Em meio à disparada de casos de coqueluche e ao registro da primeira morte pela doença desde 2019, Minas Gerais espera que o estoque da vacina tríplice bacteriana (DTP), que atua como reforço na imunização contra a doença, esteja normalizado em setembro. O estado sofre, em agosto, com a indisponibilidade do imunizante em algumas unidades de saúde, admite o subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Eduardo Prosdocimi.

Conforme o gestor, o problema foi causado pela dificuldade de compra do imunizante pelo Ministério da Saúde, junto a laboratórios. A vacina, prevista no Programa Nacional de Imunização (PNI) para ser aplicada aos 15 meses e aos 4 anos como dose de reforço, protege, além da coqueluche, da difteria e do tétano. “É uma falta pontual, em algumas unidades, mas nada estrutural. Minas já solicitou o envio de doses, e o ministério está se prontificando a enviar”, diz o subsecretário.

“Quando essas vacinas chegarem, vamos distribuí-las para as 28 regionais de saúde. Reforçamos à população para pegar o cartão e levá-lo para a unidade de saúde, que avaliará a situação”, prossegue. A falta do imunizante, reconhece o subsecretário, ainda que de maneira “pontual”, prejudica ainda mais os indicadores vacinais, que estão abaixo da meta do Ministério da Saúde de 95%.

Com relação à tríplice bacteriana DTP, a cobertura vacinal é de 83,73%, segundo dados da SES-MG, enquanto o percentual da vacina pentavalente, que também protege contra a coqueluche e é aplicada no esquema primário, dos dois aos seis meses, é de 83,50%.

O médico epidemiologista José Geraldo Leite Ribeiro acrescenta que as doses podem ser administradas tão logo as vacinas cheguem, contanto que as crianças estejam com menos de sete anos. Neste caso, passa a ser indicada outra vacina — a dTpa — que não está disponível no sistema público para crianças. “Nunca existe intervalo máximo entre doses de vacina. Sempre é possível fazer o reforço”, explica.

Surto de coqueluche
O aumento de casos da coqueluche — que saltaram de 14 em todo 2023 para 121 nos primeiros meses deste ano — preocupa o governo de Minas, que, apesar do estado de alerta, garante que ainda não é possível falar em possibilidade próxima de surto da doença. “Preocupa, porque é uma doença imunoprevenível e pode ser evitada com o uso da vacinação. Vale nossa recomendação: vacine-se”, comenta o subsecretário Eduardo Prosdocimi.

“É um momento em que precisamos ficar alertas e pedir a compreensão para a vacinação. Ainda não vemos a possibilidade de surto, mas há necessidade de recomendação do cartão de vacinação. Estamos falando de coqueluche, mas também tivemos vários casos de febre amarela, que é imunoprevenível. Todas as doenças que podem ser evitadas precisam da adesão da população”, acrescenta o subsecretário.

Apesar de ainda preocupar, os indicadores vacinais, que amargaram queda progressiva desde 2015, voltaram a crescer, segundo o subsecretário. “Estamos melhor em 2024 do que estávamos em 2023”, afirmou. O médico epidemiologista José Geraldo Leite Ribeiro explica que movimentos antivacina e a desinformação prejudicaram a imunização nos últimos anos. Apesar disso, ele compartilha do otimismo do gestor estadual.

“O trabalho realizado em Minas Gerais nos dá muita esperança de que as coberturas elevadas anteriores voltem a ser atingidas”, destaca o especialista.

Entenda a doença
Os sintomas da coqueluche costumam aparecer em três fases:

Fase catarral (1 a 2 semanas):
- Nariz escorrendo (Coriza)
- Febre baixa
- Espirros
- Tosse leve e ocasional com aumento gradual que segue a próxima fase

Fase paroxística (2 a 6 semanas):
- Tosse intensa e rápida, que pode durar vários minutos
- Tosse com um som característico de "guincho" ao final
- Vômitos após os episódios de tosse
- Fadiga extrema após os episódios de tosse

Fase de convalescença (semanas a meses):
- Redução gradual da tosse
- Episódios de tosse podem reaparecer com a instalação de outras infecções respiratórias

Tratamento:
Após a confirmação do diagnóstico com exames clínicos e laboratoriais, o tratamento é feito com antibióticos. Além de repouso, hidratação adequada e medicamentos para aliviar os sintomas. É indispensável manter o paciente isolado até o término do antibiótico para evitar a propagação da doença.

Transmissão:
A transmissão da coqueluche ocorre, principalmente, pelo contato direto do doente com uma pessoa não vacinada por meio de gotículas eliminadas por tosse, espirro ou até mesmo ao falar.

Esquema vacinal:
Três doses da tríplice bacteriana: aos dois, aos quatro e aos seis meses de idade. Depois, uma dose de reforço aos 15 meses e um segundo reforço aos quatro anos. Gestantes também devem receber a vacina a partir da 20ª semana de gestação para proteger o bebê

A vacina para adultos não está disponível pelo Sistema Único de Saúde, com exceção de gestantes e trabalhadores da saúde
O imunizante pode ser adquirido no serviço privado, por cerca de R$ 200, e a imunização dura de cinco a 10 anos.