Sob impacto da morte do neto do ex-presidente Lula, laboratórios particulares registram até 300% de aumento nas aplicações. Porém, vacinação disponível no SUS ainda está abaixo do recomendado
A procura por vacinas contra a meningite disparou em Belo Horizonte neste mês. Na rede particular, laboratórios sustentam que o aumento na aplicação de doses chegou a 300%. A corrida muito se deve à divulgação da morte do menino Arthur Araújo Lula da Silva, de 7 anos, neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocorrida no dia 1º deste mês. A doença que vitimou o garoto é considerada endêmica no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Em Minas Gerais, 50 casos da doença em suas várias formas já foram confirmados apenas em 2019, sendo que seis pessoas morreram. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza vacinas para proteção contra alguns tipos virais e bacterianos da moléstia (veja quadro). Algumas fórmulas não são ofertadas pela rede pública, apenas por laboratórios privados. Porém, o preço pode variar entre R$ 368 e R$ 595 por dose podem ser necessárias até quatro doses.
A meningite é caracterizada por um processo inflamatório nas membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, conhecida como meninges. Pode ser causada por bactérias, vírus, fungos e parasitas. “As meningites bacterianas são causadas por vários micro-organismos, entre os quais destacam-se o meningococo, o pneumococo e o hemófilos. Vários vírus, alguns fungos e outros agentes infecciosos também podem causar a doença. Os tipos se diferenciam pelo agente causador, assim como o tratamento específico para cada um”, explica Fernanda Barbosa, referência técnica em meningites e varicela da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG).
O neto do ex-presidente Lula foi diagnosticado com meningite meningocócica. Após a divulgação da morte de Arthur, uma grande corrida aos laboratórios particulares foi registrada em diferentes cidades. Em Belo Horizonte não foi diferente. No Laboratório Lustosa, segundo a assessoria de imprensa, a média diária de busca por vacinas contra a meningite B e a ACWY aumentou mais de 300% em março. Aumento também registrado no Laboratório Hermes Pardini. Em 2018, a média diária nas 19 lojas foi de 39 vacinas. Entre 1º e 6 de março, mesmo no período de carnaval, foram comercializadas 70,5 vacinas diariamente, aumento de 80%.
No SUS estão disponíveis doses que protegem contra alguns agentes causadores da doença. Entre elas está a BCG (meningite tuberculosa), a tríplice viral (meningite por sarampo, rubéola e caxumba), a vacina contra catapora (meningite por varicela), a vacina pentavalente (meningite por Haemophilus influenzae b em crianças abaixo de 5 anos de idade), a vacina meningocócica C conjugada (meningite meningocócica do tipo C) e vacinas pneumocócicas conjugadas 10 valente (meningite pneumocócica/10 tipos). O grupo corresponde ao conjunto de vacinas consideradas de interesse prioritário à saúde pública do país.
“É preciso lembrar, entretanto, que não existem, até o momento, vacinas eficazes disponíveis contra todos os sorogrupos de meningite meningocócica, nem contra todas as outras centenas de espécies de micro-organismos que também podem causar meningites. Assim, a vigilância constante e as medidas preventivas continuam sendo imprescindíveis para o controle dessas doenças, assim como para muitas outras”, ressaltou Fernanda Barbosa.
VACINAÇÃO Apesar da corrida aos laboratórios, a cobertura vacinal ofertada pela rede pública em Minas Gerais está abaixo da meta recomendada pelo Ministério da Saúde. De acordo com a SES/MG, a aplicação da meningocócica C conjugada está em 87,75% entre os menores de 1 ano, e 82,94% entre crianças de 1 ano completo. Já para a faixa entre 11 e 14 anos, a cobertura média é de 35%. Para a vacina pneumocócica, a proteção para menores de 1 ano é de 90,65%, e para aqueles com 1 ano completo é de 84,34%. “A Secretaria de Estado de Saúde reforça a importância de que os pais ou responsáveis levem crianças e adolescentes para atualizar a caderneta básica de vacinação”, informou a secretaria.
Em Minas foram registrados 50 casos de meningite em 2019, sendo que seis pessoas não resistiram. No ano passado, foram 1.005 casos confirmados e 132 mortes. A meningite meningocócica foi identificada em uma pessoa neste ano. O paciente morreu. Em 2018, foram 74 casos e 23 óbitos.
Casos já foram registrados também em Belo Horizonte. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, foram 12 notificações este ano. Dessas, um caso de meningococo, três casos virais e oito não especificados, sendo um do tipo bacteriano. Em 2018 foram 190 casos, com 23 mortes. Neste ano não há registro de óbitos na capital.