Em interrogatório, nesta quarta-feira (28), o delegado Rafael de Souza Horácio, acusado de ter matado o motorista de um caminhão-reboque Anderson Cândido de Melo em julho de 2022, em BH, justificou o crime por um suposto clima de tensão entre policiais. Ele disse que havia uma informação de que traficantes da capital planejavam um ataque geral contra instituições do Estado, o que o deixou em alerta. Estariam na mira dos criminosos investigadores, promotores e juízes.   

Essa possível conspiração armada em função de uma investigação especial que estaria ocorrendo teria sido a razão para o delegado descer da viatura descaracterizada e atirar no pescoço da vítima. O momento anterior havia sido marcado por um fechamento no trânsito e uma discussão, no Viaduto Oeste, no Complexo da Lagoinha, na região central de Belo Horizonte. Conforme o Ministério Público de Minas Gerais, a vítima estava sentada na cabine e o veículo se encontrava parado quando ela foi atingida.  

O próprio delegado acionou a Polícia Civil após o disparo. No segundo dia de júri, em interrogatório, ele afirmou que o motorista do caminhão teria jogado o veículo em cima do carro ocupado por ele. O policial teria buzinado, desviado o veículo e iniciado uma discussão. Porém, um laudo feito pelo Instituto de Criminalística (IC), da Polícia Civil, comprovou que o reboqueiro não acelerou o veículo em direção ao delegado. O caminhão trafegava a 31 km/h e ficou parado por cinco minutos ao perceber que os veículos teriam se colidido.  

O delegado justifica que estava em estado de alerta e por essa razão teria descido com a arma em punho, no que ele chamou de “uma abordagem técnica”, dando sinal e ordem para que o motorista desligasse o caminhão. Nesse momento, o caminhoneiro avançou para cima dele e só então disparou sua arma, por reflexo. “Tudo o que eu queria era que nesse dia não tivesse acontecido nada”, disse ao buscar a legítima defesa.   

O julgamento acontece nesta quarta-feira (28)  no Fórum Lafayette, no Barro Preto, região Centro-sul da capital mineira. No dia anterior, terça-feira (27), na sede do fórum na Raja Gabaglia, foram convocadas 10 testemunhas, porém, duas foram dispensadas e as oito ouvidas pela juíza Maria Beatriz Fonseca da Costa Biasutti Silva.  
   
O advogado que defende o réu, Fernando Magalhães, disse que esse foi mais um caso de desrespeito a autoridade, finalizado em legítima defesa. "Buscaremos esclarecer na justiça alguns pontos essenciais que provam que o Dr. Rafael agiu em legítima defesa, em razão de um avanço de um caminhoneiro contra ele", pontou.  
   
O delegado foi acusado de homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e por não dar chance de defesa à vítima.  O assistente de acusação Rafael Nobre, entretanto, refuta a teoria e vai tentar provar a culpa do réu.  
   
"Na qualidade de assistente de acusação, nossa expectativa é demonstrar e provar aos jurados tudo que realmente aconteceu, a verdade dos fatos, que foi um assassinato a sangue frio, por motivo extremamente fútil, que foi uma briga de trânsito. O delegado Rafael Horácio alega que teve uma fechada, mas não teve prova dessa alegação nos autos. Vamos demonstrar que foi um assassinato e não há o que se provar legítima defesa. Foi um assassinato a sangue frio no hipercentro de Belo Horizonte e espero que hoje seja feita justiça e que ele seja condenado nas penas da lei", afirma.  
   
A expectativa da acusação é que, se condenado, o delegado que já está preso, pegue 16 ou 17 anos de prisão. "A dosimetria da pena é aplicada pelo magistrado, mas como ele já tem condenação por disparo de arma de fogo na comarca de Alfenas (Sul de Minas Gerais), eu acredito que entre 16 e 17 anos de condenação", acrescentou Nobre.