INSATISFAÇÃO
Processo seletivo para cargos de chefia piorou ainda mais a já ruim relação com a Assembleia
“Desastrosa”. É assim que parlamentares da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) avaliam a relação do governador Romeu Zema (Novo) com a Casa após serem informados nessa sexta-feira, por meio da imprensa, do anúncio do Executivo de que a indicação para cargos comissionados de subsecretarias, superintendências e diretorias do Estado não incluirá a interferência dos deputados. A insatisfação foi agravada porque, no início da legislatura, o secretário de governo, Custódio de Mattos, já havia garantido aos políticos que eles poderiam designar pessoas técnicas para chefias de órgãos regionais.
A seleção vai ser feita para 595 cargos de chefias nas administrações direta e indireta. A decisão final de quem vai ocupar o posto vai ser do gestor da área, que escolherá se vai considerar a opinião de políticos. Mas, para que a indicação seja autorizada, a pessoa designada pelo parlamentar precisa passar por todo o processo seletivo, que inclui diversas etapas.
A notícia despertou a ira até mesmo de quem faz parte da base governista na Casa. Eles queixam-se que esse vai ser mais um dos “inúmeros” recuos feitos pelo governador em seus cerca de 60 dias de gestão. “Ele acha que vai governar, aprovar projeto, como a reforma administrativa, sozinho? Ele vai vir aqui e votar? O tempo vai mostrar que é preciso de governabilidade. A questão não é só de cargos, mas sim da falta de diálogo”, disse um tucano.
A reportagem ligou para vários deputados governistas para tratar sobre o tema, mas a maioria deles não quis falar abertamente sobre o assunto porque espera que o comunicado seja feito oficialmente. Contudo, vários apostam que vai ocorrer com Zema o que aconteceu a nível federal com o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Isso porque em busca de apoio aprovar a reforma da Previdência, ele tem liberado cargos e emendas para os políticos.
Para aprovar projetos na Assembleia, Zema não precisa apenas do apoio do bloco de base, que tem 21 representantes. Pelo regimento, textos simples necessitam de, no mínimo, 39 dos 77 votos possíveis. Por isso, o governador vai precisar, principalmente, da ajuda dos dois blocos independentes do Legislativo, que juntos somam 40 representantes.
Avaliação
Líder de um desses blocos, o Liberdade e Progresso, Cássio Soares (PSD), diz que a falta de indicações políticas não fará com que ele coloque dificuldades no trato com o governador. Porém, ele pondera que nem todos os parlamentares terão esse posicionamento. “Da minha parte não (terá problema) porque a questão de indicação é uma prerrogativa do governo e essa prática, da participação dos deputados, é antiga. É claro que se o deputado tem uma sugestão técnica por conhecer a região e as pessoas, se eu fosse o governador eu olharia isso com bons olhos porque é uma sugestão de quem conhece melhor a região”, declarou.
Líder do outro bloco independente, o Minas tem História, Sávio Souza Cruz (MDB) afirma que não vê vínculo direto entre a falta de cargos e aprovação de projetos, mas que se preocupa com a reiterada demonstração do governo de “demonização da política”: “Se o governador precisasse ser exclusivamente um gestor, provavelmente a Constituição iria prever concurso público. Como prevê por meio de votação, o que se espera é que ele seja um líder político de dimensão nacional. Acho que estamos esperando ver gestos por parte do governador nessa direção, no sentido de liderar o Estado para fazer o que é mais importante para Minas”.