Avião do governo de Minas decolou de Belo Horizonte com empresário, buscou o governador em Araxá e foi para Brasília

 
Por LUCAS RAGAZZI
 
Romeu Zema
Romeu Zema, governador de Minas Gerais  /  Foto: Moisés Silva

 

Dois dias depois de anunciar a venda de um avião do Estado para "acabar com a farra dos voos", o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), viajou a Brasília em uma aeronave do governo. O jato saiu do aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, às 8h15 levando o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, para, depois, buscar Zema em Araxá, sua cidade natal, onde o político passou o final de semana. O secretário geral do governo de Minas, Igor Mascarenhas, também estava entre os passageiros.

Zema chegou em Brasília por volta de 10h40 desta segunda-feira (25). Ao desembarcar, questionado pela reportagem se usava um avião do governo, o governador ignorou os pedidos de esclarecimento e se dirigiu a um dos três carros oficiais do Estado de Minas Gerais que estavam no local para receber a comitiva. 

Além de fontes próximas ao governador, um funcionário do aeroporto de Araxá confirmou que um avião do Estado, de prefixo PT-MGS pousou na cidade. A aeronave seria um Cessna 650 Citation VII, com capacidade para 11 passageiros.

O governo não divulgou quais os compromissos do governador na capital e ainda não respondeu aos pedidos para comentar o caso. Na agenda oficial, a assessoria informa apenas que ele está em Brasília. No entanto, a reportagem apurou que Zema participaria de um encontro da Agência Nacional de Mineração (ANM). No início da noite desta segunda-feira, o governador publicou uma imagem da reunião na ANM, lembrando os dois meses do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. "É preciso ter um olhar atento ao setor,  para encontrarmos o equilíbrio entre o meio ambiente, a segurança e o desenvolvimento econômico", disse Zema.

Mudança de rota

Durante a campanha, o governador Romeu Zema destacou que não iria usar os aviões do Estado e que, se precisasse se deslocar com urgência, utilizaria um taxi aéreo. Ele reiterou isso após ser eleito. "Eu quero acabar com isso, de que o governador tem que viver como uma majestade. Tem uma força aérea para o governador, pretendo acabar com isso, se precisar urgente eu vou de taxi aéreo”, afirmou ele em uma entrevist ao programa Adelor Lessa, da Rádio Som Maior no dia 8 de novembro do ano passado.

O governador deixou de ir à posse do presidente Jair Bolsonaro (PSL), alegando que não utilizaria aeronaves do Estado e que, por isso, não conseguiria chegar a Brasília a após a sua posse na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). "A campanha foi pautada na austeridade e no corte de mordomias, como à força aérea à disposição do atual governador, e seria uma incongruência já nas primeiras horas de mandato fazer uso dessa estrutura cara e que será cortada, como uma das primeiras medidas de contenção de despesas do governo eleito", disse Zema em carta enviada a Bolsonaro explicando ausência na posse.

No dia 8 de fevereiro, em vídeo no Instagram, o governador afirmou que "solicitou ao Gabinete Militar do Estado que todas as aeronaves que não sejam necessárias para o uso em casos emergenciais e pelas forças de segurança do Estado sejam vendidas". Ele garantiu que na gestão do partido Novo todos os voos serão comunicados no Portal da Transparência do governo. “No meu governo quero transparência, você vai saber onde cada real está sendo gasto”, disse Zema no vídeo.

No último dia 22, ao anunciar a venda do primeiro avião do Estado, Zema voltou a criticar o uso de aviões do Estado. "No meu governo não haverá espaço para esse tipo de mordomia, privilégios ou desperdício de dinheiro público. Nosso Estado passa por uma crise financeira gravíssima e tomarei todas as medidas possíveis para tirar Minas do vermelho", destacou, após anunciar que venderia as demais aeronaves.

Crítica

O deputado estadual Alencar da Silveira (PDT) criticou a decisão de Romeu Zema de usar o avião do Estado para buscá-lo em Araxá. "Engraçado, o Aécio foi criticado porque o avião buscava ele em Cláudio, na terra da família. Agora buscar em Araxá? O governador não ia só andar em avião de carreira? Não é oposição, só estou vendo o que ele prometeu na campanha. Se prometeu, tem que cumprir", disparou o deputado estadual.