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Em 2023, 31.333 casos de estelionato foram registrados em Belo Horizonte, um aumento de 105% em relação aos 15.270 casos de 2019. Só nos primeiros seis meses deste ano, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) somou 22.848 casos. Donos de restaurantes de Belo Horizonte e de Nova Lima denunciam que estão sendo vítimas de um tipo de estelionato em que clientes afirmam ter passado mal após comerem pratos com pimenta no estabelecimento. Os suspeitos tentam extorquir os donos para que a situação não pare na Justiça ou “manche” a reputação do restaurante. O advogado criminalista e professor universitário Matheus Castro considera que o “golpe da pimenta” pode configurar estelionato.
“Se considerarmos que os golpistas ameaçam os donos de estabelecimentos com difamação ou propaganda negativa, caso não paguem a quantia exigida, temos uma situação que pode configurar tanto o crime de extorsão quanto o de estelionato", explica. O advogado orienta que, em caso de suspeita, os empresários procurem a polícia. “O importante é não tomar decisões precipitadas antes de se inteirar completamente do caso", alerta Matheus.
Como funciona o golpe
Supostos clientes entram em contato com os proprietários dos estabelecimentos e afirmam que, após ingerirem um prato com pimenta entre os ingredientes, passaram mal devido a uma reação alérgica. Em um dos casos mais recentes, no dia 27 de setembro, no bairro Lourdes, um homem entrou em contato pelo WhatsApp de um restaurante perguntando se o prato da casa, arroz de pato, continha pimenta. Após receber a confirmação, ele afirmou que havia comprado o prato e que sua mãe, alérgica à pimenta, passou mal e precisou realizar exames médicos.
O suposto cliente então pediu para falar com o gerente e exigiu uma compensação financeira de R$860,00, alegando que precisava custear os tratamentos da mãe. Quando o gerente solicitou comprovantes de compra e dos gastos médicos, o homem começou a se esquivar e reclamar. Desconfiado de que se tratava de um golpe, o dono do restaurante, Vitor Velloso, orientou sua equipe a não responder mais às mensagens e a bloquear o número. Para o proprietário do restaurante alvo do suposto golpe, a sensação imediata foi de alívio ao perceber que não se tratava de um caso real de um cliente passando mal. “A preocupação com o cliente é tão grande que, quando você descobre que é uma tentativa de golpe, fica aliviado por não haver uma pessoa em perigo. Mas depois vem a indignação. Nosso setor já é desafiador, de margens apertadas, e ainda temos que lidar com esses golpistas tentando levar vantagem. É revoltante”, disse.
Alvo em Nova Lima
Em outro caso, em um restaurante localizado no bairro Vila da Serra, em Nova Lima, na região metropolitana de BH, a proprietária Eloísa Rabelo foi vítima de golpes semelhantes por duas vezes. Na primeira situação, ocorrida em setembro deste ano, um homem ligou para o telefone fixo do restaurante afirmando que sua filha havia sido hospitalizada após consumir uma linguiça no estabelecimento. Na sequência, o mesmo suposto cliente afirmou que a intoxicação seria devido ao consumo de salaminho. A incoerência nas informações levantou a suspeita de que se tratava de um golpe. O interlocutor deixou mensagens pedindo para falar com a proprietária, que não respondeu. Em agosto, a história foi um pouco diferente. Uma mulher alegou ter passado mal após consumir cenoura usada como ingrediente de uma polenta. Ela disse que era alérgica ao legume e que, mesmo sabendo da condição, o atendente não repassou a ponderação para a cozinha. O atendente, inclusive, negou que a situação tivesse acontecido.
