidados. Há pessoas sem máscara na rua e sem distanciamento entre si. Isso pode levar ao ressurgimento de casos e à segunda onda em BH”, alerta uma das coordenadoras do projeto, a pesquisadora coordenadora do projeto de monitoramento, Juliana Calábria. Ela destaca que ainda é preciso aguardar os resultados da próxima semana para confirmar uma tendência de aumento expressivo. 

O infectologista Unaí Tupinambás, membro do comitê de enfrentamento à pandemia em BH, afirma que não há planos imediatos para interromper atividades que foram retomadas na cidade, mas também assiste com preocupação às estatísticas observadas nos esgotos.  

“Esse sempre foi o nosso medo. O que temos vistos nesses últimos dois meses é a estabilidade, um platô um pouco mais alto, mas não chegamos a uma planície. Temos medo de que, a exemplo do que acontece na Europa, possa haver recrudescimento da pandemia, uma segunda onda, como (os jornais) gostam de dizer. Há grande chance de isso acontecer, mas não sabemos quando. Se será no outono ou no final deste ano ao início do ano que vem, por exemplo”, elabora. Ele pontua que as eleições, combinadas a festas de fim de ano e às férias, podem ser uma combinação que elevará a transmissão do coronavírus na cidade. 

O índice de transmissão da doença (Rt) em BH voltou a subir nesta semana, alcançando 1,02 na quinta-feira (5), mas a ocupação dos leitos de UTI e de enfermaria se mantém sob controle, nas taxas de 30,2% e 27%, respectivamente. Considerando apenas os leitos de CTI da rede pública, a ocupação atual é de 42%, segundo o professor Tupinambás. 

O estudo do esgoto utiliza amostras da rede dos ribeirões Arrudas e do Onça e pretende revelar, inclusive, as pessoas assintomáticas, que não chegam a procurar hospitais ou a realizar testes de Covid-19. Oficialmente, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) registra 49.038 casos durante toda a pandemia e 1.521 óbitos. 

Em Contagem, na região metropolitana de BH, o número de possíveis infectados chegou a cerca de 100 mil entre 18 e 24 de outubro. 

Bairros

A pesquisadora Juliana Calábria, uma das coordenadoras da pesquisa, destaca a concentração de amostras positivas para Covid-19 na regiões Norte e Noroeste da cidade, e o boletim mais recente ressalta alguns pontos onde há tendência de aumento de casos nas últimas semanas, como em parte do Barreiro (de bairros como Lindéia e Regina), regiões Centro-Sul (locais como Belvedere e Lourdes) e Norte (de bairros como Venda Nova, Copacabana e Piratininga).

O monitoramento dos esgotos é uma parceria entre a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estações Sustentáveis de Tratamento de Esgoto (INCT ETEs Sustentáveis - UFMG), em conjunto com a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES).