Governador eleito, Romeu Zema diz que fará uma espécie de 'processo seletivo' para os cargos

Além de reduzir o número de secretarias das atuais 21 para nove, o governador de Minas Gerais eleito, Romeu Zema (Novo), vai implantar um sistema de escolha do secretariado inédito no Estado. Ele afirmou que os indicados para chefiar as pastas terão que passar por um processo seletivo que será realizado por uma equipe do partido com a participação de uma empresa de recursos humanos, especialista em contratação de executivos.

Com esse anúncio, Zema mantém o discurso de campanha de não aceitar indicações políticas para formação de seu governo e instituir a meritocracia em suas escolhas.

O primeiro desafio para implantar a medida será alcançar governabilidade na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O segundo é encontrar profissionais qualificados que estejam dispostos a trabalhar com exclusividade e de forma voluntária nesse início de governo. Isso porque Romeu Zema reafirmou a promessa de que ele, seu vice Paulo Brant e todo o seu secretariado não vão receber salários enquanto o pagamento do funcionalismo público não for regularizado. Desde 2016, os servidores estaduais estão recebendo de forma escalonada e parcelada em até três vezes.

Em entrevista, nesta segunda-feira (29), ao jornal “MGTV”, da TV Globo, o governador eleito afirmou que vai adotar as mesma forma de contratação da iniciativa privada para escolher seus secretários. “Nós vamos ter um grupo dentro do partido que vai analisar os nomes, entrevistar, e vamos até também contratar uma empresa que seleciona executivos que tem aí no mercado. Não podemos errar, porque Minas Gerais hoje é um paciente terminal que está na UTI. Se você colocar o médico malpreparado, esse doente pode morrer. Então, vamos fazer um secretariado que eu diria que vai ser um time que Minas nunca teve”, afirmou Zema.

O governador eleito afirmou que, à medida que os nomes do secretariado forem sendo definidos, eles integrarão a equipe de transição. O único que está confirmado nessa equipe é o vereador de Belo Horizonte, Mateus Simões (Novo). O economista Gustavo Franco, um dos criadores do Plano Real, chegou a ser convidado para assumir a Secretaria de Estado de Fazenda, mas recusou o convite. Segundo Romeu Zema, ele atuará como uma espécie de consultor do governo e visitará a capital mineira uma vez por semana para auxiliar a equipe econômica. “Ele (Gustavo Franco), infelizmente, declinou do nosso convite para ser secretário da Fazenda, do Planejamento, porque ele tem hoje uma empresa de consultoria que presta serviço para o governo federal, para outros Estados. Mas ele deixou claro que vai estar acompanhando as finanças nossas aqui, vai estar no nosso grupo que cuida dessa área, de forma contínua, até o fim do mandato”, disse.

Mordomias

Romeu Zema também estimou que vai economizar R$ 10 milhões por ano apenas com economias que vai fazer com gastos pessoais do governador. Ele disse que não pretende morar no Palácio das Mangabeiras e que reduzirá drasticamente o uso de aeronaves para viagens. Zema afirmou ainda que morará próximo a seu local de trabalho para reduzir gastos com deslocamento. Ele não definiu ainda se vai despachar da Cidade Administrativa ou do Palácio da Liberdade.

Assembleia

Visitas. Romeu Zema reafirmou que vai estar presente todos os meses na Assembleia Legislativa para conversar com os deputados estaduais e negociar apoio para propostas de governo.

Prefeitura de Londrina usou processo seletivo em 2016

A realização de processo seletivo para escolha de secretários já foi utilizada pela prefeitura de Londrina (PR). Lá, a escolha do profissional que comandaria a pasta da Educação foi realizada pela organização não governamental Instituto Vetor Brasil.

A selecionada foi Maria Tereza Paschoal de Moraes. Indicada como secretária municipal de Educação em 2016, ela permanece no cargo, o que mostra que a escolha deu certo até o momento. Ela é professora e advogada, formada em direito e pós-graduada em gestão pública.

No processo em que ela foi escolhida, participaram educadores de todo o Brasil. Os inscritos foram sabatinados por representantes de universidades e pelo terceiro setor. Depois, os nomes aprovados foram ouvidos pelo prefeito da cidade, Marcelo Belinati (PP).

Em um vídeo sobre o processo seletivo, o prefeito de Londrina destaca os benefícios dessa medida. “Esse processo democratiza a escolha para todos os educadores do Brasil. E busca na meritocracia o principal fator para a escolha do secretário”, afirmou.

Na época, técnicos do Ministério da Educação avaliaram como positiva essa forma de seleção, apontando que seria um teste para escolha de gestores da Educação em todo o país.

Cientista político vê dificuldades

O cientista político Antônio Flávio Testa avalia que escolher o secretariado por meio de um processo seletivo pode ser benéfico para a administração pública, mas prevê dificuldades para o governador Romeu Zema ter sucesso.

“Uma gestão mais profissional pode ser aplicada na administração pública. Mas é preciso ver como ficará a relação de Romeu Zema com a Assembleia. Se ele conseguir governabilidade mantendo a indicação técnica para o secretariado pode ter sucesso. Porém, só isso não basta. Depende do comando, do modelo gerencial, de cobrança de resultados que será implementado pelo governador”, afirmou.

Antônio Testa também afirmou que a promessa de não pagar salários ao secretariado enquanto não regularizar o pagamento dos servidores também será um entrave. “Ele terá que encontrar pessoas voluntárias. Porque será um serviço de dedicação exclusiva sem pagamento de salário”, diz.