A mulher exigiu um Pix de R$300 para cobrir uma consulta médica. Eloísa fez o pagamento. “Ela me mandou um comprovante de consulta com um osteopata. Estranhei, já que esse profissional não atende pessoas com crises alérgicas.” Osteopatas não são médicos, mas profissionais especializados em tratamentos que utilizam técnicas manuais para tratar condições como dores nas costas, problemas posturais, fibromialgia, entre outros. Também em agosto, Américo Piacenza, dono do restaurante Cantina Piacenza, que fica no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul, também foi vítima de um golpe. No caso dele, o suposto cliente ligou afirmando que a mãe havia sido hospitalizada após consumir um prato que continha pimenta-do-reino. O suposto golpista tentou pressionar os funcionários para falar diretamente com o proprietário, exigindo que custeassem os tratamentos médicos da mãe. Desconfiado do tom agressivo e das inconsistências nas informações, o gerente do restaurante decidiu investigar o caso. Quando ele retornou a ligação para fazer mais perguntas, o homem começou a se contradizer e, ao ser pressionado, encerrou a ligação. Os proprietários não chegaram a fazer contato com as autoridades para relatar as situações.
O golpe dos “chefes do tráfico”
Outro golpe que tem assombrado os donos de restaurantes é a ligação do falso chefe do tráfico. A situação já ocorreu em abril deste ano, no bairro Santa Tereza, na região leste de BH. Eloísa, dona do restaurante de Nova Lima, recebeu a ligação em setembro. Na conversa, o homem afirma que é chefe do tráfico na região e exige dinheiro, dizendo que precisa pagar o advogado. "Recebemos uma ligação no telefone fixo do restaurante. Quem atendeu foi meu irmão, e a pessoa disse que era o chefe do tráfico da região, afirmando que, se o problema não fosse resolvido, iria lá e resolveria 'na bala'. Não mencionaram um valor específico, mas disseram que o dinheiro seria para pagar um advogado. Meu irmão explicou que o responsável não estava no momento. Depois, compartilhamos o ocorrido nos grupos de restaurantes, e nos informaram que se tratava de um golpe. Ligamos para a polícia, que também confirmou que era um golpe e, por isso, não registramos boletim de ocorrência. Os policiais disseram que não havia necessidade," informou a proprietária.
O que diz a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG)?
A Polícia Civil informou que, até o momento, não há registros formais de ocorrências sobre esses golpes. A instituição, no entanto, encoraja que denúncias sejam feitas para que os casos possam ser investigados.
O que dizem os falsos clientes?
A reportagem tentou contato telefônico com o número de telefone que aparecia nas mensagens de WhatsApp enviadas a um dos proprietários de restaurantes. O interlocutor chegou a atender a ligação, mas desligou quando a reportagem se apresentou. Foi tentado contato via WhatsApp, mas o número da redação foi bloqueado.
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“Se considerarmos que os golpistas ameaçam os donos de estabelecimentos com difamação ou propaganda negativa, caso não paguem a quantia exigida, temos uma situação que pode configurar tanto o crime de extorsão quanto o de estelionato", explica. O advogado orienta que, em caso de suspeita, os empresários procurem a polícia. “O importante é não tomar decisões precipitadas antes de se inteirar completamente do caso", alerta Matheus.
Como funciona o golpe
Supostos clientes entram em contato com os proprietários dos estabelecimentos e afirmam que, após ingerirem um prato com pimenta entre os ingredientes, passaram mal devido a uma reação alérgica. Em um dos casos mais recentes, no dia 27 de setembro, no bairro Lourdes, um homem entrou em contato pelo WhatsApp de um restaurante perguntando se o prato da casa, arroz de pato, continha pimenta. Após receber a confirmação, ele afirmou que havia comprado o prato e que sua mãe, alérgica à pimenta, passou mal e precisou realizar exames médicos.
O suposto cliente então pediu para falar com o gerente e exigiu uma compensação financeira de R$860,00, alegando que precisava custear os tratamentos da mãe. Quando o gerente solicitou comprovantes de compra e dos gastos médicos, o homem começou a se esquivar e reclamar. Desconfiado de que se tratava de um golpe, o dono do restaurante, Vitor Velloso, orientou sua equipe a não responder mais às mensagens e a bloquear o número. Para o proprietário do restaurante alvo do suposto golpe, a sensação imediata foi de alívio ao perceber que não se tratava de um caso real de um cliente passando mal. “A preocupação com o cliente é tão grande que, quando você descobre que é uma tentativa de golpe, fica aliviado por não haver uma pessoa em perigo. Mas depois vem a indignação. Nosso setor já é desafiador, de margens apertadas, e ainda temos que lidar com esses golpistas tentando levar vantagem. É revoltante”, disse.
Alvo em Nova Lima
Em outro caso, em um restaurante localizado no bairro Vila da Serra, em Nova Lima, na região metropolitana de BH, a proprietária Eloísa Rabelo foi vítima de golpes semelhantes por duas vezes. Na primeira situação, ocorrida em setembro deste ano, um homem ligou para o telefone fixo do restaurante afirmando que sua filha havia sido hospitalizada após consumir uma linguiça no estabelecimento. Na sequência, o mesmo suposto cliente afirmou que a intoxicação seria devido ao consumo de salaminho. A incoerência nas informações levantou a suspeita de que se tratava de um golpe. O interlocutor deixou mensagens pedindo para falar com a proprietária, que não respondeu. Em agosto, a história foi um pouco diferente. Uma mulher alegou ter passado mal após consumir cenoura usada como ingrediente de uma polenta. Ela disse que era alérgica ao legume e que, mesmo sabendo da condição, o atendente não repassou a ponderação para a cozinha. O atendente, inclusive, negou que a situação tivesse acontecido.
A mulher exigiu um Pix de R$300 para cobrir uma consulta médica. Eloísa fez o pagamento. “Ela me mandou um comprovante de consulta com um osteopata. Estranhei, já que esse profissional não atende pessoas com crises alérgicas.” Osteopatas não são médicos, mas profissionais especializados em tratamentos que utilizam técnicas manuais para tratar condições como dores nas costas, problemas posturais, fibromialgia, entre outros. Também em agosto, Américo Piacenza, dono do restaurante Cantina Piacenza, que fica no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul, também foi vítima de um golpe. No caso dele, o suposto cliente ligou afirmando que a mãe havia sido hospitalizada após consumir um prato que continha pimenta-do-reino. O suposto golpista tentou pressionar os funcionários para falar diretamente com o proprietário, exigindo que custeassem os tratamentos médicos da mãe. Desconfiado do tom agressivo e das inconsistências nas informações, o gerente do restaurante decidiu investigar o caso. Quando ele retornou a ligação para fazer mais perguntas, o homem começou a se contradizer e, ao ser pressionado, encerrou a ligação. Os proprietários não chegaram a fazer contato com as autoridades para relatar as situações.
O golpe dos “chefes do tráfico”
Outro golpe que tem assombrado os donos de restaurantes é a ligação do falso chefe do tráfico. A situação já ocorreu em abril deste ano, no bairro Santa Tereza, na região leste de BH. Eloísa, dona do restaurante de Nova Lima, recebeu a ligação em setembro. Na conversa, o homem afirma que é chefe do tráfico na região e exige dinheiro, dizendo que precisa pagar o advogado. "Recebemos uma ligação no telefone fixo do restaurante. Quem atendeu foi meu irmão, e a pessoa disse que era o chefe do tráfico da região, afirmando que, se o problema não fosse resolvido, iria lá e resolveria 'na bala'. Não mencionaram um valor específico, mas disseram que o dinheiro seria para pagar um advogado. Meu irmão explicou que o responsável não estava no momento. Depois, compartilhamos o ocorrido nos grupos de restaurantes, e nos informaram que se tratava de um golpe. Ligamos para a polícia, que também confirmou que era um golpe e, por isso, não registramos boletim de ocorrência. Os policiais disseram que não havia necessidade," informou a proprietária.
O que diz a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG)?
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